Fungos catalogados pela UFG são testados para uso no campo
Acordo com startup goiana impulsionará o desenvolvimento de novo produto para controle de cigarrinhas-das-pastagens
William Correia (PRPI)
A tecnologia e a ciência têm sido cada vez mais aliadas do campo, e a prova disso é o acordo estabelecido entre Universidade Federal de Goiás (UFG) e TEIA Bioprodutos, uma startup incubada no Centro de Empreendedorismo e Incubação (CEI-UFG), localizado no Parque Tecnológico Samambaia (PTS/UFG). O contrato celebrado trata da transferência de tecnologia não patenteada envolvendo cinco linhagens diferentes de fungos do gênero Metarhizium, conhecido por infectar insetos diversos, como, por exemplo, pragas em lavouras. Nesta modalidade, o objeto é cedido pela Universidade para que a empresa possa avaliar o seu potencial para o desenvolvimento de produtos inovadores.
Os fungos Metarhizium anisopliae IP 429, Metarhizium humberi IP 46, Metarhizium robertsii IP 34, Metarhizium blattodeae IP 414 e Metarhizium pemphigi IP 143 fazem parte da coleção de fungos entomopatogênicos do Laboratório de Patologia de Invertebrados (LPI), do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da UFG (IPTSP/UFG). Fungos desse gênero até podem ocorrer em qualquer lugar do mundo, porém foi no estado de Goiás que uma equipe de pesquisadores liderados pelo professor Wolf Christian Luz isolou tais linhagens, de solo ou de insetos mortos, pela primeira vez.
Agora, eles serão colocados à disposição da TEIA Bioprodutos, que realizará estudos no intuito de desenvolver produtos destinados ao controle biológico das cigarrinhas-das-pastagens, praga que ataca gramados, capins, relvas e culturas como a de milho, arroz e cana-de-açúcar. Segundo Lucas Ulhoa, que é egresso da UFG e sócio da empresa, já são comercializados defensivos agrícolas com fungos do mesmo gênero dos mantidos pela UFG, mas as linhagens testadas são inéditas no mercado. “Buscamos a parceria junto à Universidade para desenvolver formulações mais eficazes e com maior tempo de prateleira”, explica.
Ulhoa ressalta que a ideia é criar um produto com maior concentração de esporos e que possa ser apresentado também em forma sólida. Assim, os produtores rurais ganhariam em aspectos como armazenagem, logística e economia. “Formulações mais concentradas podem ser aplicadas em menor quantidade sem perda de eficácia, e a forma sólida do produto facilita o transporte e estocagem”, garante. O trabalho de pesquisa e desenvolvimento da formulação deverá levar cerca de um ano e atravessar as etapas de laboratório, estufa e campo. Entretanto, antes que o produto seja comercializado, será necessário obter o registro junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
A TEIA é especialista em controle biológico de pragas e doenças e presta serviços de consultoria, incluindo a identificação de espécies de fungos, bactérias e nematóides (vermes microscópicos) do solo. Um de seus diferenciais é levar ao agricultor um serviço personalizado para o problema específico da sua área e da cultura utilizada. Para tanto, a equipe conta com mestres e doutores, todos com experiência em pesquisa, e estagiários que auxiliam nas diversas demandas de trabalho.
Nos últimos anos, houve um aumento considerável da utilização de produtos biológicos nas lavouras, sobretudo por conta do custo acessível e do caráter sustentável e inofensivo para os seres humanos, já que os micro-organismos empregados são oriundos do próprio ecossistema. Além disso, os insetos, pragas e doenças que infestam lavouras tendem a desenvolver resistência aos produtos químicos, tornando-os menos eficientes ao longo do tempo. Contudo, a estratégia mais efetiva ainda é o manejo integrado de pragas (MIP), que leva em conta ambas as técnicas e outras estratégias complementares. Ulhoa destaca ainda que a agricultura sustentável é uma tendência crescente em todo o mundo, e os produtores brasileiros estão atentos a isso.
Pesquisa
O professor Christian Luz explica que as linhagens de fungos cedidas à TEIA Bioprodutos foram coletadas durante estudos sobre biodiversidade, com foco em fungos entomopatogênicos (nocivos a insetos), realizados pelo IPTSP/UFG. “Fungos entomopatogênicos estão sendo coletados e estudados por nossa equipe há 23 anos”, diz. Além de estarem na coleção do LPI, elas também foram depositadas em uma coleção da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Brasília, e em uma coleção do Departamento de Agricultura dos EUA (ARSEF/USDA).
Na UFG, os fungos colecionados são utilizados para pesquisa científica sobre controle de vetores, especialmente Aedes aegypti. É a primeira vez que estes micro-organismos foram cedidos à iniciativa privada com fins de desenvolvimento de produto comercial, situação para a qual colaborou o fato de a TEIA estar incubada em um ambiente da Universidade. Apesar disso, qualquer empresa pode recorrer à possibilidade mediante a celebração de um Contrato de Transferência de Tecnologia, sem exclusividade. O processo é totalmente mediado pelo Setor de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia (SPITT/UFG), vinculado à Agência UFG de Inovação da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI/UFG).
Categorias: Ciências Naturais