
Especialista do HC-UFG fala sobre as sequelas cardiovasculares da Covid-19
Professor da UFG e chefe do serviço de Cardiologia do HC-UFG/Ebserh, Aguinaldo Freitas Jr. alerta para sintomas como dor no peito, febre e dores de cabeça, que podem ser sinais de complicações cardiovasculares pós-Covid
Quais sequelas cardiovasculares podem ser deixadas pela Covid-19?
Aguinaldo Freitas Júnior -A Covid-19 é uma doença infecciosa, causada por um vírus, mas também uma doença inflamatória. Assim, o indivíduo acometido pela Covid-19 desenvolve uma reação inflamatória muito importante. E essa inflamação pode afetar não somente o músculo do coração, mas todo o sistema cardiovascular (artérias, veias e órgãos associados ao sistema cardiovascular).
Quando essa inflamação acomete diretamente o músculo do coração, nós temos uma “miocardite”, que é a inflamação do coração. A miocardite pode se apresentar de forma leve, com sintomas como dor no peito e febre, mas pode também evoluir para casos graves, levando a completa falência do musculo do coração e a uma insuficiência cardíaca, que é uma doença muito grave. Nestes casos, o indivíduo pode ter cansaço, sentir falta de ar e ter queda do rendimento para fazer as atividades do dia a dia.
Além da miocardite, a Covid-19 está associada a um aumento do número de fenômenos tromboembólicos, ou seja, é uma doença que tem predisposição para formar coágulos. Esses coágulos podem acometer veias, levando a trombose, e acometer as artérias, levando a embolia pulmonar, infarto do miocárdio e derrame cerebral, que é o AVC isquêmico, dependendo de onde esse coágulo for parar. Então, são sequelas dos fenômenos tromboembólicos associados a Covid: o infarto, derrame, embolia pulmonar e trombose.
Além disso, a gente tem visto muito na prática clínica um aumento do número de hipertensos. Uma coisa curiosa é que é impressionante o número de pessoas com hipertensão descontrolada pós-Covid. Ou a Covid mostrou que o paciente era hipertenso e não sabia ou aqueles pacientes que eram hipertensos tornaram-se descontrolados. Mas o que a gente tem visto nos consultórios é que, depois da Covid, o paciente que não era hipertenso se tornou hipertenso e o paciente que era hipertenso controlado tem tido pressão arterial muito descontrolada e de difícil controle.
Então, basicamente as sequelas cardiológicas da Covid são: aumento de fenômenos tromboembólicos, com embolia pulmonar, AVC, trombose e infarto; aumento do número de hipertensos e a miocardite, que pode evoluir com a insuficiência cardíaca.
Quem pode apresentar sequelas pós-Covid?
Aguinaldo Freitas Júnior -Qualquer paciente. Já cuidamos de um jovem de 22 anos com miocardite, assim como cuidamos de uma embolia pulmonar em uma jovem atleta de 34 anos assim e de uma insuficiência cardíaca e um infarto em um senhor de 70 anos. Todo paciente está sujeito, lembrando que os pacientes vacinados ou aqueles que já tem uma imunidade por infecção prévia de Covid tendem a ter menos complicações cardiovasculares do que os pacientes não vacinados ou que não tenham uma certa imunidade.
Quais cuidados tomar para diminuir as chances de ter sequelas cardiológicas?
Aguinaldo Freitas Júnior - Primeiro, se imunizando. O paciente imunizado tem um risco menor de ter casos mais graves de Covid. Segundo, controlando as suas comorbidades, ou seja, se o paciente já era hipertenso, mantendo a pressão arterial controlada; se já era diabético, mantendo o diabetes controlado.
Terceiro e uma coisa muito importante: a Covid dá vários sintomas – queda de cabelo, dificuldade de memória, cansaço, alterações em vários órgãos, mas uma coisa que ele não dá é dor no peito. Então, se o paciente, infectado por Covid ou após a infecção por Covid, tem dor no peito, ele precisa procurar ajuda. Se o paciente tem cansaço pós-Covid, pode ser a Síndrome da Fadiga Crônica, mas pode ser também um comprometimento grave do coração.
Então, se depois de ter Covid, você tiver dor no peito, investigue. Se você tiver febre com dor no peito pós-Covid, investigue. Se você está tendo cansaço, falta de ar e inchaço, em vez de atribuir isso ao sedentarismo ou a alguma infecção, não custa nada investigar. E essa investigação é simples. Em uma boa consulta ao cardiologista, ele consegue te examinar adequadamente para saber se houve alguma repercussão cardíaca. Ele pedirá no máximo uns exames simples, como um eletrocardiograma, um ecocardiograma e talvez um Raio-X de tórax, para que ele consiga fazer um diagnóstico de complicações cardiovasculares.
Quais são os sintomas das sequelas pós-Covid?
Aguinaldo Freitas Júnior -Depende das sequelas. Se for uma miocardite, que é a inflamação do músculo do coração, os sintomas são dor no peito e febre. Se o paciente tiver estes sintomas durante a infecção por Covid ou em até três meses pós-Covid, ele deve investigar.
Se a complicação foi insuficiência cardíaca, o paciente pode ter cansaço para fazer atividades do dia a dia, como tomar banho, caminhar, além de falta de ar e inchaço.
Dor de cabeça e dor na nuca, parecendo que a cabeça está pesando uns 10 quilos a mais, pode ser descontrole da pressão arterial.
Se o indivíduo tiver batedeiras ou palpitação no coração, além da miocardite, pode também ser arritmias.
Então, diante destes sintomas, em vez de atribui-los a uma síndrome da fadiga crônica pós-Covid, é importante fazer uma investigação para descartar complicações cardiovasculares da Covid.
Quando procurar avaliação do cardiologista?
Aguinaldo Freitas Júnior - Se o indivíduo tiver qualquer um destes sintomas e eles forem recorrentes após a infecção por Covid, deve-se procurar uma avaliação cardiológica. A intenção não é alarmar, mas sim informar e esclarecer a população. Se você teve Covid leve, é um paciente jovem, sem comorbidades e você evoluiu bem, ou seja, não tem sintomas nenhum, não há necessidade de procurar um cardiologista ou fazer uma consulta médica.
É preciso fazer alguma investigação para voltar a fazer atividades físicas pós-Covid?
Aguinaldo Freitas Júnior - Se você teve somente sintomas leves, é um paciente jovem, imunizado, não tem nenhuma comorbidade e não está sentindo nada, não é necessário. Agora, se você está sentindo algum sintoma que tem limitado a sua capacidade física ou apresentado sintomas que repercutem no seu dia a dia, vale a pena procurar uma avaliação cardiológica.
Essas sequelas são permanentes?
Aguinaldo Freitas Júnior - Algumas sim, outras não. Fenômenos tromboembólicos são situações agudas. Um infarto, um AVC, uma trombose, podem deixar sequelas.
A insuficiência cardíaca é uma doença que não tem cura. O paciente fica com sequelas. Existem vários centros na Região Centro-Oeste, como o Hospital das Clínicas da UFG, que oferecem tratamento e o paciente desenvolve bem. Portanto, algumas sequelas são permanentes sim, mas têm controle e tratamento. O fato de algumas sequelas serem permanentes não quer dizer que não haja tratamento e que o indivíduo não possa levar uma vida normal.
O nosso objetivo aqui, portanto, é esclarecer sobre as definições das sequelas cardiovasculares pós-Covid, quando procurar um auxílio, o que fazer e é extremamente importante que todos estejam atentos a esses sintomas.
Aguinaldo Freitas Júnior - Chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital das Clínicas da UFG/Ebserh e Professor Associado da Faculdade de Medicina da UFG
Fonte: Secom UFG