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Livros infantis são traduzidos para a Escrita das Línguas de Sinais
Criada por professora da UFG, a ELiS se destaca por ser econômica e linear
Livros infantis impressos com a Escrita das Línguas de Sinais: internalização de forma orgânica (Foto: Samanta Nascimento)
Eduardo Bandeira
Histórias expandem a imaginação e a criatividade, seja ao relatar o passado ou ao criar novos universos. Sabendo disso, a professora da Faculdade de Letras (FL) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Mariângela Estelita Barros, utilizou a Escrita das Línguas de Sinais (ELiS), criada por ela, para adaptar contos infantis, como os dos Irmãos Grimm, para crianças surdas.
O projeto possibilitou o lançamento da primeira coleção de livros em formato digital em 2021, por meio do site da editora Tutti. Na ocasião, a editora publicou edições de títulos como "O príncipe sapo", "Os doze caçadores", "Os sete corvos", entre outros.
Para a professora Mariângela, a ELiS se destaca entre os sistemas de escrita para Libras por sua estrutura econômica e linear, além de apresentar menos redundâncias. A SignWriting, por exemplo, ocupa maior espaço, segunda ela.
Para se ter uma ideia, enquanto a ELiS conta com 95 visografemas (elementos visuais), a SignWriting possui mais de 900. Essa diferença torna a ELiS mais prática, especialmente no ambiente digital, onde é possível utilizar sua fonte e um teclado comum, sem a necessidade de softwares específicos.
Visografemas da Escrita das Línguas de Sinais, criadas por professora da UFG
Maior alcance
Mariângela relata que o maior desafio enfrentado na consolidação da ELiS é o desconhecimento social e a falta de compreensão sobre sua proposta. Ela lembra que, durante a fase inicial, o desenvolvimento da escrita foi um processo solitário, mas, na fase de aperfeiçoamento, mais pessoas passaram a apoiá-la. Quando a escrita foi introduzida na UFG e começou a ser ensinada, passou a existir de forma mais independente.
Para ampliar seu alcance, um projeto em andamento é a criação de um curso a distância sobre a escrita. A ideia, segundo Mariângela, é fazer a ELiS "sair de casa", levando a escrita para além da UFG, com a intenção de alcançar uma audiência global.
Outro projeto em desenvolvimento é um dicionário geral de Libras, previsto para ser lançado no próximo ano, além de diversos glossários temáticos. Além disso, a professora está finalizando dois livros: um sobre sinais americanos com ELiS, que já está na editora, e outro de Libras, também baseado na ELiS, que será concluído em breve.
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Professora Mariângela Barros, criadora da ELiS: motivação é criar ambiente inclusivo para crianças surdas (Foto: Samanta Nascimento)
Registro da memória
E ELiS surgiu da necessidade de uma versão escrita das línguas de sinais. "Vi que o mundo escrito exclui as línguas de sinais, e isso afeta diretamente as pessoas que as utilizam. A escrita pode ser uma porta de entrada para que os surdos tenham acesso, em sua língua, a tudo o que as outras línguas oferecem. Hoje, minha maior motivação é criar um ambiente em que as crianças surdas cresçam escrevendo e valorizando sua cultura", afirma Mariângela.
A professora espera que as crianças cresçam vendo a escrita como algo natural, internalizando-a de maneira mais orgânica, assim como ocorre com as crianças ouvintes no português. Ela acredita que, ao ensinar crianças, é possível desenvolver processos cognitivos relacionados à escrita em sua língua, o que facilita a aprendizagem e a valorização dessa ferramenta.
Comunidade
As reações da comunidade surda em relação à ELiS são variadas. Enquanto alguns a acolhem como uma inovação significativa, outros a rejeitam completamente. A resistência à ELiS é mais comum entre professores de Libras com mais experiência, que argumentam ter ensinado a língua por décadas sem a necessidade de um sistema de escrita. No entanto, Mariângela ressalta a importância de compreender que a escrita de sinais amplia as possibilidades educacionais e culturais.
"Curiosamente, percebi que a apresentação de livros físicos teve um impacto muito maior do que a exibição de materiais digitais. Quando mostrei os livros físicos, até mesmo aqueles que inicialmente resistiram à ideia passaram a enxergar valor no material. Alguns comentaram, por exemplo, como seria interessante levar os livros para escolas bilíngues. Esse é o nosso objetivo: criar materiais bilíngues para atender à educação de surdos nesse contexto”, finaliza.
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Fonte: Secom UFG
Categorias: Inclusão Humanidades FL Notícia 6