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Universidade Federal de Goiás
Biblioteca sala de aula

Ensino superior precisa avançar em práticas pedagógicas antirracistas

Em 24/07/24 11:28. Atualizada em 24/07/24 11:39.

Pesquisa da UFG analisou comportamento informacional de professores das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

Eduardo Bandeira

Luiz Felipe Fernandes

Certa vez, a filósofa, escritora e ativista Angela Davis postulou: “Em uma sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”. Tendo isso em vista, a pesquisadora Sara Vieira, graduada em Biblioteconomia e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás (UFG), analisou o comportamento informacional do corpo docente da UFG, das áreas das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, em relação à temática étnico-racial em suas práticas pedagógicas.

Os resultados do estudo revelam que os professores possuem alguma familiaridade com a temática étnico-racial e que, a partir da perspectiva dos docentes, avaliada pela pesquisa, o ensino está presente na maioria dos cursos investigados. Entretanto, segundo Sara, apesar dos avanços no ambiente acadêmico, ainda existe um caminho significativo a ser percorrido para a sua plena integração e abrangência nas práticas pedagógicas.

“Falta um cuidado maior no trabalho com as questões étnico-raciais. Nessa perspectiva, embora acredite na educação com um viés transgressor, a prática pedagógica do corpo docente investigado, por si só, não pode ser considerada transgressora”, explica Sara. 

De acordo com a pesquisa, além do interesse pessoal de cada docente, é essencial o comprometimento institucional com a temática e prática antirracista. “É necessário que a universidade se empenhe em promover esses estudos dentro da sala de aula, não se limitando à realização de eventos”. A pesquisadora também alerta para a importância da educação continuada e da “reformulação dos currículos em todas as áreas do conhecimento, de modo que a temática étnico-racial seja estudada de forma abrangente”. 

 

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Biblioteca sala de aula

 

Desafio

O estudo coletou 120 respostas de professores da UFG. O questionário buscou identificar se o corpo docente discute a temática étnico-racial, as fontes de informações utilizadas e como eles as utilizam na prática pedagógica. O estudo também verificou a frequência, a satisfação ou a insatisfação no momento da busca de informações, a fase em que os professores tiveram contato com o tema, os desafios em trabalhar o assunto no ensino superior e seus posicionamentos acerca do trabalho com a temática.

Entre os desafios, elencados pelo corpo docente ao abordar a temática étnico-racial no ensino superior, estão: a insuficiência de contemplação das questões étnico-raciais e de gênero nos cursos e projetos político-pedagógicos; a falta de políticas institucionais na UFG para a discussão étnico-racial, tornando a abordagem do tema muito dependente da iniciativa individual das pessoas docentes; a necessidade de tornar as informações mais acessíveis e de aumentar a participação de grupos étnico-raciais na produção do conhecimento; e a importância da formação docente, incluindo a inserção do tema desde a formação inicial. 

A pesquisa foi orientada pela professora Andréa Pereira dos Santos, da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC),e coorientada pelo professor Erinaldo Dias Valério, do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco (DCI/UFPE).

 

Participação

Alguns dados da pesquisa chamaram a atenção de Sara. “Das 120 pessoas respondentes, 80,8% afirmaram realizar discussões sobre relações étnico-raciais, o que evidenciou que não é um tema estranho ao corpo docente, e esse fato pode estar relacionado com a execução das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no ensino superior como um todo”.

Outro dado interessante observado pela pesquisadora foi a maior disposição das mulheres docentes em participar da pesquisa, mesmo sendo minoria na composição da categoria. Ou seja, 52% das pessoas que responderam ao questionário do estudo são mulheres. Isso no universo de um corpo docente da UFG composto por 1.181 docentes homens e 1.011 mulheres, de acordo com os dados de 2023 da plataforma Analisa UFG.

 

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Sara Vieira (arquivo pessoal)
Sara Vieira: dificuldade em abordar questões étnico-raciais no cotidiano

 

Trajetória

Sara Vieira afirma que a escolha do tema se deu a partir de sua própria trajetória. “Sou uma mulher negra pesquisadora e, a partir das minhas vivências, tive a ânsia de iniciar meu percurso acadêmico com os estudos das relações étnico-raciais, com foco na população negra, ainda na graduação em Biblioteconomia, com o desenvolvimento do meu Trabalho de Conclusão de Curso intitulado 'Contribuições do acervo bibliográfico para a luta antirracista’”.

O interesse no objeto de estudo prosseguiu na pós-graduação. “As relações étnico-raciais são fundamentais para a compreensão da sociedade, bem como para o combate ao racismo e a desigualdade que aflige a população negra”, pontua.

Sara acrescenta que a pesquisa pode ser o ponto de partida para que se comece a pensar em transformações na Universidade, visando a ampliação das discussões sobre relações étnico-raciais que partam de uma prática educacional transgressora. 

“Para mim, o principal desafio em trabalhar a temática no ensino superior é a dificuldade em abordá-la como parte integrante do cotidiano. Isso gera resistência do corpo docente e do corpo discente em discutir esses temas em sala de aula”, afirma a pesquisadora.

Fonte: Secom-UFG

Categorias: educação Fic Notícia 1