Projeto realiza expedições e pesquisas na região do Rio Araguaia
Araguaia Vivo 2030 tem como foco a conservação de uma das mais importantes bacias do estado
Caio Rabelo
Eduardo Bandeira
A bacia do Rio Araguaia, além de ser um destino turístico popular, é foco de diversas iniciativas voltadas à pesquisa e à conservação. Um desses projetos é o Araguaia Vivo 2030, parceira entre a Tropical Water Research Alliance (TWRA) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg). O principal objetivo do projeto, além da pesquisa, é a conservação da bacia do Rio Araguaia.
Para entender um pouco mais, o Jornal UFG conversou com a coordenadora do programa, Mariana Pires de Campos Telles, doutora em Ciências Ambientais e orientadora em programas da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) e da Universidade Federal de Goiás (UFG), e com o estudante de Ciências Ambientais Igor Souza, que atua no Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig).
Barco onde os pesquisadores passaram um mês recolhendo amostras no Rio Araguaia (Fotos: Arquivo pessoal)
Como surgiu a ideia do projeto e qual seu principal objetivo?
Mariana Telles – O projeto é uma iniciativa da TWRA, que foi financiado pela Fapeg. Ele vem da demanda de uma pesquisa que já trabalhava com recursos hídricos em outras regiões do Brasil, com a ideia de colocarmos profissionais com foco em pesquisas na região do Rio Araguaia.
Qual foi a diferença entre a expedição deste ano e a do ano passado?
Mariana – No ano passado a expedição foi realizada no contexto de outro projeto, que é o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Ecologia, Evolução e Conservação da Biodiversidade. Existe parte da equipe que é a mesma e que entrou nesse novo projeto da TWRA. Mantivemos os pontos para coleta de algumas variáveis, mas neste ano tivemos outras atividades, incluindo educação ambiental e relacionadas com turismo e pesca.
Como você vê o papel da interação entre a academia, o setor privado e a comunidade local na conservação do Rio Araguaia?
Mariana – Um dos aspectos interessantes é a capacitação dos atores locais em algumas atividades, como turismo, pesca e turismo de observação de aves. A ideia é envolver a população da região para conseguirmos mudar um pouco essa ligação com a questão da biodiversidade e da conservação dos recursos hídricos. Afinal de contas, eles são os principais atores relacionados ao uso cotidiano da região.
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Imagem aérea de um trecho Rio Araguaia, feita com drone: equipe percorreu 3 mil quilômetros na última expedição
Como a participação de equipes diferentes e o contato com a comunidade local proporcionaram a troca de informações?
Mariana – O contato com a comunidade foi realmente uma etapa essencial para o bom andamento de várias atividades do programa, pois essa aproximação é que tem feito a diferença no engajamento da população local com os pesquisadores e a troca tem sido muito boa.
Quais foram os principais desafios enfrentados durante a expedição ao longo do Rio e seus afluentes?
Mariana – Na expedição, que aconteceu em fevereiro [de 2024], nós conseguimos observar diferentes desafios do ponto de vista de conservação, mas também no que tange à execução do projeto. Precisamos melhorar as condições de pesquisa na região e, para isso, precisamos aperfeiçoar nossa base de pesquisa na bacia do Araguaia e tentar responder mais rapidamente com informações necessárias, pensando no uso e na conservação dos recursos naturais dessa região. Além disso, a baixa do nível de água no Rio, que dificulta a navegação, e a questão da logística complexa envolvida para a execução de uma pesquisa dessa natureza.
Você pode descrever um pouco como foi esse processo?
Mariana – Nessa expedição, nós alugamos um barco hotel, então toda a equipe ficou embarcada durante 30 dias e nós percorremos cerca de 3 mil quilômetros ao longo do Rio. Temos todo o material para coleta e armazenamento de água e também de organismos aquáticos que foram amostrados durante a expedição.
E como as descobertas e os dados coletados durante a expedição serão utilizados para orientar futuras ações de conservação e desenvolvimento?
Mariana – Estamos validando algumas metodologias mais inovadoras para levantamento da biodiversidade em larga escala, como o uso de drones e o levantamento da qualidade da água em uma escala maior. A ideia é levantar essas informações para tornar esses dados públicos para desenvolver a conservação, uma vez que a água é o recurso primordial para todas as atividades econômicas e a nossa subsistência.
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Mariana Telles, coordenadora do projeto Araguaia Vivo 2030 e orientadora em programas na PUC Goiás e UFG
Você poderia compartilhar algumas iniciativas específicas que o programa está tomando para envolver a sociedade nas questões ambientais?
Mariana – O programa está se associando a outras iniciativas que atuam na região, para tentarmos, por exemplo, junto ao torneio de pesca esportiva, capacitar os participantes a uma iniciativa que conhecemos como ciência cidadã, na qual a sociedade civil possa contribuir para o desenvolvimento de informações que, posteriormente, possamos devolver, pensando, por exemplo, em pesca sustentável.
Considerando o cenário atual de degradação ambiental, quais são as suas esperanças e expectativas para o futuro do Rio Araguaia até 2030?
Mariana – Nós nos inspiramos em uma questão que foi fundamental para o programa: qual Araguaia nós queremos para 2030? Baseados nisso, estruturamos as 11 atividades que estão sendo desenvolvidas no projeto e a ideia é que possamos levantar rapidamente essas informações para devolvê-las logo em seguida, para que possamos entregá-las aos órgãos da sociedade que tomam decisões e implementam políticas públicas. A ideia é que a gente consiga compatibilizar conservação e desenvolvimento, porque é isso que precisamos manter.
Existe outra expedição marcada?
Mariana – Temos planejado, ao longo do ano, outras pequenas expedições por terra, no riacho, levantamento da flora de aves e outros grupos. No ano que vem temos outra expedição ao longo do Rio, em meados de fevereiro, quando ele está mais cheio. Percorremos mais uma vez o mesmo percurso para podermos comparar as informações com as deste ano.
Atividades empregam novos modelos de drones
No que diz respeito ao uso de veículos aéreos não tripulados – os drones –, o estudante de Ciências Ambientais, Igor Souza, que também integra o Lapig, compartilhou que, este ano, o diferencial foi a utilização de novos modelos para a realização do mapeamento.
Das 150 lagoas analisadas, a seca foi uma característica alarmante observada nos resultados obtidos. Com isso, o trabalho de acessibilidade das equipes do Araguaia Vivo 2030 sofreu algumas limitações.
Segundo o estudante, cada ano conta com desafios únicos. "Foi a segunda vez que pilotei essa aeronave, então sempre tem a questão do clima e do local onde será a pilotagem".
Fonte: Secom UFG
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