
Óleo de pequi é aliado no tratamento da osteoartrite
Colaboração entre UFG, Urca e UFS conduziu ensaio clínico com resultados promissores
Fruto típico do Cerrado, pequi tem propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes (Foto: Fabiano Bastos/Embrapa)
Eduardo Bandeira
O uso de plantas nativas do Brasil no tratamento de doenças tem ganhado destaque nas pesquisas científicas, especialmente quando se trata de explorar seus benefícios terapêuticos. Um exemplo disso é o trabalho realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS) em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e com a Universidade Regional do Cariri (Urca), que investiga o potencial do óleo de pequi no tratamento de osteoartrite.
Testes preliminares alcançaram resultados promissores. Em ensaios clínicos realizados na UFS, em que o produto foi testado em 50 mulheres com osteoartrite de joelho, foi possível observar uma melhora significativa na dor e na funcionalidade das articulações após o uso do spray de pequi formulado com nanotecnologia. "Os ensaios clínicos têm mostrado que o óleo de pequi, ao ser administrado de forma tópica, oferece benefícios consideráveis sem os efeitos colaterais comuns de medicamentos anti-inflamatórios tradicionais", afirma Ricardo Marreto, professor da Faculdade de Farmácia (FF) da UFG, que atua no projeto.
A osteoartrite é uma condição degenerativa que afeta as articulações, especialmente as de carga, como joelhos, quadris e coluna. A doença é uma das principais causas de dor crônica e limitações de mobilidade, afetando milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente aquelas a partir de 65 anos de idade, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a doença é uma das mais prevalentes, especialmente em mulheres, devido à predisposição genética, idade avançada e fatores hormonais.
Embora o tratamento convencional, com uso de anti-inflamatórios e analgésicos, seja amplamente utilizado, os efeitos colaterais, como úlceras gástricas, hipertensão e problemas renais, tornam-se um desafio para o manejo eficaz da doença. Além disso, o uso de medicamentos de forma contínua pode gerar dependência e reduzir a qualidade de vida dos pacientes. Isso tem incentivado cientistas a buscarem alternativas mais naturais e menos agressivas para o tratamento da osteoartrite.
Foi nesse contexto que surgiu o interesse pelos frutos obtidos a partir dos pequizeiros, cujo óleo contém substâncias com propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. O projeto visa utilizar nanotecnologia para aprimorar a entrega dos compostos ativos do óleo de pequi, permitindo um tratamento mais eficaz e com menos riscos.
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Ensaios clínicos realizados na UFS mostraram melhora na dor e funcionalidade das articulações (Fonte: Reprodução/TV UFS)
UFG e nanotecnologia
A UFG vem sendo responsável pelo desenvolvimento de soluções nanotecnológicas para melhorar a formulação do óleo de pequi. A nanotecnologia tem o potencial de melhorar a absorção e promover a liberação controlada dos ativos. Segundo Ricardo Marreto, que coordena, juntamente com a professora Stephania Taveira, o Laboratório NanoSYS da UFG, a aplicação da nanotecnologia na formulação de óleo de pequi possibilita uma liberação mais eficiente dos seus compostos bioativos.
"Ao incorporar o óleo de pequi em sistemas nanotecnológicos, conseguimos melhorar a penetração dos compostos ativos na pele, promovendo um alívio mais eficaz da dor e da inflamação nas articulações".
A formulação do spray foi um marco no avanço da pesquisa, pois conseguiu superar as limitações observadas em outras tentativas de usar o óleo de pequi como tratamento. De acordo com o professor da UFG, uma das dificuldades enfrentadas nas fases iniciais da pesquisa foi a estabilidade do óleo e a liberação eficaz dos compostos. "A nanotecnologia permitiu criar uma versão mais estável e mais eficaz para o alívio da dor e inflamação", conta.
Pesquisa colaborativa
O sucesso do projeto tem sido possível devido à colaboração entre as universidades envolvidas. A UFG, com sua expertise em nanotecnologia, foi fundamental para a formulação da apresentação avançada contendo o óleo de pequi. Já a Urca, por meio do professor Irwin Meneses, foi responsável pelos primeiros estudos sobre as propriedades terapêuticas do pequi; a UFS coordenou os ensaios clínicos que validaram a eficácia do produto, com os professores Lucindo Quintans e Walderi Monteiro.
"A parceria entre essas instituições de ensino tem sido crucial para o sucesso do projeto. Cada universidade contribuiu com sua expertise específica, e a junção desses conhecimentos resultou em uma pesquisa de alto nível, com resultados promissores para a saúde pública", afirma Ricardo.
Além disso, a colaboração é vista como uma forma de promover o desenvolvimento regional e incentivar a utilização de recursos naturais do Brasil. "A pesquisa não apenas contribui para a saúde da população, mas também valoriza um produto genuinamente brasileiro, que pode ser usado de forma sustentável para gerar benefícios para a economia e o meio ambiente".
Produção em escala
Apesar dos avanços, o projeto enfrenta desafios, principalmente em relação à produção em larga escala do spray de pequi. "O desenvolvimento do produto é um processo demorado, e um dos maiores obstáculos é garantir a produção em larga escala de maneira sustentável", afirma Ricardo. Para viabilizar a comercialização, a equipe de pesquisa busca parcerias com o Polo Farmacêutico de Goiás, que pode apoiar a produção em maior escala, além de garantir a qualidade e segurança dos produtos.
Outro desafio é o financiamento. A falta de investimentos em pesquisas sobre a biodiversidade brasileira ainda é um problema. "O governo poderia investir mais em pesquisas que envolvem a biodiversidade do país. Temos uma riqueza imensa de plantas medicinais, e muitas delas ainda não foram estudadas a fundo. Investir nesse tipo de pesquisa é garantir um futuro mais saudável e sustentável para a população", considera o professor da UFG, destacando que a colaboração com o governo, empresas e outras instituições de pesquisa é fundamental para o sucesso do projeto.
Potencial econômico e ambiental
Além dos benefícios para a saúde, o uso do pequi no tratamento de osteoartrite tem grande potencial econômico. O pequi é um fruto nativo da Caatinga e do Cerrado, que possui uma grande importância cultural e econômica para a região Centro-Oeste e Nordeste do Brasil. A utilização do pequi para fins terapêuticos não apenas valoriza essa planta, mas também pode gerar novas oportunidades de negócios e fomentar o desenvolvimento sustentável da região.
Ricardo acredita que o desenvolvimento de novos tratamentos baseados na biodiversidade brasileira pode ser um motor para a inovação e o crescimento econômico. "O Brasil possui uma das maiores biodiversidades do mundo. Precisamos explorar e valorizar nossos recursos naturais de forma sustentável, tanto para a saúde da população quanto para o desenvolvimento econômico", afirma.
Ele ainda menciona a recente aprovação da Lei 15.089, que institui a Política Nacional para o Manejo Sustentável do Pequi, e que deverá facilitar a exploração comercial da planta. "Essa legislação é um passo importante para garantir a preservação do pequi e incentivar sua utilização de forma sustentável".
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Fonte: Secom UFG