Diretoras do Sibi relembram história da Biblioteca Central da UFG
As quatro últimas gestoras do Sistema de Bibliotecas se encontraram para pensar o papel da biblioteca da UFG
Carolina Melo
Dos 50 anos de história da Biblioteca Central (BC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), comemorados este ano, 21 deles foram vivenciados por Valéria Maria Soledade de Almeida (2002-2005, 2006-2009 e 2010-2013), Maria Silvério da Silva Siqueira (2014-2017), Maria de Souza Lima Santos (2018-2021) e Adriana Ribeiro (2022-2025) se alternando nos cargos de direção do Sistema de Bibliotecas (Sibi) da instituição. Para contar um pouco dessa história, o Jornal UFG recebeu as quatro servidoras para um bate-papo repleto de memórias, nostalgia e emoção. Do encontro, ficou claro o comprometimento profissional das bibliotecárias da Universidade e o desejo de cada uma delas de ver a BC se tornar um espaço prioritário da UFG.
A BC, considerada a "mãe" das outras sete bibliotecas da instituição, é a gestora do Sibi e seu futuro é traçado também pelos sonhos projetados por seus servidores. Do "robozinho" que guarda livros até espaços imersivos de realidade virtual, as possibilidades são infinitas, ao olhar das bibliotecárias, que, por sua vez, têm uma única certeza: a biblioteca não perderá sua importância e vai se adaptar a cada etapa do desenvolvimento tecnológico.
Durante a roda de conversa, temas atuais como a Ciência Aberta e a disponibilização dos dados abertos das pesquisas foram debatidos e, nesse caso, com uma informação especial: a Biblioteca Central da UFG, contemplada por edital do Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia (Ibict) sobre Ciência Aberta, será o órgão coordenador do repositório de dados abertos da região Centro-Oeste. "Um trabalho importante em que o Sistema de Bibliotecas está à frente", afirma a atual diretora Adriana Ribeiro. "A gestão da biblioteca corre atrás para estar sempre atualizada", observa Valéria Almeida.
Entre os serviços oferecidos pela BC à comunidade acadêmica, as diretoras chamam a atenção para a importância do acervo aberto, que fornece a autonomia para o usuário pesquisar as coleções de livros da biblioteca. "É uma das coisas mais apaixonantes. Você chegar na estante e poder percorrer todos os livros livremente”, observa Adriana. Também foram destacados o suporte da biblioteca aos pesquisadores da Universidade no levantamento de dados de pesquisa, os treinamentos aos usuários e o espaço dinâmico que permite ao aluno o estudo, o descanso, e a prática de jogos.
Os desafios foram lembrados. Afinal, gerir uma biblioteca requer investimento e prioridade, destacam as gestoras antigas e a atual. E a falta de recursos desde 2014 para a compra de livros on-line está entre os enfrentamentos presentes e urgentes. "É inadmissível a Universidade Federal de Goiás não ter e-book para atender a comunidade universitária", lamenta Maria de Souza, que, no entanto, acredita no potencial formativo da BC.
Diretoras do Sibi UFG: Maria Silvério, Adriana Ribeiro, Maria de Souza e Valéria Maria (Foto: Carolina Melo)
Qual a lembrança mais antiga que você tem da Biblioteca Central da UFG?
Valéria – Fui aluna da Universidade. Eu fiz o curso de Biblioteconomia aqui, então com certeza minha primeira lembrança está vinculada à minha época de estudante. Eu entrei na Biblioteca Central pela primeira vez no antigo espaço, quando ela ainda estava lá na Praça Universitária, no prédio da Faculdade de Direito, e eu trabalhei como monitora, na década de 1980. Foi a primeira vez que eu tive o primeiro contato de experiência dentro da biblioteca.
E quando voltou?
Valéria – Eu voltei concursada, em 1994, dez anos depois.
Você lembra a primeira vez que você entrou no prédio novo e qual foi a sua sensação?
Valéria – Ah, foi de uma grande conquista para a Universidade, para toda a graduação e para toda a pesquisa da Universidade. Foi fenomenal trazer essa percepção para o nosso curso de Biblioteconomia. E de repente a gente tinha um prédio de 7 mil metros quadrados. É claro que eu, como estudante, não tinha a mesma percepção que eu tenho hoje, depois de ter sido diretora. Mas quando eu entrei lá, eu me projetei: quero ser diretora aqui um dia. Quando eu entrei pela primeira vez, chamou-me atenção a grandiosidade do prédio. Foi uma coisa impactante. E já perceber a tecnologia chegando. Porque naquela época a gente já tinha computador. E quando fui estagiária lá, foi o primeiro contato que eu tive com um computador. Isso em 1989. A Claudinha [Cláudia de Oliveira Moura Bueno, diretora entre 1994 e 2001] me sentou no computador para eu começar a mexer e me familiarizar. Então o desenvolvimento tecnológico já estava presente nesse princípio.
Maria de Souza – Para mim, também, minha primeira lembrança da BC é de quando eu entrei para fazer o curso de Biblioteconomia. Igual a Valéria, eu era estudante. E a professora Cizinha [Maria Auxiliadora Andrade de Echegaray, diretora entre 1982 a 1989 e docente do curso de Biblioteconomia] nos levou para ter aula na BC em 1992. Quando entrei: "Nossa, isso tudo aqui é uma biblioteca". Fiquei maravilhada com o ambiente, com a magnitude. Porque até então, aluna de escola pública, o que eu tinha de cenário de biblioteca era uma sala. Então foi esplêndido.
Maria Silvério – Minha primeira lembrança também é da época da graduação, em 2004. Eu tenho muita idade, mas de formada até que sou nova. A primeira vez que eu adentrei na Biblioteca Central foi em busca de material. E tive contato com a grandiosidade do espaço, tantos materiais ali disponíveis para a gente utilizar e, na verdade, eu posso dizer que foi a primeira biblioteca bem estruturada em que eu entrei e tive contato. Porque até então eu só tinha tido contato com uma sala de leitura de um colégio estadual, onde minha filha estudava. Eu lembro que eu fui até a videolocadora, na época a videoteca emprestava, e eu lembro que eu peguei bastante material para assistir, porque naquela época a gente ainda tinha em casa os equipamentos. Depois vieram outros contatos: os professores levaram para visita técnica onde conhecemos mais profundo o trabalho e as salas e as técnicas de trabalho.
Adriana: Não diferente de ninguém, também tive meu primeiro contato com a biblioteca pela graduação, em 2002. O único contato que eu tinha tido com a biblioteca, anterior a isso, foi na biblioteca pública de Trindade. Eu lembro que a primeira vez que eu entrei na biblioteca, eu tinha que ir na estante achar o livro. Antes, era acostumada, na época de colégio, a chegar no espaço e solicitar para a servidora o que eu precisava, e ela pegava o livro e abria na página que precisava, você não tinha autonomia. Então uma das coisas mais apaixonantes que eu acho é o acervo aberto. Você chegar na estante e poder percorrer todos os livros livremente. Eu não tinha essa experiência. Então eu tenho essa memória bastante grande de ver tanta estante, poder percorrer elas, e o servidor Lindolfo atendendo no empréstimo. Tenho essa lembrança muito grande dele, no empréstimo, enquanto eu aluna, porque ele também era de Trindade.
BC ficou no prédio da Faculdade de Direito da UFG, na Praça Universitária, até 1988 (Foto: Arquivo UFG)
Quais as diferenças entre as bibliotecas da UFG e qual o papel da Biblioteca Central?
Valéria – O que diferencia as bibliotecas é a localização, a regionalidade, porque isso traz muito a demanda em cima do que você vai desenvolver, qual o trabalho que você vai oferecer. Então, por exemplo, a biblioteca de Catalão [agora ligada à Universidade Federal de Catalão (UFCAT), mas que fazia parte do Sibi UFG] veio para atender 21 cursos que estavam lá. Jataí também veio com uma função multidisciplinar, eram vários cursos. Se você cria uma biblioteca na unidade acadêmica, ela já está mais direcionada ao público específico. O Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (Cepae), por exemplo, também tem um público específico, até o segundo grau de formação. A Biblioteca Setorial, onde hoje eu trabalho, no Campus Colemar Natal e Silva, também tem um caráter multidisciplinar porque ela atende várias áreas do conhecimento. A Biblioteca Central, além de ser biblioteca, é a nossa gestora. Ela é a gestora do Sistema de Bibliotecas. Então ela tem uma característica muito ímpar, porque é ali que se reúnem todas as decisões, todas as demandas do ponto de vista de gestão, de organização do sistema. Então, assim, é fantástico. E tem agora a biblioteca em Aparecida para atender um outro público de graduação que está sendo atendido naquele campus. É lógico que a biblioteca hoje não é apenas o espaço físico, porque hoje está tudo on-line. Então você faz atendimento no Brasil todo por demandas de informação. Então qual é a natureza da sua criação, esse talvez seja o ponto principal. A Central foi criada para ser um espaço gestor. E aí, nesse sentido, tem Catalão, tem Jataí, tem Cepae, tem Aparecida, tem Goiás, tem as bibliotecas nas unidades. Hoje Catalão e Jataí não estão mais vinculados. Mas foi muito importante para eles a expertise da Biblioteca Central. A gente levou toda automatização.
Maria de Souza – A Biblioteca Central é a biblioteca mãe, porque nós coordenamos todas as outras bibliotecas, cada uma com a sua especificidade, particularidade e demandas informacionais e públicos. A gestão consegue fazer isso muito bem. Eu acho que todas nós, aqui, que fomos gestoras, conseguimos atender, na medida do possível, todas as bibliotecas, todas as demandas das bibliotecas seccionais. Não é fácil. A gente está num ambiente público, com dotações orçamentárias sempre muito restritivas. Então é com muita unha e com muita garra, é correndo atrás mesmo, é batendo na porta dos gestores da universidade e falando "nós precisamos". Mas por que nós precisamos? Porque nós temos todos os nossos "filhos", né?
Adriana – Um aspecto importante é a padronização do serviço. Porque se você for na biblioteca da Regional Goiás será atendido da mesma forma, assim como na unidade da Faculdade de Letras. Então essa padronização no serviço é muito importante. E felizmente a gente tem só elogios à equipe do Sistema de Bibliotecas. Nas comemorações dos 50 anos, deixamos durante um tempo um mural para as pessoas se manifestarem, deixarem um recado. É emocionante você ver os elogios à equipe.
Em 1989 é inaugurado o novo prédio da BC, no Campus Samambaia; unidade é a gestora do Sibi (Foto: Carolina Melo)
Sobre o Sibi, o que sabem de sua história e qual o significado do sistema para a UFG?
Adriana – Nossa biblioteca caçula é a da Humanidades. Quando eu voltei para a Universidade, após formada em 2008, já estava na fase de integração de Catalão [hoje UFCAT] e Jataí [atual UFJ] de informatização dos acervos, de padronização dos serviços. A construção de uma biblioteca é um processo complexo e caro. Mobiliário, acervo, espaço adequado com acessibilidade, profissionais. Na minha avaliação é mais ideal juntar as forças e melhorar a Biblioteca Central do que abrir uma nova biblioteca. Um ponto muito importante de se pensar, quando se pensa em aumentar o Sistema de Bibliotecas, é isso. Hoje eu defendo o fortalecimento das bibliotecas já existentes.
Valéria – A discussão começou em meados de 1970. A ideia de se criar um sistema vem antes da Biblioteca Central, que foi o órgão determinado para fazer a gestão. E há a figura central da bibliotecária Marieta Telles Machado [primeira gestora do Sibi, entre 1973 e 1981], que era uma das pessoas à frente do processo. Naquele princípio, o movimento era de centralização das bibliotecas. E, mais recentemente, ocorreram os processos de expansão e regionalização da UFG, por meio dos campus avançados, e a criação das bibliotecas nesses locais, o que também desencadeou o processo de automatização do sistema. Em 2004, começamos a fazer a unificação com a mudança de software para o SophiA, um software que ainda estava em construção e que se desenvolveu maravilhosamente bem. O sistema se fortaleceu muito com isso. Nós fomos a primeira universidade do país a utilizar o SophiA.
Na universidade, a BC tem lugar de prioridade?
Valéria – Eu acredito que sim, apesar de todas as dificuldades. Neste momento estamos passando por uma mudança de acesso à informação. Agora, o desafio é conquistar o retorno institucional para que a gente possa se adequar e promover um atendimento mais ágil, por exemplo, em relação aos acervos eletrônicos. A última vez que nós compramos livros eletrônicos foi em 2014. Nós estamos em 2023. A falta de investimento é um ponto sério. A gente está precisando alcançar institucionalmente de volta essa prioridade.
Adriana – Hoje a Universidade está se estruturando após o último governo. Eu acho que a gente ainda não voltou a ter essa prioridade institucional. É um momento de adequações na Universidade. E acredito que aos poucos a gente possa conquistar isso novamente. Durante todo o histórico da Biblioteca, desde o seu princípio, o trabalho e luta para conquistar o orçamento para compra de livros existe, então é uma tecla que a Biblioteca bate desde antes de seu nascimento. Quando você pega as atas antigas de todas as gestões, tem essa questão de lutar pela compra de material informacional. É uma luta de todas as gestões desde o início. O que também faz falta hoje é que antes tinha um valor já estipulado do orçamento que era destinado à compra de livros e desde 2014 para cá não tem mais. ntão a gente tem que voltar a ter isso.
Por que não tem?
Adriana – Decisões administrativas, pois não é uma verba chancelada. Antes, era destinado 5% do orçamento para a compra de livros. Até 2014, a gente tinha investimento, naquela época, de R$1 milhão em média para compras de livros anualmente. Como não temos mais, ano passado fizemos algumas compras emergenciais para os cursos que foram avaliados este ano e foi liberada uma verba de R$ 500 mil, pois temos quase 20 cursos avaliados em 2023. Não ter todo ano um valor estipulado faz muita falta. Com a pandemia houve aumento da demanda por material informacional on-line, e não temos isso para fornecer para o nosso aluno. E ele acaba indo para a internet. E temos que procurar ajudar esse aluno que aprendeu a viver esse tempo sem a gente, e isso é um grande desafio para a biblioteca. Temos que nos redescobrir, nos reinventar para o futuro. Agora, a frequência do aluno na biblioteca não mudou. Ele não deixa de frequentar o espaço da biblioteca. Isso é visível, o usuário frequenta.
Maria de Souza – Complementando, em relação à aquisição de material informacional e a avaliação dos cursos pelo MEC [Ministério da Educação e Cultura]. Nós recebemos várias avaliações, que, no contexto geral, a nota do curso, ela é uma nota boa. Uma nota 4, uma nota 5, mas no quesito da avaliação da Biblioteca e principalmente no quesito acervo a nota cai para 1 e 2. Isso é geral. Ainda assim, nem por isso os alunos deixam de frequentar. Porque ele gosta do ambiente da biblioteca, mesmo que ele vá e não encontre a bibliografia que precisa, ele gosta de estar ali estudando na biblioteca. A questão da dotação orçamentária é uma questão séria. Enquanto ela não estiver dentro do planejamento institucional, dentro do PDI da Universidade, o cenário da biblioteca não terá melhora nesse quesito da avaliação institucional realizada pelo MEC. Então é um ponto latente e emergente, é importante a universidade ter um outro olhar para conseguir atender de forma mais satisfatória a comunidade universitária.
Maria Silvério – Gostaria de retornar à pergunta anterior, em relação à estruturação do sistema. Eu coloco dois marcos que foram importantes na estruturação do sistema: a padronização e a implantação do Sistema SophiA nas bibliotecas, que teve início em 2004, e o outro é a elaboração dos documentos. Porque um Sistema de Bibliotecas requer que seja estruturado com normas, resoluções. Então, se você hoje entrar no site da BC, vai encontrar lá o campo das normas, você vai ter lá a política de desenvolvimento de acervo, vai ter o regimento do Sibi. Todos esses documentos requerem uma discussão, um estudo feito em nível nacional. Por exemplo, quando vêm as avaliações institucionais, como as do MEC [Ministério da Educação], a gente disponibiliza toda essa documentação. Então é fundamental ter essas documentações. Eu lembro que, em 2016, quando o regimento foi aprovado, o Sistema de Bibliotecas foi o primeiro órgão da Universidade, após o regimento da instituição ser aprovado, que conseguiu aprovar o próprio regimento pelo Conselho Universitário (Consuni), e nós fomos modelo para outros órgãos, que ligavam para terem orientações. Então para estabelecer um Sistema de Bibliotecas são várias frentes de trabalho, requer estrutura física, pessoal, recurso, profissionais dedicados e reconhecimento da alta administração.
Mesmo com a digitalização, bibliotecas continuam presentes na vida acadêmica dos usuários (Foto: Carlos Siqueira)
O que significa a frase "reinventar a biblioteca para o futuro"?
Adriana – Hoje mudou. O aluno consegue muitas coisas pela internet. Mas a internet é um mundo louco e há muita desinformação. E o papel do profissional bibliotecário é no apoio à pesquisa. Se não apoiarmos esse aluno, ensinar ele o caminho de como pesquisar, caminhos confiáveis para onde ele deve seguir, não adianta ele ter mil e uma informações na internet. Então há um trabalho educacional, de competência informacional, de formação. Temos que trabalhar com o aluno de graduação, que vai virar pesquisador na pós-graduação. Esse é o nosso papel hoje, de apoio à pesquisa. É esse suporte ao pesquisador que eu vejo como futuro da biblioteca. A gente é o apoio ali no fortalecimento da pesquisa.
O que significa isso na prática?
Adriana – Treinamentos, atendimento personalizado, ter um espaço na biblioteca para você sentar com esse pesquisador, entender a pesquisa dele e contribuir com o processo. Estamos estruturando esse caminho especialmente na Biblioteca Seccional Campus Colemar Natal e Silva (BSCAN).
Valéria – O mundo é movimento. Então a biblioteca não fica indiferente a isso. E hoje tem a Inteligência Artificial, que também desafia a forma que vamos trabalhar. A questão da ética em relação ao texto que está sendo produzido de uma forma inteligente, quem vai ser o autor? Como a biblioteca vai se comportar em relação a isso? Como a instituição vai se comportar em relação ao direito autoral desse material? O que está dentro disso é atualização e capacitação profissional. Eu sou do tempo do Excel 2003. Mas tem uma tecnologia de Excel hoje que eu estou louca para entender. A Universidade precisa investir em capacitação. O Sibi precisa identificar quais as capacitações necessárias aos bibliotecários. Em 2002, os nossos bibliotecários nunca tinham participado de um seminário de bibliotecas universitárias, só uma bibliotecária tinha ido, que era a nossa diretora, por questões institucionais. Um ponto importante é a conquista da capacitação para atender a atual demanda.
Adriana citou que vocês na BSCAN fazem esse atendimento ao pesquisador…
Valéria – Na verdade é uma reestruturação de uma coisa que a gente já fazia. Porque teve uma época em que a gente tinha base de dados locais, a gente não fazia pesquisa on-line. Então o pesquisador ia para dentro da biblioteca, fazíamos uma entrevista e uma estrutura do que aquela pessoa estava pesquisando: palavras-chave, termos paralelos, sinônimos, quais línguas e autores que estão pesquisando determinado assunto, revistas que são relevantes. A gente fazia isso lá atrás. Como só a gente tinha acesso à base de dados, estruturávamos essa pesquisa e na base de dados fazíamos esse levantamento para o pesquisador. Hoje a informação está on-line, então estamos tentando trazer de volta esse atendimento. Fazer o levantamento do que está mundialmente sendo pesquisado dentro daquilo que aquele pesquisador está demandando. Quais são os artigos, as citações, a relevância dentro daquele determinado ponto específico da pesquisa. Na verdade, estamos começando a entender essa demanda e tentando se estruturar para para ela.
Como avaliam o processo de informatização da BC e do Sibi?
Valéria – Em 1994, quando retornei como bibliotecária, estava no comecinho da automatização e implantação da biblioteca de fita virtual (VTLS), que foi até 2002. Só que era um software muitíssimo caro, e para fazer a integração que precisava a Universidade ia ter que despender bastante recurso financeiro, e não era o caso daquele momento. Então fizemos um edital e também começamos a trabalhar com os repositórios institucionais. Implantamos a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD), que foi um grande avanço, porque teve muito essa discussão, em 2016, do acesso aberto, não só à informação, mas ao programa. Essa foi uma parte importante da automatização, além dessa estruturação em rede do controle do nosso acesso de acervo. Pois com o novo software SophiA era possível gerenciar todas as funcionalidades de serviço que a gente presta, como empréstimo domiciliar, renovação on-line.
Maria Silvério – Eu gostaria de falar de dois serviços que o Sistema de Bibliotecas tem e oferece, e que foi uma inovação tecnológica. Se eu não me engano, em 2010 foi quando foi implantado o treinamento on-line. Esse treinamento está disponível na UFGnet, lá no campo acadêmico, lá no treinamento. Outro serviço importante é a ficha catalográfica. A gente conseguiu o código de um software desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP) em 2016. Hoje o aluno terminou sua tese, sua dissertação, seu TCC, entra no site da BC, preenche o formulário e a ficha é encaminhada automaticamente. Fizemos isso para poder facilitar a vida do usuário. Continuamos fazendo as fichas manualmente dos livros, que são solicitados por professores, fazemos a leitura técnica do material. Mas como o aluno já tem esses dados das palavras-chave, do título, ele já coloca ali o seu nome no sistema, já recebe a ficha prontinha.
Adriana – Vou também falar do aplicativo SophiA, que permite ao usuário acessar mais rápido o catálogo da biblioteca, inclusive pelo celular. Também não tem mais a carteirinha da biblioteca física, é pelo aplicativo. Tudo é facilitado para o aluno. Inclusive, estamos projetando outros treinamentos pela plataforma Moodle, como da ABNT, para quando o aluno precisar poder acessar. O primeiro vai ser o treinamento de elaboração de resumos, que já está prontinho. A ideia é levar essas facilidades para o aluno. Em todas as nossas ações, queremos dar liberdade para o usuário, autonomia. O papel da biblioteca é justamente esse. É conseguir treinar esse usuário para ele ter a independência e correr atrás do que ele precisa. Vislumbramos o metabuscador, uma plataforma única que o usuário vai poder pesquisar no catálogo do SophiA, na BDTD, no Portal da Capes, tudo numa única pesquisa. Queremos colocar isso à disposição, mas são coisas que demoram. Uma outra questão importante é a Ciência Aberta, que agora é um caminho sem volta: a disponibilidade dos dados de pesquisas abertos, ou seja, todas as informações de como se chegou ao resultado da pesquisa. Nesse sentido, a gente participou do edital do Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia (IBICT) sobre Ciência Aberta e fomos contemplados como uma das instituições parceiras. Então hoje a Biblioteca Central é o órgão coordenador do repositório de dados na região Centro-Oeste, inclusive do próprio IBICT, que fica em Brasília. Esse convênio é para a montagem do repositório. Esse é um trabalho importante em que o Sistema de Bibliotecas está a frente.
Valéria – A gestão da biblioteca corre atrás para estar sempre atualizada. Quando assumi a direção, em 2002, comecei a participar dos grandes eventos nacionalmente, e pude perceber isso.
Qual é o futuro do Sistema de bibliotecas e da Biblioteca Central da UFG?
Maria de Souza – O sonho seriam os robozinhos guardando livros [risos]... Brincadeira à parte, vamos ter livros físicos, mas também eletrônicos, pois é inadmissível a Universidade Federal de Goiás não ter e-book para atender a comunidade universitária. Aliado a isso, teremos o espaço dinâmico da própria biblioteca para os alunos estarem ali, gostarem de estar na biblioteca, gostar de estar estudando, gostar de estar convivendo com outros colegas ali no jogo, entre uma aula e outra, podendo ter seu momento de relaxamento também. Então acho que é esse o futuro que a gente tanto almeja.
Valéria – Complementando, eu penso que a Biblioteca sempre será – já é – um espaço híbrido, que reúne tecnologia, atendimento presencial, serviços. Mas acho que temos que evoluir junto com a tecnologia da interatividade. Algo interessante seria trazer uma experiência visual, numa prática de pesquisa, numa prática de laboratório. Igual vi numa viagem, um espaço dentro de uma gruta em que se projetava todo Michelangelo. Toda pintura dele aparecendo, desaparecendo, você ali envolvida naquela imagem. Então eu acho que a Biblioteca pode trazer essa experiência da imagem, num ambiente que leva para a conexão virtual-real, em termos de profundidade mesmo da pesquisa, em que o aluno pode ter essa vivência de uma informação da época medieval, sabe, e sair só do livro. E a pessoa poder mergulhar numa imagem. Eu sou aquela que tem essas idealizações, às vezes em reunião eu falava alguma coisa, alguma colega dizia "ih, lá vem a Valéria". E aproveito aqui a oportunidade para dizer que você está realizando um sonho meu, eu sonhava em estar numa mesa com as diretoras da BC, para falar de biblioteca, para falar de Sistema, para falar de dificuldade, da nossa história, e do que a gente ainda pode tentar fazer junto, eu que já estou na iminência de aposentar.
Maria Silvério – É uma pergunta que leva a gente a pensar, né? Leva a gente a pensar no futuro. Com o pé no chão, eu acredito que o Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de Goiás vai ter seus altos e baixos, como teve no passado. Mas terá pessoas, porque depende de pessoas, né? E a biblioteca vai ser eterna, vai ter essa busca, como Adriana disse, de inovar, e, como a Valéria, vai ter pessoas que vão pensar coisas novas, trazer a modernização, a inovação tecnológica, e vai continuar, vai ser híbrida, o livro impresso vai continuar, sem deixar que os e-books tomem seu espaço.
Adriana – Toda essa discussão de fim da biblioteca, fim do livro, não me incomoda, tenho certeza de que isso não existe. O futuro realmente é híbrido. O que eu observo é que cada vez mais a biblioteca conquista mais os usuários. Então hoje a gente pensa muito em renovação de espaços, literalmente. A gente já começa a pensar do que os alunos estão precisando. E o que a gente percebe? Eles querem uma sala multimídia em que eles consigam fazer webconferência, reuniões, defesas de banca, e a gente já está tentando articular para disponibilizar esse espaço. A partir das necessidades vamos nos adaptando. Nosso pessoal está precisando de uma sala para fazer um podcast. Vamos pensar em alguma coisa nesse sentido? A gente observa os meninos lá cortando, fazendo maquete, vamos fazer um espaço maker? Pois o foco da biblioteca sempre foi o usuário. A biblioteca tem a parte social também, ela não é só o empréstimo de livros. E temos um desafio hoje, por exemplo, que é receber os alunos da creche, do Departamento de Educação Infantil (DEI) da UFG, uma vez por semana. Agora pensa em uma biblioteca universitária, que recebe o pós-graduando que está ali terminando a tese do doutorado, escutando barulho de uma criança de dois, três anos? Tem Ouvidoria sobre isso. É um trabalho de convencimento. Imagina a importância de crianças tão novas terem acesso a uma biblioteca como a BC? Até entre nós, por exemplo, a maioria foi ter o primeiro contato com a biblioteca só na graduação. A biblioteca hoje é um centro para o aluno, ela é a visão de acolhimento e ele sabe que pode contar com ela. Nesse sentido, nosso futuro está garantido.
Fonte: Secom UFG
Categorias: entrevista Institucional BC SIBI