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Universidade Federal de Goiás
PORQUE O ESTADO IMPORTA

PORQUE O ESTADO IMPORTA

Em 04/08/21 13:15. Atualizada em 09/08/21 16:09.

Porque o IBGE Importa!

Tathiana Rodrigues Salgado*

Jorge Pires de Morais Neto*

A elaboração de um conjunto de conhecimentos objetivos, sobre diferentes aspectos sociais, econômicos e físico-naturais, foi, ao longo da história, uma prática presente em diferentes sociedades. Confúcio, filosofo chinês, relatou levantamentos estatísticos feitos na China, há mais de 2000 anos antes da era cristã (Memória, 2004). Augusto, imperador romano na Antiguidade, realizava recenseamentos periódicos com objetivos administrativos (Claval, 2014). Na Europa do século XIX, quase nenhum aspecto das sociedades escapou ao "olhar estatístico" dos Estado nações (Martin 2001).

No Brasil o levantamento sistemático de dados iniciou-se ainda no período imperial com a criação, em 1871, da Diretoria Geral de Estatísticas (DGE), responsável por realizar os recenseamentos gerais do Império. O amadurecimento dos serviços estatísticos brasileiros culminou com a criação, em 1937, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, o IBGE.  Naquele ano, a criação do órgão respondia às necessidades do Estado Novo de conhecer o imenso território nacional.

A criação do IBGE dava densidade e uniformidade às estatísticas, por meio da realização dos anuários estatísticos, dos recenseamentos populacionais e econômicos decenais, e da coordenação e sistematização do sistema cartográfico do país. O IBGE ainda contribuiu com a divulgação cientifica por meio das publicações periódicas do Boletim Geográfico, editado até 1978, e da Revista Brasileira de Geografia (ainda publicada). No momento, as pesquisa realizadas pelo Instituto podem ser acessadas por meio de várias plataformas digitais e produtos de divulgação.

A despeito de vários cortes orçamentários, o IBGE é responsável pela realização de mais de 100 pesquisas, com diferentes recortes temporais e espaciais, que levantam e sistematizam um grande volume de informações fundamentais para o conhecimento, organização e gestão do território. Os Censos e as estimativas populacionais, por exemplo, subsidiam a distribuição mais equitativa de recursos financeiros pelo território, como é o caso do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e do Fundo de Participação dos Estados (FPE). O modelo de distribuição de recursos prescinde da ciência sistematizada, a qual é reconhecida mundialmente, permitindo ao poder público atenuar as desigualdades territorial e regional, tarefa que seria muito mais extenuante sem a atuação do IBGE. 

Entre os atuais levantamentos realizados pelo IBGE destacam-se a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, a Pesquisa de Informações Básicas Municipais, o Censo Agropecuário, o Estudo da Região de Influência das Cidades e o Censo Demográfico Brasileiro. Esse último, sem exagero, é o mais importante levantamento sobre as condições socioeconômicas do país, pois demonstra a complexa, desigual e diversificada organização do espaço brasileiro em variadas escalas.

O contexto de crise sanitária, como a provocada pela disseminação da COVID-19 a partir do final de 2019, e a necessidade emergente de prover as regiões brasileiras com infraestrutura de saúde (UTIs, respiradores, remédios, oxigênio, etc), apontou a centralidade das informações estatísticas populacionais na escala municipal, essenciais para determinação dos grupos de risco, para a implementação de planos de vacinação e de medidas mitigadoras e preventivas de contágio.

Em certa medida, as sucessivas reclamações de autoridades sanitárias consubstanciadas no caráter permanente das migrações, revelam que a pesquisas do IBGE é ponto nevrálgico para a eficiência na distribuição de infraestrutra e recursos pelo território brasileiro. Sem exagero, entendemos que em tempo de escassez de vacina, a sua justa e atualizada distribuição georreferenciada salva vidas! E é exatamente por isso que compreendemos que o IBGE importa, porque não se trata apenas de levar a vacina, mas onde e em qual proporção levar, em cada recanto deste nosso país continental!

A coleta e sistematização de dados, como as realizadas pelo IBGE, por sua natureza, objetivos e complexidade, é, sem dúvida,  uma atividade estratégica e essencial para a administração pública brasileira, e é com base nesses conhecimentos que a esfera político-administrativa pode propor e executar políticas de intervenção no território. Portanto, uma eficiente estrutura de levantamento e sistematização de dados é condição sine qua non para o planejamento e a gestão pública, e, logo, para a promoção do desenvolvimento socioeconômico do país. 

Não apenas os órgão de gestão se beneficiam da sistematização de dados. Como destaca Claval (2014, p. 71), “o desenvolvimento da geografia teria sido difícil se não tivesse se beneficiado da coleta, da classificação e da publicação de uma massa crescente de dados pelos serviços públicos”, conclusão que, sem dúvida, podemos estender para outras áreas do conhecimento.

A manutenção e fortalecimento do IBGE é condição indispensável para uma gestão pública eficiente, transparente, democrática e comprometida com o bem-estar social. Nesse contexto, a erosão dos serviços públicos de levantamento de dados, verificada no Brasil nos últimos três anos,  manifestada principalmente pelos sucessivos cortes de verbas para realização do censo demográfico –  que deveria ter sido realizado em 2020, é motivo de preocupação para geógrafos, economistas, gestores públicos e todos aqueles que se preocupam com um desenvolvimento socioeconômico equilibrado e justo a todos. O “apagão estatístico” compromete a produção de vários índices e análises que subsidiam as políticas públicas de promoção social no Brasil. Em outras palavras, fazendo alusão à um jargão (“E conheceis a verdade e a verdade vos libertará”) muito utilizado recentemente, o Censo Demográfico é elementar para que a população brasileira conheça a “verdade” sobre o atual cenário socioeconômico na qual está inserida. É por isso que o IBGE importa!

 

Em tempo: a equipe do Observatório do Estado Social Brasileiro, em parceria com a UFG, UEG e Ifgoiano, esta desenvolvendo um amplo inquérito sobre as condições materiais (domicilares) do Ensino Remoto. Haverá um questionário específico para cada instituição público de ensino superior. Nos ajude a divulgar essa ideia. Esse o link para o questionário que vem sendo aplicado na UFG.

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdRbUfDSSKMZl7ZatXU4THQWOdtk_vCSrAQV5qOswymv6RD2w/viewform

 

CLAVAL, Paul. Epistemologia da Geografia. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2014.

Martin, Olivier. Da estatística política à sociologia estatística. Desenvolvimento e transformações da análise estatística da sociedade (séculos XVII-XIX). Revista Brasileira de História [online]. 2001, v. 21, n. 41 [Acessado 28 Julho 2021]

Memória, José Maria Pompeu. Breve história da estatística. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2004.

 

*Tathiana Rodrigues Salgado é doutora em Geografia, docente da Universidade Estadual de Goiás, Unidade de Porangatu e doordenadora do Observatório do Estado Social Brasileiro. Email: tathiana.salgado@ueg.br

*Jorge Pires de Morais Neto é bolsista de Iniciação Científica do CNPq / UFG. Email: jorge_pires@discente.ufg.br

Fonte: Secom-UFG

Categorias: colunistas Porque o Estado Importa Iesa