
Imprensa Universitária da UFG completa 60 anos em 2022
Em comemoração, acervo do Jornal 4° Poder poderá ser instalado na Hemeroteca do IHGG
A reitora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Angelita Pereira de Lima, esteve na sede do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG) para conhecer a recém-instalada hemeroteca, que tem o objetivo de reconstituir a história dos periódicos goianos e torná-los acessíveis a toda a população. Como a Imprensa Universitária da UFG completa 60 anos em 2022, a Universidade e o Coletivo de Comunicadoras Koskatl iniciou tratativas para contribuir com a ampliação do patrimônio da hemeroteca: instalar o acervo documental do jornal 4º Poder nas dependências do IHGG.
Há seis décadas, o então ministro da Educação, Darci Ribeiro, visitava Goiânia para participar da inauguração da Imprensa Universitária da UFG, considerado o maior parque gráfico da região Centro-Oeste nos anos 1960. Lá eram editadas as publicações da Universidade a partir de equipamentos importados da Alemanha, modernos para a época, como impressoras tipográficas, linotipo e off-set. Havia também uma unidade para encadernação e acabamento geral. O primeiro veículo de comunicação da UFG, Jornal 4º Poder, foi impresso e lançado na inauguração do parque gráfico, com sua primeira edição datada de 17 de dezembro de 1962.
A professora aposentada da Faculdade de Letras, Moema de Castro Silva Olival (1933-2021), contou em entrevista ao Jornal UFG, alguns fatos importantes sobre a vida pública de seu pai, Colemar Natal e Silva, o primeiro reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG). Moema explicou o que representava para ele o Jornal 4º Poder: “Meu pai foi um grande incentivador da imprensa universitária. Tanto que criou o 4º Poder – um jornal opinativo, crítico. Em 1964, presenciei um fato marcante: a chegada de um telegrama, enviado pelo governo federal, ordenando que o reitor fechasse o jornal. Para os políticos da época, o impresso disseminava os ideais comunistas. Esse foi o maior pesar de Colemar: o fechamento arbitrário do 4º Poder”.
Um dos fundadores da Faculdade de Engenharia, o professor aposentado Orlando Ferreira de Castro (1923-2021), também destacou a importância do impresso em entrevista ao Jornal UFG: “Este material é muito rico em informações. Nele você encontra partes importantes da história de Goiás e, mais especificamente, da UFG”. A fala de Orlando refere-se a um apelo que ele fez na época para que as pessoas que possuíam as edições do jornal fizessem uma doação à universidade, pois acreditava na relevância de se manter esse material em domínio público.
Com a primeira edição publicada em 17 de dezembro de 1962, o Jornal 4º Poder tinha característica essencialmente noticiosa e circulava tanto dentro quanto fora da Universidade. É o que revelou o assessor de imprensa de Colemar, Geraldo Lucas, que atribui ao 4º Poder a denominação de “veículo de divulgação do amplo pensamento humano”. Geraldo Lucas revelou que o nome do jornal foi ideia de Darci Ribeiro. A inspiração para o nome veio da ideia de que os veículos de comunicação exercem tanta influência na sociedade que poderiam ser denominados de “4º poder”.
O impresso, inaugurado em 1962 e produzido até 1964, era composto por “notícias e debates de interesse tanto para a comunidade universitária como para Goiânia”. Sem tiragem definida, já tinha conquistado leitores em Goiânia ao abordar temas como transporte coletivo, movimento sindical e reforma agrária. A edição de 03 de maio de 1964 parece ter sido a última, publicada antes que o telegrama mencionado por Moema fosse recebido por seu pai, Colemar, encerrando assim a curta trajetória do 4º Poder.
De acordo com o professor Orlando, esse jornal é importante registro da época, pois trazia artigos científicos e políticos, notícias culturais e do cotidiano da UFG. Para o professor, ele “foi fechado porque divulgava pensamentos que contrariavam a ordem estabelecida pela Revolução. Porque divulgava ideias consideradas a favor do comunismo. Porque falava sobre reformas agrária e universitária. Por isso e muito mais, o jornal teve que ser calado”.
A difusão cultural, a liberdade de ideias e o debate eram as propostas da Imprensa Universitária e do jornal 4º Poder. Editado nos anos de 1962 até 1964, o periódico teve 74 edições lançadas e foi considerado um lócus de resistência cultural. Nesse período, a intelectualidade goiana se reorganizava e criava novas possibilidades de atuação e de formações culturais que exercitassem a autonomia e a independência intelectual. Entre os editores, colunistas e repórteres do jornal constavam vários patronos, sócios e atuais titulares do IHGG, como Zoroastro Artiaga, A. C. Ramos Jubé, Bernardo Élis, Horieste Gomes e Gilberto Mendonça Teles.
O acervo
A estruturação do acervo documental oportuniza o resgate histórico, a difusão e a valorização da literatura, da cultura e da memória não só do parque gráfico da UFG, como também da consolidação da Imprensa Universitária, do jornal 4º Poder e de seus colaboradores. O projeto de digitalização do acervo foi vencedor do Concurso N.º 13/2021 Secult Goiás - Letras - Lei Aldir Blanc 2021, na categoria Apoio às Atividades de Livrarias, Sebos e Coletivos Literários e Culturais.
Proposto pelo Coletivo de Comunicadoras Koskatl, a coleção vem sendo estruturada desde o ano de 2016 por Ana Clara Britto e Luisa Guimarães, bisnetas do escritor goiano Francisco de Britto e netas de Élbio de Britto Guimarães, servidor da Imprensa Universitária e repórter do Jornal 4º Poder. A coleção privada, reunida por meio de doações, atualmente totaliza 55 edições completas. Publicadas há quase 60 anos, são consideradas documentos primários de inegável valor cultural, histórico e social e não existem em outras bibliotecas brasileiras.
Os exemplares reunidos estavam inadequadamente armazenados e as condições ambientais e temporais também aceleravam seu processo de degradação, panorama que recomendou urgente intervenção de preservação emergencial.
Fonte: Secom, com informações do Coletivo de Comunicadoras Koskatl
Categorias: Institucional