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Universidade Federal de Goiás
Cerrado

Pesquisa ressalta importância da conservação do Cerrado em terras privadas

Em 23/05/23 09:47. Atualizada em 23/05/23 17:55.

Publicado na Science, estudo evidencia que de 15 a 25% de espécies de vertebrados ameaçados de extinção poderiam ser assegurados em áreas privadas

Larissa Nascimento

Foto capa: Maurício Mercadante (Flickr)

Resultado de quase cinco anos de trabalhos voltados à conservação, a pesquisa contou com a participação de pesquisadores experientes e de jovens pesquisadores formados pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Intitulado "The value of private properties for the conservation of biodiversity in the Brazilian Cerrado", (O valor das propriedades privadas para a conservação da biodiversidade no Cerrado brasileiro), o estudo publicado pela revista Science em abril deste ano é de autoria dos pesquisadores Paulo De Marco Júnior, docente dos Programas de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução e em Biodiversidade Animal da UFG, Sara Villén-Pérez, docente do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal, André Felipe Alves de Andrade e Caroline Corrêa Nóbrega, que concluíram seus doutorados pelo PPG em Ecologia e Evolução; e Rodrigo Antonio de Souza, doutor pelo PPG de Ciências Ambientais da UFG.

Rodrigo Souza que hoje é analista do Centro Nacional de Informações Ambientais (Cenima), do Instituto Nacional de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), foi um dos idealizadores iniciais do estudo. Também participaram da produção do artigo, Luiza Motta Campello, do Instituto de Geociências, da Universidade de Brasília (UnB); e Marcellus Caldas, do Department of Geography and Geospatial Sciences, Kansas State University, sediado em Manhattan (Kansas, Estados Unidos). Juntos esses pesquisadores apresentaram um debate sobre como a proteção ambiental em terras privadas pode ser a chave para o fortalecimento da conservação ambiental, principalmente em regiões com alto risco de degradação ou que estejam ameaçadas e mal protegidas pelo sistema público que gere as unidades de conservação.

Segundo Paulo De Marco, para a realização do estudo foram analisadas informações obtidas no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar) sobre as áreas que são apontadas pelos produtores rurais do Cerrado, visto que o novo Código Florestal Brasileiro exige que esses proprietários selecionem áreas para se tornarem reservas legais dentro de suas propriedades. Para análise foram acessados, por meio do Cadastro Ambiental Rural (CAR),  cerca de 700 mil produtores, que localizaram e indicaram onde estavam as áreas de proteção permanente e reserva legal dentro de suas terras. 

Ao longo da pesquisa os pesquisadores mostraram dados que evidenciam que de 15 a 25% da distribuição de espécies de vertebrados ameaçados de extinção poderiam estar sendo assegurados em áreas protegidas dentro de terras privadas no Cerrado brasileiro. Esses números são altos e os resultados evidenciam a relevância de haver fiscalização e proteção em terras privadas que estão integradas à Lei de Proteção da Vegetação Nativa do Brasil, Nº 12.651, (novo Código Florestal). O artigo, segundo Paulo, tem toda uma articulação com essas políticas públicas e com a legislação da biodiversidade no Brasil, por conta disso destaca a necessidade de recuperação ambiental em terras privadas, como estratégia política importante para aumentar a conservação da biodiversidade no Cerrado e em diversos outros locais, como São Paulo, que possui um grande número de espécies ameaçadas de extinção . 

Além de avaliar a importância dessas áreas, os pesquisadores envolvidos identificaram prioridades onde as Áreas de Preservação Permanente (APP) e reservas legais devem ser recuperadas como uma estratégia complementar à proteção ambiental geral. Paulo De Marco afirma que a restauração ecológica dessas áreas não afetaria somente a conservação da biodiversidade, ela afetaria fortemente também os efeitos das mudanças climáticas e do aquecimento global. Segundo a pesquisa quase 12 milhões de toneladas de carbono da atmosfera poderiam ser fixados, o que teria um impacto muito grande nas metas voluntárias brasileiras para reduzir a emissão dos gases do efeito estufa, instituídas pela Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), Lei 12.187/09.

Grande parte do bioma Cerrado se encontra em Goiás, um estado onde o agronegócio é uma das principais atividades desenvolvidas. Por conta disso, o artigo coloca pra sociedade a necessidade de recuperar áreas degradadas nessas terras, a fim de que isso atinja não só a conservação da biodiversidade, não só as metas brasileiras contra o aquecimento global, mas numa escala maior, a própria produtividade do agricultor. “Nós sabemos e a literatura ecológica tem isso muito forte. A recuperação dessas áreas aumenta serviços ecossistêmicos de polinização e controle de pragas, ou seja, torna mais barata a produção de certa forma, aumenta a produtividade de muitos elementos agro e isso é algo que o próprio agricultor, a medida que compreende essas relações, pode começar a perceber o valor que tem de conservar essas áreas privadas”, evidencia o pesquisador.

A pesquisa traz o debate sobre a sobrevivência do Cerrado como uma prioridade global e internacional, focalizada nos benefícios que podem ser obtidos e na existência de uma rivalidade pelo uso das terras para a realização da agricultura e preservação do Bioma. Tendo em vista que a conservação é imposta pela legislação, o artigo enfatiza a necessidade do cumprimento dos objetivos pró-meio ambiente, que conforme os resultados favoráveis apresentados pelo trabalho, necessitam ser seguidos, visto que são objetivos importantes que merecem ainda mais visibilidade, fundos para realização e atenção especial por parte dos órgãos fiscalizadores e daqueles que usufruem das terras onde o bioma se encontra.

O professor Paulo destaca o papel dos pesquisadores participantes interessados na temática para o desenvolvimento do conhecimento científico e para o reconhecimento da Instituição. “O artigo tem toda essa articulação com as políticas públicas e legislação da biodiversidade, mas ele também é um exemplo de uma produção de conhecimento na universidade pública brasileira. Com o processo de produção do artigo ocorreu a formação de vários novos pesquisadores, que hoje já são pesquisadores estabelecidos na nossa comunidade científica. Portanto ele ressalta esse papel que a universidade tem não só de produzir conhecimento mas de formar cientistas para essa sociedade”, elucida Paulo De Marco.

Ele afirma que a Science é uma revista extremamente exigente, onde poucos artigos são aceitos, e que a publicação de um artigo como esse é um exemplo da qualidade da pesquisa que está sendo desenvolvida pela Universidade Federal de Goiás. Paulo ressalta que a conquista da publicação servirá também para colocar em foco nas agendas nacional e global o debate sobre um tema extremamente relevante para a discussão da conservação da biodiversidade no país, que é a conservação do meio ambiente em áreas privadas. O assunto segundo ele é tratado com menos visibilidade e menos relevância na sociedade, o que evidencia a necessidade de discutir isso com maior profundidade no âmbito global.

O Pró-Reitor de Pós-Graduação da UFG, Felipe Terra Martins, relembrou que a revista Science faz parte da maior base de dados de indexação de periódicos do mundo, a Clarivate Analytics. Segundo ele, hoje ela conta com aproximadamente 22 mil periódicos científicos de circulação internacional, do qual a Science faz parte, como a terceira revista mais citada do mundo. “A efetividade e o impacto das pesquisas de ponta na fronteira da ciência são medidos pelo número de artigos nesses dois periódicos, Science e Nature. Então, só com isso, já fica evidente a importância de termos um artigo publicado neste periódico, que está entre as duas principais revistas científicas do mundo. Realmente, coloca a UFG em destaque, em um patamar muito diferenciado de internacionalização, de difusão do conhecimento produzido aqui, de alcance dos resultados obtidos como frutos dos investimentos em pesquisa, o mais alto patamar na ciência mundial”, evidencia Felipe Martins.

Para ambos os pesquisadores, em termos de publicação, divulgação e finalização do processo científico, ter um trabalho reconhecido por revistas como a Science, que são restritivas e exigentes, é o marco que todo cientista e que todo produto de ciência, tecnologia e inovação pode alcançar. Para o Pró-Reitor, a conquista dessa visibilidade está ligada à relevância do artigo, ao seu papel e importância de incentivar a preservação do Bioma, mostrando o quanto essa prática de conservação da biodiversidade, por meio das reservas legais em propriedades privadas, pode ser favorável às estratégias ambientais existentes.

Fonte: Secom UFG

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