
"Os trabalhos da periferia são capazes de interferir nas realidades"
Profa. Walquíria Pereira Batista lança o livrou o livro Histórias do teatro em Goiás, pela editora Kelps
Entrevista: Eduarda Leite
Por que você resolveu escrever sobre o tema?
Como docente da disciplina de Teatro Goiano (ofertada pela Emac/UFG, nos cursos de graduação em Teatro e Direção de Arte), percebi uma grande lacuna bibliográfica nesta área. Promovemos muitos seminários nas várias edições da disciplina, ao mesmo tempo em que cadastrei projetos de pesquisa e extensão para me dedicar mais a esse campo de investigação. O recorte no entorno de Goiânia surgiu após tomarmos conhecimento de vários artistas e grupos que atuam nessa região e desenvolvem trabalhos importantes para suas comunidades. No entanto, tais sujeitos e objetos ainda são pouco conhecidos e reconhecidos como temas de pesquisa. Outro aspecto que motivou o nosso estudo foi o conhecimento de TCCs acerca do teatro goiano, trabalhos monográficos de contribuição valiosa, mas que ficam engavetados em armários ou pouco vistos em mídias digitais. No lugar em que me encontro como docente e pesquisadora, é um dever interferir nessa realidade de produção de conhecimento acadêmico.
Como você se sente sabendo que o seu livro será lançado?
Sinto-me bastante gratificada, em condições de difundir para um público leitor mais amplo o que pesquisei durante o período de 2015-2021. Pretendo contribuir com a divulgação do teatro goiano e com a preservação de sua história e memória dentro e fora da universidade. É emocionante voltar o olhar para dentro, redescobrir o nosso próprio chão, em um contexto de formação profissional em Artes Cênicas que, não raro, impulsiona o movimento inverso.
Como foi a sua experiência conhecendo os diferentes grupos teatrais?
Aprendi muito com todos os grupos estudados. Conheci a realidade do teatro em contexto de periferia que às vezes só pesquisamos e discutimos a partir de autores e obras de referência. A periferia é um lugar negado, esquecido e desprezado pela concepção burguesa de cidade. Boa parte da mídia reforça, com os seus noticiários diários, olhares depreciativos para a periferia, como lugar do crime, do tráfico, da prostituição e de todas as formas de violência. De repente, me dei conta de que o que as localidades periféricas produzem de melhor, em termos de arte, e não é muito notado, e são trabalhos capazes de interferir em suas realidades. Outros grupos me ensinaram o quanto é socialmente significativa a cena no interior goiano, inclusive a mais próxima da nossa capital, que consegue abarcar diferentes classes sociais, faixas etárias, etnias, religiões, gêneros e orientações sexuais em um mesmo trabalho artístico. Além disso, me dei conta da importância da escola como espaço de promoção da arte teatral, em disciplinas, oficinas e/ou eventos, produzindo ainda novos artistas e plateias mais críticas.
Como você espera que os leitores sejam impactados pela sua obra?
Espero contribuir com a valorização e memorização do teatro goiano, não apenas apresentando resultados de pesquisa, mas também provocando novos temas de investigação.
Objetivo, assim, ampliar o debate sobre o teatro goiano, difundindo temas e problemas ainda pouco visitados em nossa historiografia. Pretendo contribuir com futuras pesquisas acerca do teatro brasileiro e do teatro goiano em particular, registrar a nossa memória e tecer, aos poucos, a(s) história(s) do nosso teatro. O trabalho busca convidar o leitor, pesquisador ou leigo no assunto, a saber mais sobre nós mesmos. Desejo que o material também possa agregar à pesquisa histórica de Goiás, estendendo-se para outros estudiosos de nosso estado, do Centro-Oeste e de todo o Brasil.
Categorias: Arte e Cultura