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Universidade Federal de Goiás
Pesquisa Jardim Goiás

Pesquisa da UFG apresenta diversidade social dos moradores do Jardim Goiás

Em 03/07/24 11:32. Atualizada em 03/07/24 11:33.

Regiões periféricas, como a Vila Lobó e o Edifício Olímpico, ganharam visibilidade no estudo

 

Pesquisa Jardim Goiás

Moradoras em frente a uma casa no Jardim Goiás: população conserva laço afetivo com o bairro (Fotos: Arquivo Pessoal)

 

Guilherme Oliveira*

O processo de urbanização das grandes cidades tende a segregar sua população, separando seus centros comerciais e habitacionais das comunidades periféricas. Uma pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG) concluiu, no entanto, que dentro de um mesmo bairro é possível encontrar diversos nichos da população que pertencem a classes sociais distintas.

Ao pesquisar o Jardim Goiás, setor nobre da capital goiana, a pesquisadora Bruna Santos da Silva trouxe outras perspectivas, vozes e visões de mundo presentes no bairro. Para isso, deu luz às narrativas dos moradores da Vila Lobó e do Edifício Olímpico, regiões invisibilizadas no setor. O intuito foi desconstruir a ideia de que o bairro concentra apenas um único perfil populacional.

Realizada no Programa de Pós-Graduação em Projeto e Cidade da Faculdade de Artes Visuais (FAV), a pesquisa procurou dar visibilidade a áreas pouco reconhecidas pela sociedade. Bruna explica que, quando se pensa no Jardim Goiás, os goianienses costumam associá-lo aos locais de alta renda, como os arredores do Shopping Flamboyant, do Parque Flamboyant e do Estádio Serra Dourada.

O estudo traz um olhar diferente ao mostrar que existem diversos tipos de centralidade dentro de um mesmo espaço. Ao se direcionar para a voz popular presente no bairro, o estudo apresenta as particularidades da região que são invisíveis aos olhos da maioria. Para Bruna, a intenção foi "desconstruir essa ideia de que a centralidade concentra ali só um único tipo de população, de renda, mas que há uma diversidade de pessoas e histórias".

 

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Pesquisa Jardim Goiás

Duas realidades: à esquerda, heliponto na área do Shopping Flamboyant; à direita, casas de um bairro de baixa renda

 

Cartografia contra-hegemônica

O estudo utilizou a cartografia contra-hegemônica para trazer olhares que fogem do convencional, que vão contra aquilo que é o habitual, que é hegemônico. Por meio de entrevistas, a autora trouxe outras perspectivas que confrontam a percepção de muitos de que na região do Jardim Goiás só existem pessoas de alto poder aquisitivo. "Há o esquecimento dessa parcela da população pobre, que, por morar em um suposto bairro 'nobre', ficam invisíveis", afirma Bruna.

Segundo a pesquisadora, as vivências também compõem a história da cidade, e foi exatamente isso que foi buscado nas entrevistas: enxergar a cidade para além das visões hegemônicas, que apenas mostram o centro daquela região.

Além da Vila Lobó, o Edifício Olímpico também é uma área periférica encontrada dentro do Jardim Goiás. Para muitos, trata-se de locais perigosos, com violência e marginalidade. "Porém, durante as conversas, não é exatamente isso que é relatado. O imaginário do goianiense ainda carrega histórias passadas, que não tem a ver com o local na atualidade", acrescenta Bruna.

 

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Pesquisa Jardim Goiás

Nas cartografias desenvolvidas por Bruna na pesquisa foram utilizadas colagens de imagens registradas durante o estudo de campo

 

Desigualdade

Quando os moradores que residem nas zonas periféricas do bairro Jardim Goiás foram questionados sobre a qualidade de vida do local, as respostas foram sempre vinculadas à falta de escolas, lazer e infraestrutura. Ainda assim, em suas falas, destacaram as relações tranquilas existentes na região, desmistificando as narrativas ligadas àquele lugar.

Os moradores também relataram o sentimento de pertencimento. "Eu me sinto pertencente. Fui criada aqui mesmo. Apesar dos problemas que existem aqui, não mudaria para outro lugar. Aqui está perto de quase tudo, é um lugar bom para se morar. Uma hora ou outra tem uma desavença, mas qual o bairro que não tem uma desavença? Basta a gente saber qual é o lugarzinho da gente que fica tudo bem tranquilo", afirmou Maria, nome fictício utilizado na pesquisa, e uma das moradoras ouvidas da Vila Lobó.

Segundo Maria, ela não se sente desconfortável morando ao redor de uma região elitizada. Ela acredita que quem faz o local são as pessoas que ali moram.

Mesmo se tratando de um bairro elitizado, a periferia dentro dessa centralidade ainda não possui condições habitacionais básicas. Como foi relatado, diversas pessoas daquela região não possuem acesso à água dentro de casa e precisam ir até uma nascente próxima para encher galões.

"Eu fiquei surpresa com isso, que algumas pessoas que estão localizadas ali naquela região não têm acesso a uma infraestrutura de qualidade, por mais que o restante do bairro ofereça isso para as outras populações", afirma Bruna.

A pesquisadora fala ainda sobre a dificuldade de ter acesso às pessoas que moram ali. Em função das histórias que eram relacionadas ao lugar, ela admite também ter sentido receio de entrar em contato com os moradores. Mas, com o passar do tempo, percebeu que não passavam de narrativas que não condizem mais ao local, e que apenas inviabilizam a ascensão dos seus residentes.

"As pessoas deveriam ser revistas, valorizadas, terem as suas necessidades alcançadas. Muito do que é levado para o restante do bairro não chega para as pessoas que estão ali naquela parte mais periférica. Por mais que elas estejam incluídas no mapa, dentro do Jardim Goiás, as pessoas que residem ali não têm o mesmo tipo de acesso à escola, à cultura, ao comércio", conclui.

Acesse aqui a dissertação "As outras faces da centralidade: periferias internas no bairro Jardim Goiás sob a ótica das narrativas populares".

 

* Guilherme Oliveira é estagiário de Jornalismo supervisionado por Carolina Melo e orientado por Mariza Fernandes.

Fonte: Secom UFG

Categorias: cidade Humanidades fav