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Universidade Federal de Goiás
Poliomielite

Estudo revela nova interação do vírus da poliomielite no corpo humano

Em 25/10/24 09:51. Atualizada em 25/10/24 09:51.

Pesquisa realizada na UFG pode oferecer pistas para novos tratamentos

Marina Sousa

Uma pesquisa em andamento na Universidade Federal de Goiás (UFG) sugere, a partir de simulações computacionais, uma ligação entre o vírus causador da poliomielite (poliovírus) e os receptores celulares TREM-1 e TREM-2. Os resultados podem contribuir para a compreensão sobre a interação vírus-hospedeiro e abrir novas possibilidades para o tratamento da poliomielite.

O estudo é conduzido por Daniel Francisco de Sousa, mestrando em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro, do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (Iptsp), sob orientação do professor Helioswilton Sales de Campos e coorientação da professora Marcelle Silva Sales, do Departamento de Biociências e Tecnologia (Debiotec) – Imunologia/Microbiologia.

TREM-1 e TREM-2 são proteínas que desempenham um importante papel na regulação de respostas imunológicas do organismo. Elas atuam como "portas" nas células e podem ter algum papel na forma como o vírus interage com elas. A pesquisa investiga essa ligação para entender melhor como o vírus pode infectar o corpo.

Esses receptores têm sido associados a doenças infecciosas e neurodegenerativas e já foram explorados na infecção por outros enterovírus (grupo do qual o vírus da poliomielite faz parte). No entanto, nunca haviam sido explorados na infecção pelo poliovírus.

Os resultados do estudo conduzido por Daniel indicam que ambos os receptores desempenham um papel crucial na interação com o vírus. De acordo com o pesquisador, a proteína viral VP1 do poliovírus foi identificada como o principal alvo dos receptores. As regiões CDR3 de TREM-1 e CDR1 e CDR2 de TREM-2 foram destacadas como as mais envolvidas nas interações com o vírus.

Curiosamente, essas interações apresentaram uma afinidade maior pela proteína viral do que a observada no receptor CD155, conhecido por sua função na entrada do poliovírus nas células. Isso reforça a importância dos receptores da família TREM na poliomielite e sugere um potencial superior de interação com o vírus do que o já observado na interação com o CD155.

De forma mais específica, os diferentes receptores reconhecem um aminoácido em particular que compõe a VP1, sugerindo assim que terapias que tenham essa molécula como alvo podem ter um efeito promissor no controle da infecção pelo poliovírus.

Quando mutações foram induzidas em TREM-1 e TREM-2, o reconhecimento viral foi comprometido, reforçando a importância desses receptores no processo e, consequentemente, no desenvolvimento da poliomielite.

Queda na vacinação

Embora a poliomielite tenha sido controlada em boa parte do mundo, incluindo o Brasil, a queda nas taxas de vacinação representa um risco para o ressurgimento dessa doença grave, que pode causar paralisia aguda em casos severos.

Segundo dados do Ministério da Saúde, a doença está erradicada no país desde 1990, porém a cobertura vacinal está abaixo da meta de 95% desde 2016, aumentando o risco de retorno da circulação do vírus, que afeta principalmente as crianças.

"Fatores ambientais, como as enchentes no Rio Grande do Sul, podem aumentar o risco de circulação do poliovírus. Nesse sentido, falta de saneamento, más condições habitacionais e situações de calamidade pública, como a observada no Sul do país, podem contribuir para o contágio, já que a poliomielite acontece por contato direto pessoa a pessoa, pela via fecal-oral, por objetos, alimentos e água contaminados com fezes de doentes ou portadores", explica o professor do Iptsp, Helioswilton Sales de Campos.

Perspectivas futuras

Embora o estudo tenha sido realizado por meio de simulações computacionais, as descobertas sugerem que os receptores TREM-1 e TREM-2 podem desempenhar um papel relevante na infecção viral, promovendo respostas inflamatórias exacerbadas associadas aos piores quadros da doença.

Devido à complexidade de manipular o poliovírus em experimentos laboratoriais, as simulações computacionais têm se mostrado uma ferramenta importante para compreender essas interações.

Os pesquisadores esperam que os resultados sirvam como base para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas e que mais pesquisas possam elucidar os mecanismos biológicos por trás dessas interações, especialmente no que diz respeito à entrada do poliovírus no sistema nervoso central.

"Essas descobertas são um passo importante para o avanço na luta contra a poliomielite e outras doenças virais relacionadas, além de ampliar nosso conhecimento sobre o comportamento dos enterovírus", explica Daniel Francisco de Sousa.

Fonte: Iptsp

Categorias: Saúde IPTSP Destaque Notícia 1