Mulheres reunidas no Fórum Nacional de Organismos de Políticas para as Mulheres, em 2023 (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

Luiz Felipe Fernandes
Eduardo Bandeira

As mulheres brasileiras são mais favoráveis que os homens à adoção de crianças por casais homossexuais, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e aos direitos da população LGBT de se candidatarem a cargos públicos. A conclusão é de uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (FCS/UFG).

Entretanto, quando se trata de questões morais, a tendência se inverte, com as mulheres apresentando posições mais conservadoras. Elas tendem a se opor aos seguintes temas: descriminalização do uso de drogas, redução da maioridade penal, privatizações dos serviços públicos, que os ricos paguem muito impostos e recebam pouco em serviços do Estado, e são mais propensas a se opor ao aborto mesmo em caso de risco de vida da mãe.

Para chegar aos resultados, a pesquisadora Shirley de Jesus Oliveira Pereira, sob orientação do professor Pedro Mundim, analisou respostas dadas por homens e mulheres sobre determinados assuntos públicos em questionários de pesquisas de opinião pública já realizados. Foram utilizados o Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB/Cesop) de 2022 e o Latin American Public Opinion Project (LAPOP) de 2018/2019.

Por meio de regressão logística e linear – técnica estatística que analisa a relação entre variáveis –, Shirley chegou às tendências de respostas de homens e mulheres nos seguintes temas: políticas de bem-estar social, direitos de minorias, igualdade de papéis entre homens e mulheres, apoio à democracia e questões morais.

Gênero e democracia

Apesar da tendência progressista das mulheres nos direitos de minorias, a pesquisa revela que elas são menos propensas a acreditar que a democracia seja o melhor sistema de governo e estão mais insatisfeitas com a democracia no Brasil do que os homens.

Para a pesquisadora, esse dado se mostrou um dos mais surpreendentes. "Não se esperava que as mulheres concordassem menos do que os homens com a afirmativa de que a democracia é sempre preferível a qualquer outra forma de governo, e demonstrassem estar mais insatisfeitas com a democracia no país".

Essa menor satisfação com a democracia, sugere Shirley, pode estar ligada à maior falta de garantia de direitos fundamentais para as mulheres no país, uma vez que a democracia brasileira ainda não se traduz em igualdade de oportunidades e segurança para elas, especialmente em relação à violência doméstica e ao feminicídio.

Acesse aqui a dissertação "Vozes divergentes? Uma análise de gênero das opiniões sobre assuntos públicos no Brasil".