
Faculdade de Dança debate educação antirracista
Evento fez parte de seminário que também comemorou os dez anos da Faculdade de Dança da UFG
Nicolly Nathalia
“A terra é meu corpo, a água é o meu sangue, o ar é meu sopro e o fogo é o meu espírito”. Foi assim que Mirna Kambeba Omágua, professora e pesquisadora indígena da Faculdade de Artes Visuais (FAV), iniciou sua fala no último dia do VI Seminário da Licenciatura de Dança da UFG, que comemorou os dez anos do curso e, entre os temas, discutiu a educação antirracista. O encontro ocorreu de forma remota pelo canal UFG Oficial no início do mês e teve como tema: Dança e Educação: Realidades possíveis, criações de (re)existência. Que outros possíveis se anunciam?
O debate de encerramento teve a participação de Aline Serzedello Vilaça (UFG), Mirna Kambeba Omágua (UFG) e Princesa Ricardo e Edu Oliveira (UFBA), que discutiram o tema “O que podemos fazer juntos/as/es? Ensino, diversidade, antirracismo, interculturalidade e justiça social”. Um dos destaques do encontro foi a reflexão sobre os desafios da desconstrução dos estereótipos para se pensar coletivamente a educação antirracista.
De princípio, a professora da UFG, Renata Kabilaewatala, explicou sobre o processo de construção do conhecimento, agradeceu todos os professores que passaram pela Faculdade de Dança nesses dez anos e fez a apresentação dos convidados. A pesquisadora Mirna Kambeba destacou a luta dos povos originários no Brasil. De acordo com ela, é necessário desconstruir os estereótipos que foram criados da cultura indígena e, para isso, é fundamental que educadores tenham esse compromisso com a sociedade e respeito com essa cultura. Para Mirna, a educação que aprendemos na cidade, nas escolas e nas universidades vem com respostas prontas e é necessário ter uma escuta atenta para construir uma educação antirracista e levantar o facão pelo bem viver das mulheres, dos indígenas, dos quilombolas e de todas as pessoas que se consiga alcançar.
Por sua vez, Edu Oliveira (UFBA) contribuiu com o debate trazendo a história de Judith Scott, uma artista estadunidense, que nasceu com síndrome de Down. Segundo ele, Judith não falava pois era surda, mas nunca apresentou dificuldades em suas brincadeiras com sua irmã gêmea Joyce Scott. Porém sua família sempre encarou sua deficiência como algo “ineducável” e que geraria a incapacidade na realização de atividades comuns. Afastaram as irmãs e levaram Judith para uma instituição que a manteve por muito tempo. Após a morte de seus pais, Joyce se tornou tutora de Judith e a inscreveu em um programa de arte para pessoas com deficiência, a partir desse momento Judith se torna uma grande escultora, que encantou milhares de pessoas.
Para Edu Oliveria, o coletivo tem um papel fundamental no processo educativo, pois quando estamos unidos e juntos conseguimos sentir a dor do próximo. Nesse sentido, segundo ele, deixamos de ver as minorias como pessoas indefesas e passamos a notar que ser diferente não é um erro e que o normal é um padrão estipulado pela sociedade que vamos alimentando de alguma maneira.
Princesa Ricardo Marinelli, por sua vez, destacou o papel fundamental do corpo em movimento. Segundo ele, o encostar, o cheiro e o toque são ações para repensar os desejos e a insatisfação com o momento atual e com as circunstâncias que geram movimento. Princesa disse que a roda de conversa estava cheia de representatividade, cheia de história e de conhecimento capazes de promover o entendimento da magnitude da dança na luta e de como ela traz visibilidade a essas minorias.
Nesse momento de acolhimento e representatividade, Aline Serzedello Vilaça (UFG) começou a cantar “sim sou negro de cor, meu irmão de minha cor, o que lhe peço é luta, sim! Luta mais, que a luta está no fim”. Ela finalizou a roda com o debate sobre ancestralidade, tempo, origem, caminhos de mergulho e amor, compartilhou lutas e leituras necessárias para entender que juntos podemos nos movimentar e cuidar um dos outros. Aline diz que compreender o racismo enquanto estrutura e enquanto sistema também se faz muito importante, é entender que está impregnado no processo de colonização e de escravização e que ainda está em cena e que precisa ser combatido.
Fonte: Secom-UFG
Categorias: Arte e Cultura FEFD