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Universidade Federal de Goiás
Tatiana Ertner

Entre a sala de aula e o tatame: professora da UFG desafia barreiras em competições de karatê

Em 19/03/25 15:45. Atualizada em 19/03/25 15:46.

Além da carreira como docente, Tatiana Duque, do Instituto de Química, acumula conquistas internacionais na arte marcial

 

Tatiana Ertner

Na luta: professora Tatiana Duque mostra medalhas conquistadas em campeonatos de karatê (Foto: Carlos Siqueira/Secom UFG)

 

Eduardo Bandeira

Durante o dia, Tatiana Duque Martins Ertner de Almeida dedica grande parte de seu tempo aos laboratórios do Instituto de Química (IQ) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Mas, além da docência, outra paixão pulsa em seu coração: o karatê.

Em 2024, no Campeonato Brasileiro JKA (Associação Japonesa de Karatê), competindo na categoria principal master feminino 46-50 anos, ela conquistou o primeiro lugar no kumite (luta) e o segundo lugar no kata (sequência de movimentos feita somente pela atleta). No mesmo ano, em março, foi campeã mundial de kumite e kata em Malta.

A professora também foi destaque no Campeonato Pan-Americano de Karatê de 2023, realizado em Bogotá (Colômbia), onde foi vice-campeã na categoria kata e conquistou o terceiro lugar no kumite. Essa sequência de conquistas lhe garantiu o status de árbitra em algumas dessas competições.

"Eu lembro de um menino no campeonato que me viu aquecendo e disse: 'Tia, você faz karatê há muito tempo?'. Quando respondi que sim, ele contou, com os olhinhos brilhando, que a mãe dele também estava competindo. Isso reforça como nossas ações podem inspirar os outros. No Mundial, uma representante da Inglaterra me convidou para participar de um campeonato só de mulheres em Londres. É emocionante saber que posso fazer parte de algo tão especial", conta Tatiana.

Para equilibrar a vida de professora universitária com a de carateca, a docente utiliza seu tempo criteriosamente. Ela treina duas vezes por semana, das 19h30 às 20h30, com um personal trainer na academia. Aos fins de semana, pratica karatê no gramado de casa, ao som dos pássaros e na presença dos filhos.

Segundo Tatiana, a valorização de cada conquista e o estabelecimento de "micrometas" são fundamentais para manter o foco. Ela defende que dedicar o tempo disponível, mesmo que curto, a objetivos valiosos pode gerar grandes resultados. Além de professora e praticante de karatê, Tatiana é esposa e mãe de dois filhos. Ela lembra que teve grande apoio do marido que incentivou seu retorno ao tatame em 2022.

Atualmente, ela reafirma seu valor e se impõe como protagonista da própria história. "Hoje entendo que não posso me abandonar em prol dos outros. Já fiz tudo pela família, mas percebi que eu também sou parte dela. Meu marido começou a me ajudar, e isso fez toda a diferença".

 

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Tatiana Ertner

Autoconhecimento: concentração antes de mais uma competição (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Benefícios físicos e mentais

Em relação aos benefícios físicos e mentais, a docente explica que o karatê ensina disciplina, paciência e perseverança, comportamentos essenciais para alcançar o sucesso. "É uma arte que proporciona autoconhecimento e controle, e isso é algo raro em outros esportes".

Para o psicólogo Gabriel Valle de Oliveira, praticante de muay thai, a prática orientada de lutas é benéfica não só por ser um esporte, mas também por seu caráter aeróbico. Em comparação à musculação, ele destaca que atividades aeróbicas são mais vantajosas para a saúde mental, pois liberam adrenalina, auxiliam na queima de gordura, reduzem a retenção de líquidos e proporcionam um estado de mindfulness (atenção plena) de forma automática.

Outro ponto importante elencado pelo psicólogo é a filosofia das artes marciais. Nelas, a disciplina e o respeito são tão importantes quanto a técnica. O muay thai, por exemplo, originário da Tailândia, proíbe provocações antes da luta e exige que os adversários se abracem após o combate, garantindo que a agressividade seja canalizada de forma saudável. No jiu-jitsu, a tradição da família Gracie, do Brasil, incorporou práticas meditativas, e algumas academias punem brigas fora do tatame com expulsão.

Já o karatê, criado em Okinawa, segue a mesma filosofia, valorizando o autocontrole e a ética. Com estilos como Shotokan e Goju-Ryu, essa arte marcial japonesa não apenas desenvolve habilidades de defesa pessoal, mas também reforça princípios como respeito e autoconhecimento.

Outro benefício destacado pelo psicólogo é a disciplina: "Você precisa estar presente nos treinos constantemente, e a aula é extremamente exigente. O treinamento força o corpo e a mente a continuarem mesmo no limite da exaustão. O aquecimento já coloca seu coração em ritmo acelerado antes mesmo do primeiro soco. É um processo que fortalece a autoconfiança e a autoestima".

Gabriel relata que dois de seus pacientes tiveram melhoras significativas na autoestima e no desempenho escolar após iniciarem a prática de lutas. Além de ganharem mais massa muscular, tornaram-se mais confiantes e passaram a se socializar melhor, inclusive com a família.

"Para um adolescente que estava deprimido e isolado no colégio, entrar num ambiente de treino diário, onde o contato físico é constante, representa uma mudança enorme. Para alguém com ansiedade social, estar num lugar onde precisa interagir fisicamente o tempo todo é um grande avanço", explica o psicólogo.

 

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Tatiana Ertner

Tatiana garante que qualquer pessoa tem espaço no karatê (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Trajetória marcada pela persistência

Amparada pelo gerenciamento de sua saúde física e mental, a professora Tatiana vê no karatê uma lição sobre perseverança. Em sua opinião, atualmente é comum ver indivíduos desistindo de seus sonhos diante de grandes dificuldades, enquanto no karatê os desafios servem como ferramentas de evolução.

Sua paixão pelo karatê, apesar de ter sido reacendida recentemente, começou ainda na infância, quando morava em Santos (SP). Desde pequena, Tatiana se interessava pela modalidade, mesmo sem saber ao certo de onde vinha essa vontade.

Para praticar a luta, precisou convencer a irmã a ir aos treinos com ela, pois só assim os pais, que viam o esporte como algo masculino, lhe dariam permissão. Ela passou por várias faixas, começou a competir e se apaixonou pela modalidade. Mesmo durante o mestrado e o doutorado, nunca parou de treinar.

Após voltar dos Estados Unidos, Tatiana seguiu praticando, mas interrompeu os treinos por 12 anos ao se mudar para Goiânia. Em 2022, decidiu matricular o filho no karatê e, ao acompanhá-lo, resolveu retomar a prática e logo depois voltar às competições. Desde então, não parou mais.

Além de professora universitária e carateca, Tatiana também coordena um projeto de extensão sobre propriedade intelectual. As palestras abordam temas como patentes, marcas, desenhos industriais e direitos autorais.

Sobre seu futuro no karatê, a professora se mantém aberta às oportunidades e confia no processo da vida. "Desde que comecei no karatê, pensava que era algo para a vida. Mas, quando parei, pensei: 'Será que acabou?'. E, de repente, voltou. Enquanto eu puder, o karatê estará na minha vida. Ele é para todos: gente magrinha, gordinha, alta, baixa, velhinha, criança. Todos têm espaço no karatê".

 

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Fonte: Secom UFG

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