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Universidade Federal de Goiás
Indústria farmacêutica

Pesquisador analisa transformação econômica e política da indústria farmacêutica

Em 15/04/24 16:11. Atualizada em 15/04/24 16:14.

Estudo realizado na UFG aponta práticas controversas, como financiamento eleitoral e influência sobre órgãos reguladores

Ricardo Lima
Jayme Leno

As corporações farmacêuticas não são apenas gigantes econômicos, mas também desempenham um papel importante na saúde e no bem-estar da população global. Entretanto, o crescimento acelerado dessa indústria traz também a marca de estratégias complexas e, em alguns casos, questionáveis.

Em sua pesquisa de doutorado, o pesquisador João Stacciarini analisou a ascensão do setor farmacêutico, desde a descoberta da penicilina, em 1928, até se tornar um dos maiores e mais influentes setores econômicos da atualidade. A tese "A consolidação do setor farmacêutico na economia global: crescimento, influência, desvios e marketing", orientada pelo professor Eguimar Felício Chaveiro, foi defendida no Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO) da Universidade Federal de Goiás (UFG).

O estudo aborda o impressionante impacto econômico do setor, com receitas quadruplicadas nas últimas duas décadas, atingindo 1,48 trilhão de dólares em 2022. Além disso, a pesquisa examina práticas controversas adotadas pela indústria farmacêutica, o que ressalta a necessidade de maior transparência e regulamentação.

Entre as práticas elencadas estão: investimento de bilhões de dólares em lobby e financiamento eleitoral, influência sobre órgãos reguladores, patrocínio a autores de "Diretrizes Clínicas", manipulação e ocultação de pesquisas e testes de medicamentos, e direcionamento de investimentos maciços para fortalecer laços com prescritores, hospitais universitários e instituições acadêmicas.

 

Leia também: Uso de suplementos alimentares sem orientação profissional é comum entre atletas, revela estudo da UFG

 

Indústria farmacêutica

Na TV, o setor farmacêutico está não apenas nos intervalos, mas dentro da programação (Imagem: Reprodução)

 

Disease mongering

"No último século, o setor farmacêutico passou de uma atividade de pequena escala, muitas vezes familiar, para uma das maiores indústrias em fluxo de capital no mundo", explica o pesquisador. Ele observa que esse crescimento tem sido acompanhado por uma dependência cada vez maior da sociedade em relação aos medicamentos.

Um dos fenômenos observados é o disease mongering ("criação de doenças"). Empresas criam doenças ou ampliam o conceito de enfermidades para promover a venda de medicamentos. Um dos exemplos é o Viagra. O medicamento, originalmente pesquisado para problemas cardiovasculares, tinha como efeito colateral a ereção. Diante disso, a empresa identificou uma oportunidade de mercado e direcionou esforços para promover o remédio como tratamento para disfunção erétil.

Após seu lançamento, personalidades jovens, como jogadores de futebol e baseball, foram contratadas para atuarem como garotos-propaganda e engajar as vendas junto ao público. Desde o seu lançamento, em 1999, o Viagra já rendeu mais de US$ 35 bilhões em receitas para a sua fabricante.

O enorme sucesso comercial do fármaco incentivou as indústrias farmacêuticas a expandirem o mercado de medicamentos sexuais para as mulheres, começando a propagar uma condição sexual feminina comparável à disfunção erétil masculina.

 

Indústria farmacêutica

Investimento em marketing televisivo pelo setor farmacêutico no Brasil (Fonte: Ibope)

 

Influência

João destaca ainda que essas práticas questionáveis, combinadas com a influência significativa do setor sobre os órgãos reguladores, podem gerar preocupações sobre a segurança e eficácia dos medicamentos. "As empresas têm uma influência muito grande em órgãos reguladores e movimentam trilhões de reais anualmente", destaca.

O estudo aponta para a necessidade de uma aplicação mais rigorosa da legislação. "Embora tenhamos uma legislação no Brasil, ela não é cumprida. Ademais, o setor farmacêutico é um dos maiores investidores em marketing do país, com algumas empresas direcionando mais de R$ 1 bilhão ao ano para a atividade", afirma João. Entre os métodos eticamente questionáveis para anunciar e divulgar seus medicamentos estão o marketing agressivo e o uso dos chamados influenciadores digitais.

Segundo o pesquisador, quase não há punição para esse tipo de ação, daí a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa e uma legislação mais eficaz para controlar algumas práticas.

Acesse aqui a tese "A consolidação do setor farmacêutico na economia global: crescimento, influência, desvios e marketing".

 

* Crédito da foto de capa: Guilherme Santos.

Fonte: Secom UFG

Categorias: Saúde Iesa Notícia 2