INTERNET EDUCA
Arteducação inclusiva
Fernando Azevedo*
Ao se levar em conta o ser humano como ser social, inter-relacional, me chama a atenção à necessidade cada vez maior de políticas inclusivas permeadas por leis rigorosas que, ainda assim, por vezes negligenciadas pelas pessoas.
Esta questão merece análise de reflexão crítica sobre políticas educacionais - se excludentes, acabem por enfraquecer a presença da arte e seu ensino da educação básica à pós-graduação, vez que esta área de conhecimento tem como epistemologia tornar o humano mais humano, ao se buscar contribuir no alicerce de uma sociedade igualitariamente mais justa, demarcada pela alteridade bem como pela identidade cultural ao levar em consideração a relevância do desenvolvimento ontológico do ser.
Você já pensou como seria fascinante conhecer a história de um professor doutor, filósofo, arte/educador, de importante volume à área de arte/educação, autor de textos científicos como Viver a vida como uma obra de arte: por uma arte/educação que diz sim às diferenças (2017) ?
Neste conteúdo, com reflexões profundas em tempos de pandemia, compartilho contigo – caro leitor e leitora, conversa que tive com o Arteducador Dr. Fernando Antônio Gonçalves de Azevedo, que pelas memórias de sua vida, traz vida à um modus operante sui gêneris azevediano, filosoficamente inclusivo, generoso, crítico, reflexivo, libertador. Veja nas palavras de Fernando Azevedo:
“Venho fascinado desde criança pelo campo da Arteducação. [...]
Foi através deste campo que eu fui me sentindo incluido e encorajado a querer saber mais, porque sou disléxico.[...]
Depois de comprovado o problema – da dislexia, que dificultava a minha leitura das palavras, então fui para a escola das crianças excepcionais da APAE. Esta foi a escola mais importante, mais bonita da minha vida. Porque senão eu ia ficar como quem não aprende e lá eu fui dando um jeito... [...]
Lá não tinha a censura do que era feio, tudo era possível, tudo era uma maneira de aprender. [...]
Eu me lembro que na hora do lanche, era um galpão enorme, e todas aquelas crianças e algumas pessoas que já eram adultas e eram diferentes, porque tinha muita gente Down. [...]
A Minha melhor amiga era Maria Lucia, uma menina Down. [...]
Eu fui aprendendo a gostar e ter paixão por possibilitar a aprendizagem sem antes colocar a mão do preconceito.... Aquele que se traduz assim: você não aprendeu; ah, não! Não está bom, está muito feio. Tá muito pobre. Eu não me lembro na minha infância em ter escutado isso, embora antes de descobrirem que eu tinha essa “doença” eu apanhava bolo com a escova da minha mãe, do meu pai, porque toda a noite tomava a lição de nós filhos e eu ficava olhando para o desenho da lição, tentando inventar uma história plausível, na minha cabeça “louca de criança” para aquela imagem... Hoje eu fico pensando: eu já fazia leitura de imagem, sem saber que existiria no futuro a Abordagem Triangular, mas eu já fazia. Eu tentava criar uma situação de inteligência de ler através do desenho. Eu lembro muito disto. [...]
Depois que eu entrei na escola da APAE, até meu pai mudou o modo como tratar. [...]
Essa experiência é muito importante na minha vida, porque todas as vezes que eu vou pelo caminho do preconceito: “Aquela pessoa não sabe”, eu me lembro que não saber não é nenhum pecado. Não saber, apenas não saber e podemos saber se alguém chega perto e oferece possibilidades. [...]
A arte sempre trabalhou com o que não tem nome próprio, com o que não está instituído. A arte é um fluxo de possibilidades... Eu tenho percebido que a solidão, o próprio cuidado de se resguardar, tem possibilitado as pessoas de buscar entendimento na poesia, no cinema. [...]
As pessoas estão buscando a si próprias – é um grande momento de se colocar entre parênteses, de se colocar em discussão, pelo menos a gente sempre projeta aquilo que a gente sente.... [...]
Porque dentro as coisas estão meio partidas mesmo, e o lado de fora mostra também que estamos partidos... [...]
Estou falando de se colocar criticamente do ponto de vista filosófico... [...]
O importante é a gente ir alimentando a possibilidade de reflexão [...]
Na escola de crianças excepcionais não tinha essa hierarquia, éramos todos participantes de um grande projeto de viver, um grande projeto de aprendizagem... Hoje eu interpreto que elas também estavam a aprender... Eu me lembro muito, toda vez que eu conversava com D. Noêmia, até as entrevistas que eu fiz com a D. Noêmia, ela sempre disse isso: nós não sabíamos, nós estávamos aprendendo... E na verdade, nenhum educador sabe, nós estamos sempre aprendendo, porque se a gente se revestir do manto da sabedoria, a gente não vai ter possibilidade da tentativa e erro, da busca da descoberta, da frustração de não conseguir na primeira, na segunda, na terceira, enfim... [...]
Eu gostaria que essa conversa, fosse uma conversa pelo caminho da memória... [...]
Aprendi com Ecléa Bosi: A mentira é muito elaborada, a mentira não tem falhas, a mentira não tem lacunas, enquanto a verdade da memória tem falhas, tem lacunas, tem não saberes, tem quase saberes, tem esquecimento de saberes... então eu quero caminhar nessa conversa pelo caminho da memória....
Experiencie, como eu experienciei, caminhamos de Fernando Azevedo, assistindo na íntegra esta conversa registrada em vídeo:
Deixe pergunta, reflexão nos comentários abaixo deste vídeo. Assim, continuamos este assunto.
E já pensou você poder estar ao vivo interagindo com Fernando Azevedo? Fica a dica: Fernando Azevedo, com nomes de destaque proeminentes na arte/educação como a professora Dra. Maria Christina de Souza Lima Rizzi e Me. Mauricio Virgulino Silva estão oferecendo minicurso Online, de três encontros de 2 horas cada, intitulado Abordagem Triangular do Ensino das Artes e Culturas Visuais: Percursos e Conexões pelo Mão na Massa 2021 no II Congresso Internacional Online entre Arte, Cultura e Educação com o tema Reconexões da Abordagem Triangular no Ensino das Artes. Confira a programação deste congresso clicando aqui e acesse o formulário de inscrição. Abertura deste congresso em 19 de outubro de 2021. As vagas são com tempo limitado.
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*Fernanda Cunha é professora da Escola de Música e Artes Cênicas (Emac) da UFG
Fonte: Secom-UFG
Categorias: colunistas Emac