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Universidade Federal de Goiás
Angelita Pereira de Lima

"Orgulhosa porque a UFG se manteve firme e crescendo em tempos difíceis", diz reitora em balanço de sua gestão

Em 17/04/25 15:39. Atualizada em 17/04/25 15:40.

Em entrevista ao Jornal Opção, Angelita Pereira de Lima destaca avanços em meio a cortes orçamentários e pandemia

 

Angelita Pereira de Lima

Reitora Angelita Pereira de Lima recebeu a reportagem do Jornal Opção na Reitoria da UFG (Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção)

 

Italo Wolff*

No dia 4 de abril, o Jornal Opção foi à reitoria da Universidade Federal de Goiás (UFG) para conversar com a reitora Angelita Pereira Lima sobre o período de quatro anos de sua gestão, que se encerra no fim de 2025. Chegando ao Campus Samambaia pela Alameda Flamboyant, se vê à direita uma estrutura em obras – dois prédios, um concluído e outro praticamente pronto, no Parque Científico e Tecnológico. As novas construções chamam a atenção de quem não visita a Universidade há alguns meses.

Um dos prédios será o Centro de Inovação e Empreendimentos Tecnológicos (Ciet), construído com recursos da Finep e da Fapeg. O outro é o Centro de Excelência em Estudos Moleculares em Energia e Petróleo (Cemep), que tem investimento de R$ 27 milhões proveniente de uma parceria da UFG com a Petrobras. As construções no Parque Científico e Tecnológico têm em comum o fato de que foram financiadas por outras instituições, e não com o orçamento discricionário da UFG.

Às 16h, Angelita Lima recebeu a redação em seu gabinete. Ela tinha acabado de terminar uma reunião com o reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), que viera à Goiânia conhecer o Instituto de Informática (INF), interessado em criar no Pará um curso de Inteligência Artificial aos moldes daquele que é o curso com maior demanda da UFG.

A reitora comentou que o Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia), aliás, estava com um "problema" agradável. Na semana anterior, a UFG tinha sido a primeira universidade da América Latina a receber supercomputador de inteligência artificial (IA) da Nvidia, mas não tinha onde colocá-los até que o Ciet, no Parque Tecnológico, ficasse pronto. Por isso, os computadores já em operação atualmente funcionam em uma unidade do governo do Estado.

Eterno problema orçamentário

Angelita Pereira Lima se lembrou de quando assumiu a reitoria, em 2022. Questionada a respeito do principal problema que enfrentou naquela época, a professora da Faculdade de Informação e Comunicação deu uma resposta curiosamente banal: "Chuva". "Tínhamos problemas em praticamente todos os telhados, que passaram quase 15 anos sem manutenção". Como uma universidade que se expande rapidamente e recebe investimentos em sua tecnologia de ponta tem dificuldades tão básicas? A explicação está na composição do orçamento.

A dificuldade de manutenção predial não é apenas da UFG, mas de quase todas as universidades federais do Brasil. Em 2018, o orçamento discricionário era de R$ 132 milhões. Em 2021, ano que antecedeu a entrada de Angelita Lima na reitoria, o orçamento discricionário foi de R$ 86 milhões. Além da crise provocada pela pandemia de covid-19, o governo de Jair Bolsonaro (PL) reduziu e contingenciou o orçamento das universidades.

Orçamento discricionário é aquele destinado a pagar todas as despesas da Universidade com exceção da folha e aposentadorias. Da segurança, manutenção e limpeza à energia elétrica; e é também deste montante que saem parte dos investimentos em novas estruturas e contratações.

"Quando entrei na reitoria, havia um déficit orçamentário de R$ 10 a 13 milhões, equivalente a três meses de funcionamento discricionário da universidade", disse Angelita Lima. "Somado a isso, em maio de 2022, voltamos do isolamento da pandemia de covid-19 para prédios esvaziados. Sem recursos, tínhamos de restaurar os prédios". Em 2025, o orçamento é de R$ 136 milhões. Houve alguma recomposição, mas, corrigindo o valor pela inflação, os R$ 132 milhões de 2018 equivaleriam a R$ 193 milhões hoje.

Em 2023, com suplementação orçamentária do governo federal, a UFG equilibrou as suas contas. Enquanto os dois primeiros anos foram dedicados a sanar as finanças, os anos seguintes tiveram a zeladoria como prioridade, disse Angelita Lima. "Hoje, praticamente solucionamos o problema das chuvas que passam pelos telhados, em todos os quatro campi da UFG – Samambaia, Colemar Natal e Silva, Cidade de Goiás e Aparecida de Goiânia, que entrou em funcionamento em setembro de 2023".

Nas universidades federais, esse tipo de correção é sempre feito com sacrifício de outras áreas. Com mais de 90% do orçamento total de mais de R$ 1,4 bilhões dedicado à folha de ativos e inativos (como a UFG tem 65 anos, a quantidade de aposentados é grande), o orçamento é curto. Em 2023, investimentos em infraestrutura significaram deixar de fazer a jardinagem de grandes áreas, como o Campus Samambaia.

Quando a poda e jardinagem se tornaram urgentes, foi a vez de priorizar os cuidados ambientais. Além dos quatro campi, a UFG tem quase um milhão de metros quadrados em fazendas e Unidades de Conservação – em Mossâmedes, na Serra Dourada, em Caldas Novas, em Firminópolis. Em 2024, a área incendiada em Goiás aumentou 133,9%. Apesar disso, o serviço de limpeza e da brigada de incêndio nas unidades da UFG fez com que apenas a unidade de conservação Serra Dourada registrasse uma queimada.

"Além das unidades de conservação, temos duas fazendas", afirmou Angelita Lima. "É uma área gigantesca para ser mantida em todos os aspectos. Água, energia, limpeza, segurança". Para manter um olhar mais próximo de questões como jardinagem e infraestrutura, a reitoria adotou o modelo de programas e grupos de trabalho (GT) autorizados a contratar pequenos serviços.

Um exemplo é o programa UFG Bem Cuidada e o GT Infra. Liderado pelo vice-reitor Jesiel Freitas Carvalho, o GT colhe reclamações dos departamentos às quintas-feiras e executa em ordem de prioridade. "O grupo já contratou 18 das 19 obras listadas para reparar problemas como os do telhado que vazava sob a chuva", disse Angelita Lima. "O pouco dinheiro que temos para cobrir tudo isso é aplicado em ordem de prioridade".

 

Angelita Pereira de Lima

Angelita Lima prevê que valorização da graduação seguirá sendo desafio da próxima gestão (Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção)

 

A raiz e a solução do problema

Angelita Lima reconhece que as soluções são providenciais, mas insuficientes e buscam remediar um problema crônico. Na opinião da reitora, a raiz do problema é o modelo de composição orçamentária no ensino superior. Neste ano, a UFG tem capacidade de pagar as obras contratadas, além de seus mais de 600 colaboradores terceirizados e 13 contratos para limpeza, serviços de atendimento e segurança. Mas esta pode não ser a realidade nos próximos anos, como não foi em 2022.

O orçamento é variável. O projeto de Orçamento que o presidente da República envia ao Congresso tem uma projeção para o orçamento das Instituições de Ensino Superior no ano seguinte; a essa projeção se aplica a Matriz de Orçamento de Outros Custeios e Capital – Matriz (OCC), que pondera a destinação de cada instituição de acordo com critérios como o tamanho da universidade, nota dos cursos, número de alunos e professores, entre outros. O Congresso pode ainda fazer modificações neste valor.

Com o orçamento do ano seguinte podendo variar muito, é impossível planejar o crescimento. Cada expansão hoje significa mais custos amanhã. "Uma solução muito melhor seria aprovar o orçamento dos próximos cinco anos", opinou Angelita Lima. "Hoje, a UFG produz 50% de sua energia com produção fotovoltaica. Mas o consumo vai crescer e a Universidade pode ter de comprar mais eletricidade se não investir mais em sua usina. Tudo exige investimento contínuo".

Em parte para escapar da imprevisibilidade, a UFG nos últimos anos apostou no modelo de expansão que depende menos do próprio orçamento do que de parcerias, editais, captação de recursos e modernização. "Mesmo no pior momento da crise, a UFG manteve-se firme, focada e continuou crescendo".

Em editais para financiamento de pesquisa, a UFG recebeu R$ 49 milhões em 2024 – recurso que veio de entidades para fomento da ciência, e não do governo federal. Para construir o campus de Cidade Ocidental, foram R$ 60 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Outros R$ 32 milhões do PAC foram destinados a outros campi; recursos que não estavam inicialmente previsto no orçamento da Universidade.

Investimentos dessa natureza garantiram o crescimento constante da UFG mesmo em períodos de dificuldades financeiras. Em 2022, a UFG tinha três campi e 100 cursos de graduação, hoje são 116 em quatro campi (cinco a partir do próximo semestre). O número de estudantes quase dobrou desde o começo da década. Hoje são mais de 29 mil na graduação, pós-graduação, residentes, e educação básica com o Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (Cepae).

Em 1999, a UFG publicou menos de 100 artigos científicos. Vinte e cinco anos depois, foram mais de 4,6 mil em um ano, e a instituição foi a única do Centro-Oeste a receber o prêmio da Capes por quantidade de citações de seus artigos (Highly Cited Papers). Em 2023, recebeu o Capes-Elsevier por ter 16 artigos entre os mais citados no mundo no ODS 14.

Marcas alcançados e desafios para a próxima gestão

Quando foi solicitada a ponderar todas as realizações de seu mandato e escolher uma mais emblemática, Angelita Lima, professora do curso jornalismo, riu e "puxou a brasa para sua sardinha": a migração da Rádio Universitária para a frequência FM. Além dessa conquista, ela citou a conclusão do plano diretor da UFG. O plano vigente hoje é da década de 1980, e deveria ter sido revisado em 1990.

A reitora disse acreditar que a valorização da graduação deve ser a tônica da gestão de sua sucessora, seja ela Sandramara Chaves ou Karla Emmanuela. "Precisamos investir ainda mais na graduação. Iniciamos esse trabalho: um levantamento do então pró-reitor de pós-graduação Laerte Guimarães revelou que a UFG tem 236 laboratórios de ensino e graduação. Não havia levantamento ou programa para financiar os laboratórios com recursos próprios. Esses laboratórios se beneficiam de editais para comprar equipamentos novos, se atualizar, consertar aquilo que estraga. Fizemos o cadastro e medimos suas necessidades, agora é hora de atender as demandas".

Segundo o levantamento, seriam necessários R$ 4 milhões para reparar equipamentos de todos os laboratórios; mais R$ 10 milhões para substituir o que está defasado; e R$ 200 milhões para atender a todas as demandas. "Não temos esse recurso, mas agora podemos, na medida do possível, atender as prioridades com recursos próprios". Atender os laboratórios de ensino e graduação deve estar no topo da lista de afazeres, pois laboratórios atraentes significam mais credibilidade e melhor formação, disse a reitora.

Outras medidas foram tomadas para valorizar a graduação: o número de monitores passou de 300 para 500, e a bolsa saltou de R$ 400 para R$ 700. Parte dos trabalhos de campo hoje são realizados com o transporte e financiamento do orçamento discricionário. O Programa de Apoio à Graduação deve garantir aos coordenadores de cursos recursos para reparos ou investimentos. Neste momento a reitoria trabalha na revisão do regulamento dos cursos de graduação.

Eleições

Angelita Lima afirmou que, quando seu mandato se encerrar, no fim deste ano, seu único plano é se dedicar integralmente ao magistério. Contrariando todas as indicações de sua assessoria, Angelita Lima já retornou à sala de aula, ministrando a disciplina de Jornalismo Literário. "Sou uma professora; gosto muito da sala de aula", disse. Ela poderia concorrer às "eleições" (consulta para formação da lista que será apresentada ao presidente da República para nomeação) mais uma vez, mas afirmou que não o fará.

Em 2022, a professora Sandramara Chaves foi a mais votada, mas não foi nomeada pelo então presidente da República Jair Bolsonaro. "Esse é um momento muito especial da história da UFG, que sofreu com a não nomeação de Sandramara", disse Angelita Lima. "Nesse momento, a UFG tem a chance de recompor esse trauma. É uma oportunidade de não deixar feridas abertas. A UFG pode conduzir a professora Sandramara Chaves para a reitoria definitivamente. Eu não poderia ser candidata, ou seria um obstáculo a essa oportunidade", afirmou Angelita Lima.

A reitora afirmou estar tranquila com a consciência de que cumpriu de maneira leal o projeto eleito pela comunidade acadêmica em 2022, o projeto de Sandramara Chaves. Mais de 80% do plano foi implementado, avaliou Angelita Lima. "Fico orgulhosa pela equipe ter mantido a universidade dinâmica, pujante, liderando rankings, melhorando em todos os indicadores mesmo em um momento de extrema adversidade"

 

* Esta reportagem foi originalmente publicada no Jornal Opção.

Fonte: Jornal Opção

Categorias: entrevista Institucional Reitoria Notícia 1