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Universidade Federal de Goiás
Especial estágio

ESPECIAL

Em 29/10/24 00:06. Atualizada em 29/10/24 14:25.

Especial estágio

 

Luiz Felipe Fernandes

O dia começou doce para Juliana. "Com licença, a mãe da Grazi mandou te entregar". Sorrindo, ela recebe a caixa com bombons e explica ao repórter o motivo do presente: era 15 de outubro, Dia do Professor.

A coincidência da entrevista justamente naquele dia não poderia ter sido mais oportuna. O Jornal UFG chegou até Juliana Alves Carneiro em busca de histórias de estudantes que entraram para o mercado de trabalho por meio do estágio. Prestes a se formar em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Goiás (UFG), a jovem de 25 anos comemorava a data pela primeira vez, já que foi recentemente contratada como professora do Colégio Externato São José, depois de dois anos de estágio.

Juliana se cadastrou gratuitamente no Sistema Nacional de Estágio, do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), no início do curso, em 2020. Quando a vaga surgiu, passou por um processo seletivo rigoroso que envolvia a produção de uma redação e uma entrevista com duas coordenadoras. Achou que não ia passar. "Me ligaram de última hora e disseram que iriam me chamar também", conta.

A estudante foi designada para o laboratório de ciências do Externato São José – uma das escolas mais tradicionais de Goiânia. Como estagiária, atuava principalmente como apoio aos professores, mas logo surgiu o desafio de ministrar as próprias aulas para turmas da educação infantil e do ensino fundamental. "No início eu morria de medo, tinha vergonha, medo de errar. Mas conforme eu ia dando aulas fui pegando o jeito", relembra.

O esforço valeu a pena. Juliana agora é a professora que desperta a curiosidade científica nos alunos. O laboratório de ciências é para onde eles levam tudo: um passarinho machucado, uma borboleta para compor a caixa entomológica, formigas e até uma anfisbena, a cobra-de-duas-cabeças.

"A Juliana buscou recursos para oferecer conteúdos de forma lúdica para as crianças; sem ela nós não teríamos conseguido traçar um caminho com tanto significado para os alunos", afirma Aline Silva de Souza, professora da educação infantil do Externato São José.

Os resultados enchem a professora Juliana de orgulho. A partir do que aprendeu nas aulas práticas, o pequeno Thomas, de 4 anos, nos explicou que "o vento planta" os cogumelos – uma referência ao processo de dispersão dos esporos, que garante a reprodução dos fungos. E acrescentou: "Tem alguns cogumelos que não pode comer porque são venenosos".

 

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Recursos didáticos: Juliana Alves trabalha com exemplares de insetos em uma turma da educação infantil (Foto: Luiz Felipe Fernandes)

 

Profissional diferenciado

O estágio que Juliana fez é denominado não obrigatório, ou seja, não faz parte do currículo do curso nem é uma exigência para a conclusão da graduação. O estudante opta por realizá-lo para adquirir mais experiência prática, ganhar familiaridade com o mercado de trabalho ou para obter uma remuneração extra.

"Se o estudante perceber o estágio como uma oportunidade de desenvolvimento e capacitação, se ele souber aproveitar esse momento para trilhar sua carreira, ele se tornará um profissional diferenciado e, muitas vezes, já no fim do curso, terá a possibilidade de ser contratado", enfatiza a gerente de Gente e Talentos do IEL Goiás, Tarciana Nascimento. Segundo ela, cerca de 7 em cada 10 estudantes encaminhados para o estágio pelo Instituto são efetivados.

No contexto de interlocução entre universidade e mercado de trabalho, instituições como o IEL Goiás, que compõe o Sistema Fieg (Federação das Indústrias do Estado de Goiás), são chamadas de agentes de integração. Elas atuam como intermediários entre estudantes, instituições de ensino e empresas que oferecem vagas de estágio, facilitando o processo de recrutamento e contratação.

Segundo a Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) da UFG, o IEL Goiás é responsável pelo encaminhamento de quase metade dos estagiários não obrigatórios da Universidade. Atualmente, mais de 1,7 mil estudantes da UFG estão fazendo estágio não obrigatório em diversas empresas – destes, 620 foram encaminhados pelo IEL Goiás. Outros 263 estão em processo de seleção (veja infográfico). Diariamente são ofertadas vagas em diversas áreas, que podem ser acessadas no Mural de Vagas da Prograd/UFG ou pelo Instagram IEL Goiás Estágios.

 

Especial estágio

 

O caminho até a contratação

Hozana de Godoi Santos esteve recentemente entre esses estudantes. Assim como para a maior parte dos universitários brasileiros, o acesso e a permanência no ensino superior não foram fáceis.

Pela necessidade de se manter financeiramente no decorrer do curso, ela precisou conciliar as aulas e os estágios obrigatórios da graduação em Farmácia na UFG com o estágio não obrigatório que conseguiu no início de 2024 na Casa de Eurípedes, um hospital psiquiátrico de referência em Goiânia.

Bastaram três meses de estágio para que Hozana se tornasse uma candidata competitiva para uma vaga de auxiliar de farmácia que surgira na unidade de saúde. Hozana foi então contratada. Aos 25 anos e recém-formada – sua colação de grau ocorreu no início de outubro –, o fim da graduação veio com um notícia ainda melhor: em breve ela será promovida a farmacêutica da Casa de Eurípedes.

A agora farmacêutica hospitalar atribui grande parte do seu sucesso profissional ao estágio. "A gente tem a experiência na sala de aula, mas quando a gente vai para o mercado de trabalho é outra coisa!", relata. Hoje Hozana trabalha em uma escala de 12 por 36 horas e é responsável pela medicação dos pacientes, por organizar e controlar o estoque, entre outras atividades.

De estagiário a gerente

A trajetória de Hozana é fruto do que os especialistas chamam de protagonismo estudantil. "Nós sempre buscamos dizer ao estudante que ele é o protagonista da sua carreira, da sua história acadêmica", pontua a diretora de Acompanhamento e Promoção Estudantil da Prograd/UFG, Ana Cristina Silva Rebelo. Na prática, isso significa que, se houver interesse e dedicação, é bem provável que o estudante encontrará um estágio e aumentará suas chances de sair da graduação empregado.

Foi o que aconteceu com o engenheiro eletricista Thiago Moreira. O ano era 2007 e o então estudante universitário se candidatou a uma das duas vagas de estágio para atuar na implantação da TV UFG, coordenada pelo hoje professor aposentado Uvermar Sidney Nince, responsável técnico do projeto. Thiago não foi selecionado.

"Fui até o professor e pedi para ser incluído no projeto como voluntário, sem remuneração", recorda Thiago, que foi aceito e passou a estagiar voluntariamente. A TV UFG entrou no ar em 2009, ano em que foram abertas duas vagas para contratação efetiva de profissionais de engenharia. Na reta final do curso, Thiago se candidatou e foi selecionado para uma das vagas.

"Thiago participou dos primeiros esboços do projeto: realizou teste de fábrica nos equipamentos, acompanhou a instalação, fez teste de campo em todos os equipamentos. Quando a TV entrou em operação, ele tinha todos os conhecimentos práticos e teóricos para desempenhar seu papel como engenheiro", garante o professor Uvermar.

Hoje Thiago olha para trás com a convicção de ter tomado a decisão correta. "Se eu não tivesse tido aquela iniciativa, de ser um estagiário voluntário, não sei se eu teria conquistado o que tenho hoje". E a ascenção na carreira continuou. Atualmente Thiago é gerente de Engenharia e Operações da Fundação Rádio e Televisão Educativa e Cultural (RTVE), que detém a concessão da TV UFG – emissora cuja história se confunde com sua própria trajetória profissional.

 

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Hozana de Godoi e Thiago Moreira foram protagonistas de suas carreiras, conseguindo efetivação logo após o estágio (Fotos: Arquivo Pessoal)


Estágio: uma via de mão dupla

São várias as vantagens de complementar a formação superior com um estágio não obrigatório. A gerente de Gente e Talentos do IEL Goiás, Tarciana Nascimento, enumera algumas delas: interação com o mercado de trabalho, desenvolvimento de habilidades e competências, construção de uma rede de contatos profissionais (networking), capacitação e possibilidade de obtenção de uma renda extra.

"À medida que o aluno começa a desenvolver suas habilidades e seus conhecimentos, ele também começa a perceber e trabalhar suas deficiências", acrescenta Tarciana. Além disso, no estágio o estudante também pode descobrir o que não quer para a sua carreira.

"O estágio ajuda a definir se nós queremos ou não determinada área ou formação. 'Será que eu gosto dessa área? Será que é isso que eu quero para mim?'", pondera o engenheiro eletricista Thiago Moreira, gerente de Engenharia e Operações da Fundação RTVE. Graças ao estágio, ele pôde conhecer e se decidir pela carreira nas telecomunicações.

Mas qual a vantagem para uma empresa em contratar estagiários? Segundo a diretora de Acompanhamento e Promoção Estudantil da Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Federal de Goiás (Prograd/UFG), Ana Cristina Silva Rebelo, estudantes têm vontade de aprender e podem contribuir com novas ideias e otimizar processos. Além disso, é uma oportunidade para as empresas formarem novos talentos e garantir seus futuros profissionais.

 

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Ana Cristina Silva Rebelo, diretora de Acompanhamento e Promoção Estudantil da Prograd/UFG (Foto: Carlos Siqueira)

 

Estagiárias inovadoras

Uma mostra dessa via de mão dupla é revelada anualmente pelo Prêmio IEL de Talentos, que reconhece as melhores práticas de estágio e projetos inovadores. Na 20ª edição do prêmio, realizada em 2024, as estudantes da UFG Alessandra Arnaudin Rabelo e Jaine de Jesus dos Santos ficaram em primeiro lugar nas categorias Estagiário Inovador – Grande Empresa e Estagiário Inovador – Média Empresa, respectivamente.

Estudante de Medicina Veterinária e estagiária na prefeitura de Senador Canedo (GO), Alessandra propôs um projeto para levantar dados sobre animais em abrigos no município. Jaine, estudante de Direito e estagiária na construtora Palme, na capital, apresentou um projeto para profissionalizar os trabalhadores nas obras da empresa.

"Existe a satisfação pessoal em ganhar o Prêmio IEL, mas também é importante para mostrar uma realidade para a qual não se dá muita importância. Com a visibilidade que o prêmio proporciona, essa realidade possa ser mudada, podendo impactar vidas e famílias", afirmou Jaine na ocasião do prêmio.

Formações mais diversas

À primeira vista, uma estagiária de Direito em uma construtora, propondo um projeto de alfabetização de adultos, pode parecer estranho. Mas essa é a tendência do mercado de trabalho, sobretudo com a diversificação na formação superior.

Ana Cristina explica que, atualmente, a Prograd/UFG busca divulgar, junto aos agentes de integração, o leque de atuação proporcionado pelos diferentes cursos de graduação. Isso porque, segundo a diretora, a hegemonia de funções tradicionalmente ocupadas por estudantes de Administração, Ciências Contábeis e Direito, por exemplo, tem dado lugar a oportunidades para estagiários dos mais diferentes cursos, como Museologia, Ciências Sociais, Biblioteconomia ou Relações Internacionais.

"Às vezes a própria empresa não sabe que pode oportunizar vagas em determinadas áreas", observa Tarciana. Ela explica que o IEL Goiás possui uma área específica para o relacionamento com as empresas, justamente para informar sobre as diferentes formações profissionais, para quais atividades elas habilitam o estudante e como elas podem agregar nas atividades da organização.

 

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Tarciana Nascimento, gerente de Gente e Talentos do IEL Goiás (Foto: Empreender em Goiás)

 

Instituições se reestruturam para impulsionar
mercado de trabalho goiano

Nos últimos anos, a Universidade Federal de Goiás (UFG) tem registrado sucessivos aumentos no número de convênios de estágio não obrigatório. Em 2023, foram firmados 4.250 contratos. Este ano, até o mês de agosto, esse número já chegou a 3,5 mil (veja infográfico).

O aumento é resultado da reestruturação interna da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd), iniciada em 2022. Entre as cinco diretorias criadas, a Diretoria de Acompanhamento e Promoção Estudantil (Dape) ficou responsável pelos programas e projetos que possam contribuir para a permanência do estudante.

Além de abrigar a Central de Estágios, estão na alçada da Dape programas como a Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), o Programa de Iniciação à Pesquisa das Licenciaturas (Prolicen), o Programa de Educação Tutorial (PET), entre outros.

Como parte das ações voltadas ao estágio, a Dape desenvolveu o projeto UFG Carreiras, com o objetivo de facilitar a integração do currículo acadêmico ao mundo do trabalho. Um dos efeitos foi a desburocratização dos processos, atendimentos on-line e presenciais da Central de Estágios, uso de plataformas digitais e simplificação da documentação.

A diretora de Acompanhamento e Promoção Estudantil da Prograd/UFG, Ana Cristina Silva Rebelo, explica que o UFG Carreiras surgiu como desdobramento do que já ocorria na Feira de Estágios, realizada durante o Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão da UFG (Conpeex), que ocorre anualmente.

Na edição de 2023 da Feira de Estágios, a ação foi ampliada com a parceria da Associação de Egressos e Egressas da UFG e de representantes de sindicatos, conselhos regionais e agentes de integração, como o IEL Goiás. Com isso, foi possível firmar novas parcerias, ampliando o número de vagas e diversificando o seu perfil.

"O projeto tem como um dos eixos oportunizar aos estudantes o acesso às informações e aos conhecimentos que possibilitem que eles compreendam os novos modelos de carreira para o planejamento da sua trajetória profissional", descreve Ana Cristina. As atividades práticas incluem palestras, cursos, mentorias e visitas técnicas às organizações e empresas parceiras.

O UFG Carreiras ficou em primeiro lugar na categoria Educação Inovadora – Ensino Superior do Prêmio IEL de Talentos de 2024.

 

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Reposicionamento

Também em resposta às demandas de um mercado de trabalho cada vez mais tecnológico e inovador, o IEL Goiás, principal agente integrador parceiro da UFG, passou por um recente reposicionamento. A estratégia tem como foco a otimização da gestão empresarial e o desenvolvimento de pessoas, alicerçada em 54 anos de experiência no mercado.

Reconhecido por seu programa de estágio, o IEL Goiás busca agora se tornar uma instituição referência em consultoria empresarial. Em março, o Instituto se tornou uma Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT).

"Vamos continuar preparando bem os jovens, entregar jovens talentosos para o mercado, mas também vamos preparar o mercado para receber esses jovens talentosos, e com isso esperamos causar um impacto ainda mais positivo na sociedade", afirma o diretor do IEL Goiás, Flávio Rassi, que também é primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg).

A consultoria realizada por meio do Programa de Excelência Empresarial oferece serviços como planejamento estratégico, Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), otimização de processos e gestão da qualidade. Já o Programa de Desenvolvimento de Gente e Talentos vai além do programa de estágio, incluindo também o Programa Jovem Aprendiz IEL e o Programa Inova Talentos, que auxilia empresas a implementar projetos de inovação.

"Quando vamos a uma empresa falar de gestão da inovação, estamos falando de gente, de pessoas que vão executar esses projetos", observa a gerente de Gente e Talentos do IEL Goiás, Tarciana Nascimento. Ela destaca que o fato de a UFG ter um programa de estágio consolidado e bem estruturado coloca a instituição como uma grande parceira no mercado goiano.

"A formação do estudante da UFG se dá de forma integrada, com ensino, pesquisa, extensão e inovação. Isso faz com que nossos estagiários sejam bem recebidos no mercado de trabalho", finaliza a diretora da Prograd/UFG.

Fonte: Secom UFG

Categorias: Institucional Prograd