Pesquisa revela inovação tecnológica de primeiros humanos do Brasil Central
Novas descobertas arqueológicas desafiam classificações convencionais e mostram variabilidade e adaptações de ferramentas
Artefato lítico (de pedra) do acervo coletado no sítio arqueológico GO-Ni.1 Caieira Barreiro, em Planaltina de Goiás (Foto: MA/UFG)
EM SÍNTESE:
- Análise 3D de ferramentas líticas revela complexidade tecnológica no povoamento inicial do Brasil Central.
- Estudo contou com parcerias internacionais e utilizou técnicas inovadoras para mapear variações morfoestruturais.
- Pesquisa desafia classificações tradicionais e destaca adaptação às condições ambientais e culturais.
João Lúcio
Novas análises de artefatos encontrados em um sítio arqueológico de Planaltina de Goiás revelam uma produção e inovação tecnológica no povoamento inicial do Brasil Central mais complexa do que se pensava. Os resultados do estudo foram publicados na revista científica internacional Plos One.
A pesquisa foi realizada por meio da parceria do Laboratório de Arqueologia (LabArq) do Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás (MA/UFG) com a doutoranda Marina González-Varas, do Musée de l’Homme (França), sob orientação de pesquisadores da Universidad Tecnológica de Pereira (Colômbia), Institut Français d’Etudes Andines (Peru) e Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás).
Por meio de escaneamento das peças em 3D, a investigação identificou uma diversidade morfológica e funcional de ferramentas líticas (feitas a partir de pedras) que compõem a coleção do sítio arqueológico GO-Ni.1 Caieira Barreiro.
A hipótese do estudo era a de que a variabilidade observada nas ferramentas resulta de uma combinação de fatores, incluindo a disponibilidade de matéria-prima e os requisitos funcionais e ergonômicos.
Para testar essa hipótese, os pesquisadores analisaram 67 ferramentas unifaciais. A investigação utilizou análise morfométrica geométrica 3D e tecnoestrutural aplicada para investigar a variabilidade de ferramentas unifaciais do Holoceno no Brasil Central tropical.
Marina explica que a tecnologia estrutural foca em como as ferramentas são organizadas em componentes funcionais distintos e a morfometria geométrica em 3D proporciona análises altamente precisas da variação geométrica das diferentes partes de cada ferramenta e entre elas.
A metodologia permitiu quantificar com precisão a geometria das ferramentas e explorar suas potenciais funções, revelando uma diversidade morfoestrutural significativa dentro dos grupos tecnoestruturais, desafiando classificações tipológicas convencionais. A análise demonstrou que a variabilidade das ferramentas é um reflexo de uma abordagem sofisticada e provavelmente surgiu de adaptações às condições ambientais e culturais.
"A pesquisa amplia a compreensão sobre os sistemas tecnológicos paleoamericanos na América do Sul e ressalta a importância das ferramentas unifaciais como indicadores culturais e tecnológicos", destaca Marina.
O arqueólogo do LabArq, Rafael Lemos, acrescenta que, para a pesquisa realizada na UFG, essa investigação é particularmente relevante, pois contribui para o entendimento do contexto arqueológico local e regional, destacando a importância do sítio GO-Ni.1 como um espaço de produção e inovação tecnológica.
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Variabilidade das formas e localização das unidades estruturais de um artefato (Imagem: González-Varas et al., 2025)
Coleção revisitada
A coleção lítica do sítio arqueológico de Planaltina de Goiás já havia sido estudada no início da década de 1970, mas nos últimos dois anos o material passou por uma nova curadoria, com a troca das antigas etiquetas e caixas, além da atualização dos inventários, no âmbito do projeto Pesquisa, Salvaguarda e Comunicação Museal dos Acervos Arqueológicos do Museu Antropológico/UFG.
O acervo foi revisitado em diferentes situações e em cada uma delas demonstrou potencialidades de diálogos, descobertas e novas pesquisas. Esta pesquisa, com uma pequena amostra do acervo, possibilitou que estes artefatos líticos fossem interpretados como vestígios arqueológicos que oferecem informações cruciais para entender as habilidades, conhecimentos e identidades técnico-culturais dos grupos estudados.
"Nessa perspectiva, o estudo com o acervo do GO-Ni.1 avança com novas experiências e narrativas com as materialidades, e colabora no exercício para o diálogo com o público", conclui a pesquisadora do LabArq, Tatyana Beltrão.
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Fonte: MA
Categorias: arqueologia Humanidades MA Destaque Notícia 1