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Universidade Federal de Goiás
Papo Musical

PAPO MUSICAL

Em 30/07/21 09:57. Atualizada em 09/08/21 16:25.

Francisco Mignone ou Chico Bororó: compositor, pianista, regente, professor, flautista

Gyovana Carneiro*

Francisco Mignone (1897-1986)

 

O pianista, flautista, regente e compositor brasileiro Francisco Paulo Mignone (1897-1986) iniciou os estudos musicais com o pai, o imigrante italiano Alfério Mignone, professor de flauta do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo (CDMSP).

Alfério Mignone

 

Aos 10 anos, Mignone começa a estudar piano com Silvio Motto. Com apenas 13 anos de idade, passa a atuar como flautista e pianista além de regente de orquestras no cinema.

O jovem músico participava de grupos de choro e compunha canções populares, assinando como Chico Bororó, obras essas, interpretadas por grandes nomes como o cantor Francisco Alves (1898 – 1952).

Francisco Alves (1898 – 1952).

 

Naquela época, a chamada “música erudita” não se misturava com a “música popular”.  Motivo pelo qual, Francisco Mignone, se viu obrigado a utilizar o pseudônimo de Chico Bororó.

Diplomado pelo Conservatório Dramático de Música de São Paulo em flauta, piano e composição, Mignone, começa apresentar suas primeiras obras sinfônicas, com enorme sucesso, indo, em seguida, prosseguir estudos em Milão na Itália.

Na Itália estuda com o compositor italiano Vincenzo Ferroni (1858 – 1934), ex-aluno do compositor francês Jules Massenet (1842 – 1912) no Conservatório de Paris, que o introduz nas técnicas composicionais francesas bem como na tradição operística italiana.

Vincenzo Ferroni (1858 – 1934)

 

De volta a São Paulo, em 1929, torna-se professor da instituição onde fora aluno, e se aproxima das propostas nacionalistas do ex-colega de conservatório, Mário de Andrade (1893 – 1945), de quem se torna grande amigo.

Mário de Andrade (1893 – 1945)

 

Em 1932, casa-se com Liddy (1891 – 1962), filha do afamado professor de piano Luigi Chiaffarelli (1856 – 1923). No fim do mesmo ano, muda-se para o Rio de Janeiro e passa a lecionar no Instituto Nacional de Música, desenvolvendo importante carreira acadêmica, formando regentes e compositores que se destacam no meio musical brasileiro, como Roberto Duarte (1941) e Ricardo Tacuchian (1939).

No ano de 1951 assume a direção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e integra a Academia Brasileira de Música.

Em 1963, já viúvo de Liddy, casa-se com a pianista paraense Maria Josephina (1923), com quem desenvolve frutífera parceria em recitais a quatro mãos e, é quem, até os dias de hoje,  aos 98 anos,  cuida do acervo e da divulgação da obra do compositor.

Maria Josephina (1923) e Francisco Mignone (1897-1986)

 

Os estudiosos dividem a obra de Francisco Mignone em duas fases: a primeira, sob influência italiana, na década de 1920, quando Mignone foi para Milão. (Ressalta-se que embora com forte influência italiana, nesta fase ele também compôs sobre temas brasileiros).  Já a segunda fase, repleta de influências do amigo Mário de Andrade é marcada por seu engajamento no movimento modernista.

Francisco Mignone em Milão na Itália (1921)

 

Um dos compositores mais profícuos do Brasil, Mignone destacou-se com suas obras sinfônicas, contribuiu de forma decisiva para a música vocal com os ciclos de canções sobre poemas modernistas de Manuel Bandeira (1886 – 1968) e Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987), bem como as peças baseadas em poemas e melodias folclóricas.

Destacou-se também na  composição de ópera, como Chalaça e O Sargento de Milícias, além dos bailados Quincas Berro d’Água O Caçador de Esmeraldas.

O principal marco da transição para o nacionalismo na obra de Mignone  é a composição do bailado Maracatu do Chico-Rei, em parceria com Mário de Andrade, inspirado em episódios da construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Salvador.

Atuando em várias vertentes, Mignone chega a abandonar os critérios composicionais nacionalistas e emprega a técnica dodecafônica, retomando o sistema tonal na década de 1970.

Francisco Mignone contribuiu enormemente para a literatura e repertório do piano brasileiro, destacam-se as Doze Valsas de Esquina, compostas entre 1938 e 1942, nas quais buscava reproduzir a maneira de tocar dos chorões.  Nessas obras, vem à tona o músico popular escondido no passado, estão aí o “brejeiro”  Chico Bororó

Francisco Mignone

 

Ouviremos uma gravação histórica disponibilizada pelo Instituto Piano Brasileiro.  O Concerto para piano e Orquestra de Francisco Mignone com a Orquestra Sinfônica Brasileira, solo do pianista Arnaldo Estrella (1908 – 1980) sob a regência do próprio compositor.

Arnaldo Estrella (1908 – 1980)

 

Observe a riqueza musical desse concerto brasileiro tão pouco tocado. Pela primeira vez no blog o vídeo vem com a partitura musical. Aproveite!

* Gyovana Carneiro é professora da Escola de Música e Artes Cênicas (EMAC) da UFG

O Jornal UFG não endossa as opiniões dos artigos e colunas, de inteira responsabilidade de seus autores.

Fonte: Secom-UFG

Categorias: colunistas