Icone Instagram
Ícone WhatsApp
Icone Linkedin
Icone YouTube
Universidade Federal de Goiás
Música

De onde vem aquela música?

Em 25/03/22 10:54. Atualizada em 13/04/22 14:48.

Na palestra de abertura da I Semana do Cérebro Musical, Renato Sampaio, da UFMG, explora os potenciais da música como tecnologia transformativa

João Pedro Santos Ferreira*

Na última quarta-feira (16), foi realizada a abertura da I Semana do Cérebro Musical, um projeto interdisciplinar organizado pela Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás (Emac/UFG), que tem como principal objetivo ampliar a conscientização da população em geral sobre os vários benefícios que provêm das pesquisas sobre neurociência e música. A palestra de abertura, intitulada “De onde vem aquela música?”, foi ministrada pelo professor Renato Sampaio, doutor em Neurociências pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Antes de passar a palavra para o palestrante, o professor Eduardo Meirinhos, atual diretor da Emac/UFG, destacou a importância de um evento como a I SCM. “Projetos inéditos, como esse aqui, é como se fizessem parte do DNA da Escola”, afirma. “A Escola tem não somente um dever, mas um imenso prazer em apoiar e fomentar projetos como esse. Especialmente pelo fato de projetos como esse envolverem a comunidade como um todo, e não somente a comunidade acadêmica. Eu acho que esse é um fator muito importante, porque as artes são essencialmente extensionistas e a saúde também está sendo extensionista. A Emac é um espaço de arte e de saúde, e sem essas duas coisas, não existe humanidade”, disse.

cobertura emac

Dando início à palestra em si, Renato Sampaio explicou um pouco sobre como surgiu o tema abordado. “A minha primeira ideia era abordar o assunto a partir de uma circuitaria neuronal, mas logo em seguida, eu pensei na questão da necessidade da música, de onde ela vem enquanto demanda, enquanto uma necessidade existencial, enquanto algo que sou impelido a fazer para me realizar como ser humano”, afirma. Ao lidar com essa necessidade, o palestrante se lembrou de uma carta escrita pelo poeta alemão Rainer Maria Rilke sobre a necessidade do fazer artístico, incluída no livro “Cartas a um jovem poeta”. “O Rilke fala pra ele: ‘Investigue o motivo que o manda escrever. Examine se você entende as raízes pelos recantos mais profundos da sua alma. Se você é forçado a escrever. E se essa resposta for positiva, então construa sua vida de acordo com essa necessidade’”.

Em seguida, Renato afirma que há tanto uma necessidade individual quanto uma necessidade coletiva em relação à música, contendo um componente social muito forte. “Existem muitos estudos sobre antropologia da música que vão perguntar ‘Por quê a música vingou?’, ‘A quem a música serve?’ Talvez, o principal motivo pelo qual a música não foi criada, mas pelo qual ela persiste sobre a humanidade seja a questão do contato social. A partir da nossa experiência musical, eu posso compartilhar o meu ser no mundo com uma outra pessoa. Eu posso ser no mundo com o outro na música”, explica.

Inclusive, o palestrante ressaltou a importância e a necessidade da música nos tempos de pandemia. “A gente viu aí, no início da pandemia, naquele período onde a gente tinha aí um isolamento maior, mais grave, os músicos indo para suas sacadas e tocando para poder estar em contato com seus vizinhos, proporcionar não só para si mesmo, mas também para seus vizinhos uma recuperação de um tipo de contato social que foi comprometido por causa do isolamento necessário para a preservação da vida nesse momento inicial da pandemia”, afirma Renato, que destaca o quanto a música facilita o nosso contato com os outros.

“Todo ser humano, independente de cultura, independente de treinamento musical específico ou não, ele tem uma musicalidade inata, ele tem uma possibilidade de fazer música, de vivenciá-la e ser afetado por ela, e isso depende de uma coevolução genética-cultural”, explica o palestrante, ressaltando que o conceito de “dom” e “talento” passa a ser menos relevante com isso em mente. “Se eventualmente pessoas que tinham habilidades musicais lá na pré-história tinham uma condição melhor de convivência dentro da comunidade, muito provavelmente, isso foi sendo, por meio da seleção natural, passado para as gerações futuras, de modo que essa habilidade se alastrou e permanece até os nossos dias”, complementa.

Em seguida, o palestrante citou alguns usos da música. Vantagens como regulação e autorregulação emocional, estímulo e organização do movimento, favorecimento da memória e recordação e expressão de conceitos e ideias são algumas que foram citadas. “Por exemplo: uma mãe ninando seu bebê. Ela usa a música para acalmar esse bebê, para poder facilitar o sono dele. A gente também tem uma autorregulação emocional. A gente sabe, por exemplo, que determinados tipos de música em determinados momentos nos ajudam a fazer uma atividade física mais repetitiva. E muitas vezes, o movimento vai ser organizado pelo tempo musical”, exemplifica.

Perto da conclusão, Renato tira algum tempo para responder à pergunta que dá o título à palestra. De onde vem aquela música? De acordo com o palestrante, ela vem simultaneamente do passado, a partir de um desenvolvimento filogenético e ontogenético, do presente e do futuro, a partir de uma necessidade existencial. “A gente tem esse passado, que nos constrange, que nos coloca de um determinado modo no mundo, aqui e agora. Mas ao mesmo tempo, eu tenho um presente e um futuro, e aí a gente volta para aquilo que a gente estava falando de uma necessidade existencial. Nós temos uma necessidade de agir criativamente para encontrar resoluções possíveis para demandas que se impõem a nós aqui e agora, explorando caminhos e favorecendo a emergência de novos modos de vir a ser”, conclui. A I Semana do Cérebro Musical foi realizada entre os dias 16 e 18 de março de 2022. Todas as palestras estão disponíveis gratuitamente no canal do YouTube NeuroMus UFG, o qual você pode acessar aqui.

*João Pedro Santos Ferreira é estagiário de Jornalismo, sob supervisão de Kharen Stecca e orientação de Silvana Coleta

Fonte: Secom UFG

Categorias: Arte e Cutura Emac