Produção de suínos de abate expostos ao estresse por calor
Estratégias de manejo, nutrição e construção podem ser adotadas para evitar desconforto térmico
Paloma Ainoã Cruz dos Santos
Vivian Vezzoni de Almeida
A região Centro-Oeste do Brasil é considerada uma das principais fronteiras agrícolas do mundo, onde a disponibilidade de terra e o aumento da produção de grãos a preços competitivos, especialmente milho e soja, viabilizaram a expansão da suinocultura industrial. Entretanto, o Centro-Oeste geralmente passa por longos períodos com altas temperaturas e baixa umidade do ar, ou seja, ambiente térmico que exerce efeitos diretos e indiretos sobre os suínos e acarretam redução na produtividade, com consequentes prejuízos econômicos à atividade suinícola.
Desse modo, é importante compreender as adaptações fisiológicas dos suínos de abate associadas ao estresse por calor para auxiliar na correta implementação de estratégias de manejo, nutrição e construção (instalação e equipamentos) e, por fim, assegurar o bem-estar animal e índices zootécnicos satisfatórios.
Estresse por calor em suínos de abate
Os suínos são considerados animais homeotérmicos, isto é, mantêm a temperatura corporal, independente da variação da temperatura ambiente. Durante o desenvolvimento dos suínos desde o nascimento até a maturidade, reações fisiológicas e comportamentais são desencadeadas por estímulos do ambiente térmico ao qual os animais são submetidos.
A fase de terminação marca o período final do ciclo de produção, que geralmente acontece dos 110 até os 150 dias de vida (ou então dos 60 quilos até o peso final de abate, aproximadamente 100 quilos de peso vivo). Para suínos em terminação, a zona de conforto térmico varia de 12 a 18 °C, enquanto o desconforto térmico ocorre em temperaturas superiores a 24 °C. Portanto, é nesta fase que os suínos são particularmente suscetíveis ao estresse por calor, especialmente no Centro-Oeste, em que as temperaturas de outubro a março apresentam média entre 30 e 36 ºC.
Suínos em terminação consomem mais alimento do que necessitam, e a deposição de gordura é maior do que a de proteína, fato que aumenta o isolamento térmico. Associado a isso, a seleção genética para as características de produção (desempenho zootécnico, maior rendimento cárneo e capacidade reprodutiva) resultou em suínos com menor habilidade para enfrentar os desafios das altas temperaturas ambientais. Isso porque suínos selecionados para maior deposição muscular produzem maior taxa de calor metabólico.
Além disso, os suínos possuem número limitado de glândulas sudoríparas funcionais, uma vez que grande parte delas são bloqueadas por queratina, o que dificulta a dissipação de calor em ambientes quentes.
Durante períodos de calor intenso, os suínos aumentam a taxa respiratória e a temperatura retal. Nessas condições, os animais começam a ofegar, o que indica desconforto térmico. Suínos submetidos a temperaturas elevadas apresentam mudança comportamental, isto é, permanecem separados uns dos outros e procuram maximizar a área de superfície corporal em contato com a superfície do piso da baia a fim de realizar as trocas de calor.
Além disso, na tentativa de reduzir a produção de calor metabólico em situações de estresse por calor, os suínos diminuem sua atividade física e o consumo de ração. Devido à redução no consumo de ração, os suínos ingerem menor quantidade de nutrientes, quando seus níveis não são ajustados, o que consequentemente compromete o desempenho animal. Nesse caso, os prejuízos econômicos ocorrem em função do maior número de dias necessários para os suínos atingirem o peso de abate.
Estratégias para amenizar o estresse por calor em suínos
A adoção de práticas que contornem o desconforto térmico dentro das instalações é vital para equilibrar a eficiência produtiva com a saúde e o bem-estar dos suínos, garantindo aos suinocultores melhores resultados zootécnicos e competitividade no mercado.
As melhores práticas estão nas indicações mais simples como, por exemplo, o adequado manejo das cortinas, e, para isso, é imprescindível o monitoramento diário da temperatura e umidade do ar no microclima gerado dentro das instalações. As cortinas laterais das edificações auxiliam no controle da luminosidade, temperatura e ventilação dos galpões.
Outros fatores importantes são o fornecimento de água limpa e fresca à vontade, bem como os ajustes nas formulações das rações para atender as exigências nutricionais durante o calor. Sistemas de climatização artificiais, como ventiladores, aspersores e nebulizadores são sem dúvida nenhuma mais eficientes para auxiliar na termorregulação animal, porém a tomada de decisão em adotar um desses recursos depende da tecnificação da granja, e principalmente do nível da mão de obra.
Paloma Ainoã Cruz dos Santos é estudante do curso de Zootecnia da UFG (EVZ/UFG).
Vivian Vezzoni de Almeida é professora de Produção de Suínos da Escola de Veterinária e Zootecnia da UFG (EVZ/UFG).
Professora Vivian Vezzoni de Almeida e graduanda Paloma Ainoã Cruz dos Santos (EVZ/UFG) (Foto: Arquivo Pessoal)
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Fonte: EVZ