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Universidade Federal de Goiás
Xeroderma pigmentoso

UFG realiza atendimento odontológico gratuito para pessoas com xeroderma pigmentoso

Em 25/07/23 14:13. Atualizada em 25/07/23 14:25.

Projeto atende pacientes de baixa renda com doenças raras ou comprometimento sistêmico 

Janyelle da Mata

Odontologia Hospitalar, projeto de extensão da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás (FO-UFG), que assiste pacientes de baixa renda, com doenças raras ou comprometimento sistêmico, realizou atendimentos odontológicos para 12 pessoas com xeroderma pigmentoso (XP). A doença causa sensibilidade ao sol e ressecamento da pele, o que favorece o aparecimento de tumores cutâneos e queilite actínica (fissuras e sangramentos, principalmente nos lábios, devido à exposição solar). A iniciativa realiza consultas em ambulatório, hospital ou domicílio.

Os pacientes vieram do povoado de Araras, que fica localizado no município de Faina (GO) a 209 km da capital, para serem avaliados para possíveis restaurações, exodontias (cirurgia para extração de dente), lesões nos lábios e língua e necessidade de prótese bucomaxilofacial. As análises foram conduzidas por 16 alunos da Habilitação em Odontologia Hospitalar, um curso de pós-graduação oferecido pelo próprio projeto.

A coordenadora do Odontologia Hospitalar, Francine Moreira, explica que os atendimentos serão feitos em Goiânia pois o município de Faina, onde se localiza o povoado, não tem estrutura e nem profissionais adequados para atender os pacientes com xeroderma pigmentoso. Segundo ela, as doenças bucais resultam no comprometimento sistêmico (paciente com uma ou mais doenças que prejudicam o funcionamento do corpo) e na baixa autoestima desses indivíduos. “É a primeira vez que a UFG irá atender esses pacientes e nós vamos oferecer o tratamento odontológico completo, além de avaliar as necessidades de prótese bucomaxilofacial para aqueles que retiraram algum tecido da face devido a algum tumor”, afirma. 

Xeroderma pigmentoso
Alisson Machado, 20 anos, é um dos pacientes atendidos no projeto (Fotos: Evelyn Parreira)

Alisson Machado de 20 anos é morador de Araras e afirma que desde o início da pandemia da covid-19 em 2020, os indivíduos acometidos pela doença estão sem qualquer assistência odontológica. O jovem salienta a importância de haver um acompanhamento nesta área, pois o rosto é a parte mais exposta à luz solar, se tornando também a mais suscetível ao aparecimento de lesões cancerizáveis (potencial de transformação maligna). O professor da Faculdade de Odontologia, Mauro Machado do Prado, realizou o atendimento e esclareceu que Alisson está livre de lesões nos lábios e língua e que as intervenções necessárias serão apenas restauração e limpeza dentária. 

Xeroderma pigmentoso
Vanda Pinheiro ressalta a importância do cuidado com o sol para os portadores de xeroderma

Vanda Ernestina Jardim Pinheiro de 49 anos se mudou para Goiânia em 2013. Ela conta que a motivação principal foi a educação dos filhos, mas que o acesso mais fácil a hospitais e clínicas odontológicas também pesaram na decisão. “Morar na zona rural e não poder produzir e trabalhar com a terra não faz sentido para mim. Como não posso me expor ao sol, a melhor solução foi nos mudarmos para a capital”, explica. Vanda também foi influenciada pela alta incidência solar e poucas chuvas, que é uma característica de Faina. “Essa doença não tem remédio, apenas precaução, então quanto mais nós evitarmos nos expor aos raios ultravioletas, menores serão as chances de aparecer qualquer lesão”, afirma. Assim como Alisson, ela também não apresenta nenhum tumor, a profissional que avaliou Vanda sugeriu apenas uma exodontia.

Xeroderma pigmentoso
Coordenadoras do projeto e pacientes atendidos

Nenhum dos 12 pacientes atendidos apresentaram lesões cancerizáveis ou necessidade de prótese bucomaxilofacial, segundo a professora da FO-UFG, Francine Moreira. Ela explica que foi necessário apenas procedimentos odontológicos como limpeza e raspagem, além de avaliarem a necessidade de exodontia. A professora afirma que uma data para o retorno deles será marcada para que eles tenham o devido acompanhamento. 

Xeroderma pigmentoso

Luciano Alberto de Castro, professor da FO-UFG, acompanha 17 indivíduos do povoado de Araras desde 2010. Ele explica que o xeroderma pigmentoso é uma doença rara que atinge 1 pessoa a cada 1 milhão de nascimentos no mundo. “É uma doença genética rara autossômica recessiva que atinge ambos os sexos e requer que tanto o pai quanto a mãe carreguem os genes da doença”, pontua. Segundo ele, a prevalência da enfermidade depende da cultura do local, pois sua manifestação genética está ligada a casamentos consanguíneos (união entre familiares). “Países do norte da África e o Paquistão têm uma prevalência considerável da doença. Aqui no Brasil, no povoado de Araras, situado no município de Faina-GO, a doença atinge 1 pessoa a cada 40 habitantes, destacando-se como a maior predominância da condição no mundo”, afirma o professor. 

O município de Faina faz parte do Vale do Araguaia, região próxima ao Rio Araguaia que tem uma grande incidência de sol e poucas chuvas por ano. O povoado de Araras se localiza na zona rural, há 40 km da cidade, tem cerca de 800 habitantes e atualmente 19 tem xeroderma pigmentoso, segundo Luciano. Os indivíduos atingidos pela doença têm a pele sensível à radiação solar e resseca, sendo mais suscetíveis ao carcinoma espinocelular (câncer de pele). O professor conta que a principal atividade econômica do povoado é o trabalho em lavouras e devido a sensibilidade aos raios ultravioletas (UV), os portadores de XP foram aposentados por invalidez. 

Xeroderma pigmentoso

As principais consequências da exposição ao sol sem a proteção necessária é o aparecimento de tumores na pele e queilite actínica (fissuras e sangramentos, principalmente nos lábios, devido a exposição solar e ressecamento). Os cuidados obrigatórios para os portadores desta anomalia genética são: proteção solar com reaplicação a cada duas horas; roupas com defesa contra os raios UV; face shield; e pouca exposição à luz solar. 

Projeto

Odontologia Hospitalar é um projeto de extensão da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás (FO-UFG) e é coordenado pela professora Francine Moreira e pela professora Nádia do Lago Costa. O programa oferece os tratamentos de endodontia; periodontia; cirurgia bucal (extração dentária); prótese dentária e atende pessoas de baixa renda, com doenças raras ou comprometimento sistêmico, com consultas realizadas no ambulatório, hospital ou domicílio do paciente. A iniciativa também  promove pesquisas sobre as especialidades oferecidas e o público alvo. O projeto é auto-financiado pois oferece o curso de Habilitação em Odontologia Hospitalar com cobrança de mensalidade, no momento a turma conta com 10 alunos. O projeto também oferece turmas optativas para os alunos graduandos da FO-UFG. 

 

Fonte: Secom UFG

Categorias: Xeroderma Pigmentoso Odontologia Humanidades