
Público do ThorDön entra no clima do Pint of Science promovido pela UFG
Nos três dias de evento, a receptividade se traduziu em perguntas e muita participação
Professora e secretária de Inclusão da UFG, Luciana Dias colocou os Direitos Humanos em pauta (Foto: Evelyn Parreira/Secom UFG)
Márcia Araújo
Eduardo Bandeira
Há eventos em que a quantidade de público surpreende, em outros, mais do que o número de pessoas presentes, chamam a atenção o interesse e a vontade em participar. Este é o caso da edição 2025 do Pint of Science Goiânia realizada no Thordön Bierhaus Pub. Não faltaram perguntas e nem gente querendo comentar os temas apresentados. A proposta da ciência discutida de forma descontraída na mesa do bar rendeu as mais diversas intervenções. O médico Magno Medeiros acompanhou o primeiro dia e disse ter achado incrível. "Nunca imaginei que um evento internacional tão interessante ocorresse em Goiânia".
Acesse aqui as fotos do evento.
No período de 19 a 21 de maio, cerca de 220 pessoas participaram do evento no pub do Setor Jaó. A realização é da Secretaria de Comunicação (Secom) e da Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG) da Universidade Federal de Goiás (UFG). No primeiro dia, o professor Lucas Céleri, do Instituto de Física (IF), falou sobre a evolução do conceito de tempo; no segundo dia, Luciana Oliveira Dias, docente da Faculdade de Ciências Sociais (FCS), discorreu sobre a importância dos Direitos Humanos para re-humanizar a vida; no último dia, Ana Rita Vidica, professora da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC), apresentou um documentário sobre os fotógrafos lambe-lambe do Centro de Goiânia e falou sobre memórias e sua pesquisa envolvendo fotografia e audiovisual.

O tempo da ciência e o tempo da curiosidade
No primeiro dia do evento no Thordön, o bar estava lotado. O professor Lucas Céleri fez uma apresentação concisa e informal de cerca de meia hora sobre a evolução do conceito de tempo ao longo dos séculos. Muitos ouviam com total atenção, outros, em meio ao bate-papo, a petiscos e bebidas.
Quase no fim, o pesquisador ressaltou que não há como reverter o tempo – vamos envelhecer e não voltaremos a ficar jovens. Por outro lado, revelou: "A gente pode andar no tempo? Pode. A gente pode andar para o futuro de outras pessoas. Mas não para o nosso. [...] Por exemplo, se eu quiser andar no futuro do Gustavo [um dos ouvintes presentes], eu simplesmente pego uma nave espacial, vou para frente, muito rápido, depois eu volto. Quando eu voltar, o Gustavo vai estar mais velho, eu não".
Essas frases do professor acenderam totalmente a plateia. Mal ele concluiu a fala e várias pessoas queriam fazer perguntas. "Se posso ir para o futuro de outra pessoa, posso ir para o passado dela?". "Se duas pessoas estão em órbita em planetas diferentes, quando se compara ambas, uma pode envelhecer mais do que a outra?". Mais de dez perguntaram.
Outros enfoques, como, a sensação de passagem do tempo, foram explorados. Alguns participaram mais de uma vez. Foi um sucesso! No entanto, apesar da empolgação do público com a parte mais curiosa da conversa, vale ressaltar outro aspecto do que foi falado. Lucas Céleri mostrou que a evolução do conceito de tempo e as revoluções científicas tais como a Teoria da Relatividade são resultado de um acúmulo de conhecimento. A partir da sua apresentação, foi possível perceber que um cientista, por mais brilhante que seja, vai até certo ponto com sua teoria; não consegue solucionar todos os problemas. Os que o sucedem avançam, encontram novas respostas e a ciência evolui.
Direitos Humanos
No segundo dia do evento, terça-feira (20/5), o ThorDön Bierhaus recebeu a professora Luciana de Oliveira Dias para falar sobre direitos humanos e re-humanização. Antropóloga e professora da FCS, ela também atua no Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos. Atualmente, está à frente da Secretaria de Inclusão (SIN) da UFG. A cientista, que já participou de edições anteriores do evento, relatou ter ficado feliz com o convite e, como pesquisadora, destacou o desafio de levar o conhecimento, muitas vezes produzido em linguagem acadêmica, para a população em geral.
Para a pesquisadora, todas as pessoas têm o direito de saber o que é produzido dentro da universidade pública. Segundo ela, o principal desafio foi adaptar a linguagem "viciada" da ciência para palavras corriqueiras e acessíveis. A professora brincou ao citar um "palavrão acadêmico", a palavra ontoepistemicídio, ou seja, os processos de destruição simultânea de modos de ser e de saber, e a dificuldade de traduzi-la para uma linguagem compreensível em um ambiente tão descontraído quanto o bar.
A antropóloga busca não apenas compreender as violações aos direitos fundamentais, mas também propõe intervenções e transformações da sociedade. Ela ressaltou que, diante de graves violações, ocorre a desumanização do humano, processo pelo qual certas pessoas deixam de ser reconhecidas em sua plena humanidade.
A professora citou como exemplo situações cotidianas, como partidas de futebol, que revelam como grupos – pessoas racializadas ou LGBTQIAPN+ – continuam sendo desumanizados. Ela também fez referência ao conceito de epistemicídio, que descreve o sequestro e a invalidação dos saberes de determinados povos e culturas, aprofundando ainda mais as desigualdades.
Estudiosa do pensamento feminista negro, a pesquisadora afirmou que a defesa dos direitos humanos pressupõe o reconhecimento das diferenças. Para ela, estudar esses direitos sem considerar as desigualdades existentes impede que sua concepção seja verdadeiramente abrangente. E é por isso que, segundo ela, o debate deve atravessar toda a sociedade, sendo o barzinho um bom ambiente para fortalecer a temática.
Leia também: Prosa científica na mesa do bar
Ana Rita Vidica (FIC) e Renato Pessoa (IF) no terceiro dia de evento (Foto: Márcia Araújo)
Retratos, memórias e estrelas que não se apagam
Foi uma noite tranquila no bar. O público presente estava atento. Ana Rita Vidica apresentou uma pesquisa feita de sensibilidade e de respeito a trajetórias que revelam a memória da cidade. "Os fotógrafos lambe-lambe construíram a fotografia de documento de Goiânia. A ideia é tentar traçar a história da fotografia lambe-lambe a partir dos relatos e das relações de trabalho deles", explicou a professora. A pesquisa, de acordo com Ana Rita, busca dar visibilidade ao trabalho desenvolvido por eles, destacando seu valor social e cultural. Ela ressalta que, em São Paulo e no Rio Janeiro, a profissão de lambe-lambe é tombada como Patrimônio da Humanidade, enquanto por aqui já houve até mesmo a tentativa, por parte de alguns governos, de remover suas cabines de trabalho.
Há outra questão que chamou a atenção da pesquisadora. O fato de os fotógrafos não terem carteira de trabalho assinada. "Eles fotografaram tantas pessoas, produzindo os retratos das carteiras de trabalho delas, e nunca tiveram suas próprias carteiras assinadas pela profissão". Há uma cena no filme que é uma referência poética a essa questão.
Além de conhecer um pouco sobre o estudo desenvolvido, os presentes tiveram a chance de ver o ainda inédito documentário Retrato das estrelas quando sonham, resultado dessa pesquisa. O filme, dirigido por Rafael de Almeida, ainda não está disponível ao público, pois, para inscrevê-lo em festivais, é necessário manter o ineditismo da obra. Assim que for compartilhado, será divulgado neste espaço. "Esta é uma pesquisa aberta a outras inscrições, outras memórias, outras histórias que possam ser contadas", convidou Ana Rita, que assina a produção executiva da obra junto com Rafael.
Público interessado em ciência lotou bares de Goiânia (Fotos: Arquivo Pessoal)
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Fonte: Secom UFG
Categorias: divulgação científica Institucional Secom PRPG