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Universidade Federal de Goiás
arroz feijão

Valor dos alimentos é afetado pela volatilidade de produtos agropecuários

Em 06/09/22 08:55. Atualizada em 20/09/22 09:52.

Pesquisa da UFG constata que mercado de commodities influencia preço final da cesta básica

Geovanna Pires

A crise alimentar ocorrida entre os anos de 2007 e 2008, resultou num aumento expressivo nos preços dos alimentos básicos e, consequentemente, intensificou o debate sobre a volatilidade nos valores desses alimentos. Considerando isso, a pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Agronomia (PPGA) da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos (EA) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Kellen Cristina Campos Fernandes, comprovou que o preço dos alimentos está relacionado ao valor de comercialização das commodities brasileiras. 

Commodities são produtos oriundos da agropecuária ou da extração mineral que não passam por processos de industrialização, produzidos em grande escala e destinados ao comércio internacional. “Geralmente, são produtos padronizados e comercializados em bolsas de valores. Seus preços são ditados de acordo com a demanda do mercado. No caso da minha pesquisa, estamos falando de produtos agropecuários de maior valor comercial e voltados para a grande produção, como o algodão em pluma, soja, milho e boi gordo”, explica a pesquisadora.

Para a pesquisa, Kellen escolheu analisar as quatro principais commodities produzidas no Brasil — algodão, boi gordo, soja e milho. Foi utilizado também a base de dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), uma vez que o órgão faz uma análise do preço dos produtos da cesta básica por capitais na forma de série histórica. Desta forma, Kellen verificou o impacto do mercado dessas quatro commodities diante do preço de treze alimentos da cesta básica em Goiás: carne, leite, feijão, arroz, farinha de trigo, batata, legumes (tomate), pão francês, café em pó, frutas (banana), açúcar, óleo de soja e manteiga. 

A pesquisa demonstra que, por exemplo, existe um equilíbrio de longo prazo entre os preços do boi gordo e o valor da batata, da carne, do feijão, do leite e do tomate. “Isso representa um padrão de simetria na transmissão de preços entre esses mercados, ou seja, as alterações de preço no mercado de boi gordo é transferida na mesma medida nos preços desses produtos”, afirma Kellen. Em contrapartida, há também um padrão de assimetria entre esses preços, também chamado de transmissão de risco. Isto porque, conforme verificado, a alta dos preços são repassadas mais rapidamente do que as quedas, como no caso do mercado do milho, já que sua volatilidade transfere risco para a frequência de variações nos preços da maior parte dos alimentos da cesta básica, exceto açúcar e farinha de trigo. 

Os resultados da pesquisa identificaram que, de fato, os mercados de alimentos são afetados pelos mercados de commodities agropecuárias. “Um dos produtos que mais chamou atenção foi o feijão. É um produto que sofre influência de todas essas commodities e que no mercado é um produto que oscila bastante de preço”, destaca a pesquisadora. 

Metodologia

Kellen aplicou o teste de cointegração de Engle e Granger, o teste de cointegração de Johansen e os modelos TAR e M-TAR para verificar a existência de cointegração entre as séries de preços das commodities agropecuárias e dos alimentos. Os modelos TAR e M-TAR também foram utilizados para verificação da existência de assimetria na transmissão de preços. O teste de causalidade de Granger emparelhado também foi utilizado para analisar preços das commodities agropecuárias sob os preços dos alimentos. Para verificar as possíveis transmissões de volatilidades entre os mercados de commodities agropecuárias e o mercado de alimentos, foi aplicado o modelo BEKK.

Relevância Social

Entre os anos de 2007 e 2008, o mundo se viu diante de uma crise alimentar muito séria que resultou na alta de preços dos alimentos. Essa alta impactou de maneira significativa a vida das pessoas e colocou em risco a segurança alimentar de várias famílias, conforme explicado por Kellen. Como grande exportador de alimentos, o Brasil não sentiu tanto os efeitos dessa crise, mas ainda assim sofreu com alguns impactos. Em 2022, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o país voltou a ocupar um lugar no mapa da fome. Os resultados da pesquisa atestam que não são somente as políticas públicas as responsáveis pelas alterações nos preços dos alimentos básicos. 

“O Brasil é um grande produtor exportador de commodities. Somando as especulações do senso comum com as análises aqui feitas, o impacto poderia ser muito mais significativo. Em geral, o agronegócio, as próprias commodities, são grandes cadeias interligadas diretamente com outras. Por exemplo, parando para pensar no preço do boi gordo, a gente tem por trás a soja, o milho e outras cadeias formando isso. O mercado é muito integrado quando consideramos esses fatores”, finaliza.

 

Fonte: Secom UFG

Categorias: Humanidades destaque