Equipe da UFG desenvolve projeto de creme para tratar Xeroderma Pigmentoso
Conceito do produto foi premiado em competição internacional na Cidade do México
Maria Sousa e Luiz Felipe Fernandes
O clube de Biologia Sintética (SynBio) da Universidade Federal de Goiás (UFG) desenvolveu o projeto de um creme terapêutico para prevenir tumores de pele e melhorar o tratamento de pessoas com Xeroderma Pigmentoso (XP), doença genética caracterizada pela extrema sensibilidade à radiação ultravioleta (UV).
A proposta do creme AraraSun ficou em segundo lugar na classificação geral no Synbio Festival, uma competição internacional promovida pela Fundação iGEM, realizada no dia 8 de dezembro na Cidade do México.
O grupo é coordenado pelo professor do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (Iptsp), André Kipnis, e é formado por estudantes dos cursos de Biotecnologia e de Biomedicina e por uma biotecnologista formada pela UFG. O produto concebido durante a competição combina quatro flavonoides (compostos naturais encontrados em plantas) e um peptídeo sintético (cadeia de aminoácidos) com propriedades antioxidantes e antitumorais.
A abordagem inovadora envolveu a compreensão sobre a doença, por meio de encontros on-line com moradores do povoado de Araras, no município de Faina, a 200 quilômetros de Goiânia. Também houve colaboração com o professor da Universidade de São Paulo (USP) Carlos Menck e com a dermatologista Sulamita Chaibub, ambos especialistas em XP.
O povoado de Araras abriga a maior proporção de pessoas com XD do mundo. Enquanto a incidência global é de um caso a cada 1 milhão de pessoas, no distrito goiano essa taxa é de um a cada 40 habitantes. A doença não é contagiosa, mas a alta sensibilidade aos raios UV aumenta a possibilidade de câncer de pele.
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Estudantes de Biotecnologia e Biomedicina integram equipe coordenada por André Kipnis (Foto: Marina Sousa)
Protótipo
Na busca por um creme que não apenas protegesse a pele dos pacientes dos raios solares mas que também melhorasse a qualidade de vida, o SynBio UFG selecionou para o AraraSun quatro flavonoides – kaempferol, quercetin, luteolin e myricetin – presentes em árvores do Cerrado brasileiro, como pata de vaca, fava d’anta e cagaita.
O outro componente do creme é o peptídeo sintético Selera-2, rico em aminoácidos do tipo selenocisteína, que funciona como um agente antimutagênico, prevenindo transformações malignas das células.
Depois de várias análises, o grupo de pesquisadores projetou circuitos genéticos complexos utilizando Escherichia coli, uma bactéria benigna que pode permitir a produção controlada de flavonoides em grande escala e de maneira sustentável. Além de ter boa purificação, ela também pode reduzir os custos de produção e garantir a padronização entre lotes de cremes.
Para a etapa de testes, o SynBio UFG propõe que sejam feitas simulações computacionais – os chamados estudos in silico. Já os estudos práticos envolveriam a análise da formulação e dos excipientes (ingredientes para dar forma e consistência) para manter a vida útil do creme, bem como testes de alergia e proteção solar.
O projeto apresentado no Synbio Festival obteve reconhecimento em 12 das 15 categorias, conquistando quatro prêmios e uma medalha de ouro na categoria Saúde Humana e Biomedicina. A equipe também assegurou o segundo lugar na classificação geral. Agora o grupo está em busca de parcerias para o financiamento das próximas etapas do projeto.
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Projeto prevê a criação de um creme a partir de compostos de plantas do Cerrado (Imagem: SynBio UFG)
Atuação exemplar
O professor André Kipnis destaca que, apesar de o time da UFG ser pequeno, os estudantes demonstraram uma atuação exemplar. Entre os 26 times participantes, o SynBio conquistou o maior número de prêmios especiais, superando todas as equipes concorrentes.
Das 12 indicações para os prêmios especiais, o grupo foi vencedor em quatro categorias: Melhor Vídeo Promocional, Melhor Prática Integrada com a Comunidade, Heróis Locais, e também se consagrou como o vencedor do Melhor Circuito de Projeto Genético.
O professor acredita que esse desempenho serve de inspiração para a UFG continuar participando da competição nos próximos anos, bem como para atrair mais estudantes. Afirma ainda que os alunos saíram da competição enriquecidos com novos conhecimentos e experiências que impactarão positivamente suas carreiras como futuros biotecnólogos e biomédicos.
O estudante Arthur Alves Coelho, que integra o SynBio UFG, destaca a competição como uma experiência desafiadora tanto em termos técnicos quanto pela abordagem multidisciplinar. No entanto, ele ressalta que é exatamente essa complexidade que a torna tão enriquecedora para os participantes e impactante para a sociedade.
A biotecnologista Eduarda Pereira Soares Dias ressalta a importância da competição para aprofundar seus conhecimentos em biologia sintética e compreender como suas técnicas podem gerar soluções para problemas de saúde humana, animal e ambiental. Ela também sublinha a relevância do envolvimento com a comunidade local para compreender melhor as condições de vida das pessoas afetadas por XP.
Equipe representou a UFG em evento internacional no México, obtendo o segundo lugar (Imagem: SynBio UFG)
Biologia Sintética
O grupo de Biologia Sintética da UFG teve sua origem em 2021, mas foi no fim de 2022 que o projeto ganhou corpo. Estudante de Biomedicina, Jhenyfer Elíria Brachmann conta que começou a divulgar a temática em eventos como o seminário do Iptsp e o Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão (Conpeex) da UFG, por meio dos quais formou a equipe para o Synbio Festival.
Outra integrante do grupo, Jaqueline Jacintho enfatiza o estímulo do SynBio UFG para a realização de ações voltadas ao bem-estar social e à divulgação científica. Alexandre Nascimento acrescenta que a Biologia Sintética expande os conhecimentos na área, apresentando novas aplicações da Biotecnologia e introduzindo ferramentas in silico. Ainda compõe o grupo a estudante Bianca Cornélio.
* Crédito da foto de capa: EBC.
Fonte: Iptsp
Categorias: Biologia Sintética Ciências Naturais IPTSP Xeroderma Pigmentoso