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Universidade Federal de Goiás
artigo evz

Enriquecimento ambiental: (re)aprendendo a olhar o suíno

Em 26/04/23 12:45. Atualizada em 26/04/23 14:22.

Letícia Marques Magalhães*

Amoracyr José Costa Nuñez*

Marcos Speroni Ceron*

Vivian Vezzoni de Almeida*

artigo evz

O reconhecimento de que os suínos são dotados de sensibilidade, ou seja, seres capazes de sentir sofrimento, dor, prazer e felicidade, nem sempre foi uma realidade. Em 1964, a publicação do livro “Animal Machines”, escrito por Ruth Harrison, inaugurou o debate sobre ética na produção animal, pois expôs as péssimas condições e os maus-tratos a que os animais de produção eram submetidos em sistemas confinados na Grã-Bretanha. Passadas quase cinco décadas, ainda é necessário (re)aprender a olhar as relações existentes entre humano, suíno e ambiente. A bem da verdade, o ambiente de produção de suínos de forma confinada é monótono e sem estímulos, impedindo a manifestação de comportamentos naturais da espécie.

Para quem não é familiarizado com a espécie suína, é importante saber que são animais com alto grau de curiosidade, inteligentes e extremamente sociáveis. Em condições naturais, os suínos dedicam grande parte do tempo investigando o ambiente, isto é, praticam ações de olhar, cheirar, lamber, fuçar e mastigar objetos. Em sistemas confinados, por sua vez, por falta de estímulos, esse perfil exploratório é redirecionado para os companheiros da baia, gerando comportamentos indesejáveis e anormais, como agressividade, brigas e canibalismo (estereotipias). Hoje, mais do que nunca, saber aproveitar os benefícios do enriquecimento ambiental na produção intensiva de suínos confinados é fundamental para instigar e permitir os comportamentos típicos da espécie.

Enriquecimento ambiental nada mais é do que implementar melhorias físicas, sociais, cognitivas, sensoriais e nutricionais no ambiente de alojamento dos animais, a fim de torná-lo variado, dinâmico e atrativo, para, no fim das contas, promover bem-estar físico e psicológico aos animais. Podemos enriquecer o ambiente com a disponibilização de substratos orgânicos, como palha, maravalha ou casca de arroz, em grande quantidade no piso da baia, bem como ofertar objetos com apresentação suspensa (correntes de metal penduradas na divisória das baias) ou simplesmente soltos no piso (pneu, galão de plástico, dentre outros). Apesar de não ser uma tarefa fácil, é essencial incentivar a atenção dos suínos pelo enriquecimento ambiental para tornar a prática promissora na suinocultura. Então, fique atento: 1) objetos livres no piso da baia perdem sua atratividade ao ficarem sujos; e 2) o tipo de enriquecimento e o objeto ofertado devem ser renovados para não se tornarem rotina na vida do animal.

Hoje, mais do que nunca, priorizar as necessidades básicas dos suínos, que vão muito além de ração balanceada, água de qualidade e alojamento, é um compromisso ético. Sabemos que o uso de enriquecimento ambiental está longe de ser a solução de todos os problemas de bem-estar na produção confinada de suínos, mas é uma prática que pode criar situações semelhantes ao habitat natural dos animais, para que eles vivam de forma mais saudável. Deixar a criatividade fluir e aproveitar os recursos disponíveis na própria granja para enriquecer o ambiente são aspectos fundamentais para reduzir os custos com a prática, preocupação de grande parte dos suinocultores. Por fim, consideramos que o maior desafio da suinocultura industrial é (re)aprender a olhar o suíno para atender suas necessidades comportamentais, fisiológicas e ambientais e, dessa forma, as expectativas de um mercado consumidor mais conectado, bem-informado e exigente em suas escolhas.

Letícia Marques Magalhães é graduanda do curso de Zootecnia (EVZ/UFG)*

Amoracyr José Costa Nuñez é professor de Produção de Bovinos de Corte (EVZ/UFG)*

Marcos Speroni Ceron é professor de Produção de Suínos (EVZ/UFG)*

Vivian Vezzoni de Almeida é professora de Produção de Suínos (EVZ/UFG)*

 

O Jornal UFG não endossa as opiniões dos artigos e colunas, de inteira responsabilidade de seus autores.

Fonte: Secom UFG

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