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Universidade Federal de Goiás
Painel Econômico

PAINEL ECONÔMICO

Em 06/03/25 15:27. Atualizada em 06/03/25 15:46.

Energia elétrica puxa inflação de fevereiro para cima

 

Lâmpada

Energia elétrica, que faz parte do grupo Habitação, voltou a ficar mais cara e puxou índice de inflação para cima (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 

Edson Roberto Vieira
Antônio Marcos de Queiroz

Assim como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é o índice oficial de inflação, o IPCA-15 é calculado pelo IBGE e tem como base uma cesta de bens e serviços que é representativa de famílias com renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos. As diferenças fundamentais entre esses dois índices estão no período de apuração e na área geográfica percorrida para levantar os preços. Enquanto para o IPCA a coleta dos preços, em geral, se estende-se do dia 1º ao dia 30 do mês de referência, no caso do IPCA-15 o levantamento geralmente se inicia no dia 16 do mês anterior e vai até o dia 15 do mês de referência.

Além de Goiânia, o IPCA abrange as regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Distrito Federal e os municípios de Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju. Já o IPCA-15 coleta preços em todas essas regiões, com exceção de Vitória, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju.

Em fevereiro de 2025, a inflação brasileira medida pelo IPCA-15 aumentou 1,23% e, com isso, acumulou alta de 4,96% nos últimos 12 meses no país. O indicador de Goiânia também apresentou elevação em fevereiro de 2025, só que de 0,99%, ficando abaixo do brasileiro, muito embora tenha superado a média nacional nos últimos 12 meses, atingindo 5,09%.

Analisando os grupos que compõem o IPCA-15, fica claro que o que mais puxou a inflação brasileira de fevereiro foi o grupo de Habitação, que teve variação de 4,34%. O subitem que mais influenciou o resultado desse grupo foi a energia elétrica residencial, cujo preço aumentou 16,33%, depois de ter caído 15,46% em janeiro de 2025.

A razão para as variações significativas do preço da energia elétrica nos dois primeiros meses de 2025 foi o chamado bônus de Itaipu. Trata-se de um abatimento na conta de energia elétrica de consumidores residenciais e rurais que consomem até 350 quilowatts-hora (kWh) por mês, que é concedido quando há saldo positivo da conta de comercialização da Itaipu Binacional. Esse abatimento foi feito nas contas de janeiro, puxando o IPCA para baixo, mas os preços da energia elétrica voltaram ao normal e contribuíram efetivamente para elevar a inflação de fevereiro.

Em Goiânia, o preço da energia elétrica residencial também aumentou significativamente em fevereiro deste ano, avançando 13,61%. Esse avanço do preço da energia abaixo da média nacional ajuda a explicar por que o IPCA-15 no município da capital foi menor do que o do Brasil. Uma outra parte da explicação está no grupo de Transportes, que pesa mais no cálculo do IPCA-15 em Goiânia (24,34%) do que no do Brasil (20,74%) e que aumentou menos por aqui (0,21%) na comparação com a média nacional (0,44%).

Não obstante o peso do grupo de Transportes no cálculo da inflação, nesse mês de fevereiro, depois do grupo de Habitação, o grupo que teve o segundo maior impacto na inflação de Goiânia e do Brasil foi o de Educação. A elevação dos preços desse grupo foi capitaneada especialmente pelos aumentos dos preços das escolas de ensino fundamental (7,5% no Brasil e 10,4% em Goiânia), ensino médio (de 7,3% e 12,1%, respectivamente, nas duas regiões) e pré-escola (de 7,1% e 9,6%).

Tem chamado a atenção nos últimos tempos os aumentos dos preços do café e dos ovos. Somente em fevereiro, o preço do café moído avançou 11,63% no Brasil e 8,23% em Goiânia, e o dos ovos, 2,56% e 3,98%, respectivamente, nas duas regiões. Vale a pena destacar as principais causas desses aumentos. No caso do café, além do Brasil (que é o maior produtor mundial do grão), o Vietnã (o segundo) e a Indonésia, (a quarta) tiveram problemas climáticos severos que prejudicaram suas lavouras, reduzindo a oferta e aumentando os preços nos âmbitos doméstico e externo.

No que se refere aos ovos, a alta dos preços envolve diferentes fatores: uma parte relacionada ao aumento do custo de produção, puxado pela elevação do preço do milho; outra em razão dos aumentos dos preços das carnes (+21,5% nos últimos 12 meses), que estimulam a demanda de ovos; e uma terceira parte ligada à gripe aviária dos Estados Unidos, que dizimou mais de 140 milhões de aves poedeiras desde 2022, fazendo com que o país importasse mais ovos, inclusive do Brasil – cujos embarques para o mercado estadunidense aumentaram mais de 20% em janeiro de 2025 na comparação com o mesmo mês do ano passado.

A despeito de os preços do café moído e dos ovos terem se destacado, os subitens que registraram as maiores elevações de preços no país no último mês de fevereiro foram o pepino (37,0%), seguido pela abobrinha (20,6%) e pela cenoura (17,6%), que tiveram sua oferta bastante afetada por temperaturas mais altas e excesso de chuvas em importantes áreas produtoras do país. Esses problemas climáticos também fizeram com que os preços de alguns produtos alimentícios figurassem entre aqueles com os maiores aumentos em Goiânia, como a cenoura (+18,3%), o tomate (+9,5%) e o repolho (+8,8%).

Na outra ponta, os três subitens que tiveram as maiores quedas de preços no Brasil foram o abacate (-38,5%), a passagem aérea (-20,4%) e o limão (-17,4%); em Goiânia, as maiores quedas foram registradas pela passagem aérea (-26,7%), limão (-20,4%) e transporte-público (-7,8%).

Perceber que alguns preços podem subir e outros cair no mesmo período é importante para que se entenda o resultado de um índice de inflação, como o IPCA ou o IPCA-15. Além disso, é preciso lembrar que esse resultado depende não apenas da variação dos preços, mas também do peso de cada produto pesquisado nos gastos totais das famílias. Isso porque o cálculo de um índice de preços é feito por meio da média da variação dos preços, ponderada pelos pesos supracitados, que são levantados por meio de uma outra pesquisa feita pelo IBGE, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF).

Com peso de 3,17%, o preço da energia elétrica residencial em Goiânia, por exemplo, aumentou 13,61% e seu impacto no IPCA-15 foi de 0,43%. Já o preço da cenoura aumentou 18,3%, mas seu impacto no IPCA-15 goianiense foi de apenas 0,01%, uma vez que seu peso no cálculo do índice é de apenas 0,07%.

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – N. 177/fevereiro de 2025.

 

* Edson Roberto Vieira e Antônio Marcos de Queiroz são professores da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas (FACE) da UFG.

 

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Fonte: FACE

Categorias: colunistas Humanidades Face