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Universidade Federal de Goiás
Divas pop

Antropólogo explica relação entre divas pop e comunidade LGBTQIA+

Em 28/05/25 15:10. Atualizada em 29/05/25 08:03.

Cultura queer transformou celebridades da música e do cinema em símbolos de poder e resistência

 

Divas pop

Mais de 2,1 milhões de pessoas se reuniram na praia de Copacabana para o show de Lady Gaga (Foto: Fabio Motta/Divulgação)

 

Eduardo Bandeira

Em maio de 2024, Madonna atraiu 1,6 milhão de pessoas para um dos shows mais marcantes de sua carreira na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Em 2025, Lady Gaga também reuniu um dos maiores públicos da história no mesmo local – as estimativas variam de 2,1 a 2,5 milhões. Para muitos dos fãs dessas divas pop, a identidade de gênero e a expressão cultural estão intimamente ligadas ao pertencimento à comunidade LGBTQIA+.

Segundo o antropólogo Glauco Ferreira, professor da Faculdade de Ciências Sociais (FCS) da Universidade Federal de Goiás (UFG), a conexão entre cultura pop e ícones femininos está profundamente conectada aos processos históricos de marginalização e busca por representação. Essas artistas se tornam símbolos de empoderamento e identificação para a comunidade LGBTQIA+, refletindo e dialogando com as experiências de discriminação e luta dessa população.

Divas pop
Madonna no clipe de Vogue (Imagem: Reprodução)

De acordo com Glauco, figuras como Lady Gaga e Madonna não apenas se inserem na indústria cultural, mas também produzem performances audiovisuais que, além de artísticas, possuem uma forte dimensão comercial, voltada para o consumo. Ele destaca o pioneirismo de Madonna, especialmente nos anos 1980 e 1990, ao incorporar elementos da cultura LGBTQIA+, como a cena ballroom de Nova York. O videoclipe e a música Vogue são exemplos dessa apropriação cultural, evidenciando a influência da cultura ballroom em sua estética e temática.

O professor pontua como as divas pop incorporam referências à cultura LGBTQIA+, criando uma relação de espelhamento entre essas figuras e a comunidade. Ele destaca que a palavra "diva" tem suas origens na ópera italiana do século XIX, tendo sido ressignificada ao transformar divas da música e do cinema em ícones de poder, resistência e afirmação da identidade.

Glauco também observa como a relação das divas pop com a comunidade LGBTQIA+ vai além do simples consumo de suas imagens. Ele destaca que, desde as divas da ópera do século XIX até as popstars contemporâneas, a figura da diva, quase sobre-humana, com poder de representação e resistência, continua sendo um modelo de força para a comunidade . "Elas se tornam modelos de superação", afirma, ressaltando que a ligação entre essas artistas e o público queer se mantém forte justamente porque elas desafiam normas sociais e culturais.

"Mas, claro, também há a questão do consumo", acrescenta o antropólogo. Ele esclarece que, ao contrário de um consumo acrítico, muitos artistas estão cientes do impacto que suas imagens e discursos têm sobre questões sociais. Eles sabem equilibrar o engajamento com essas pautas de forma estratégica, evitando acusações de apropriação cultural ou exploração comercial.

 

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Divas pop

Lady Gaga com uma bandeira do arco-íris, símbolo da comunidade LGBTQIA+ (Foto: Kevin Mazur/WireImage/Getty Images)

 

Ruptura

Um exemplo recente dessa abordagem estratégica é o trabalho da cantora Charli xcx com o álbum Brat, que se destacou por sua estética minimalista e rebelde, desafiando as normas da perfeição pop. "Charli vendeu a imagem de uma artista que faz o que quer, sem precisar seguir os padrões do pop mainstream", comenta o antropólogo.

Para ele, Brat representa uma ruptura com o que é tradicionalmente esperado de uma diva pop, fazendo uma antítese de artistas como Beyoncé, cujas performances são marcadas por uma execução quase impecável. "Charli xcx rejeita essa perfeição e abraça o imperfeito", afirma.

Mesmo sem se posicionar explicitamente como um ícone LGBTQIA+, Charli xcx estabelece um forte diálogo com essa comunidade. Seu som, estética e discurso ressoam profundamente com pessoas queer, mesmo que quem não compartilhe esse contexto não perceba de imediato.

 

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Brat

O álbum Brat, de Charli xcx, também foi um fenômeno nas redes sociais (Foto: Lea Garn)

 

Performance

A dimensão visual nas apresentações das divas pop e suas raízes históricas também merecem destaque. Glauco lembra que esse elemento sempre foi fundamental na construção de suas imagens. "Eu fico pensando, por exemplo, na Maria Callas, que era uma cantora de ópera e tinha uma base de fãs gays muito grande", comenta.

Ele observa que a figura de Callas não se limitava à sua habilidade vocal, mas também à sua performance como pessoa, tanto em sua vida pública quanto em suas apresentações. "A performance visual do corpo cantante agregava essas características de poder e uma performance eficaz, representativa de poder feminino".

Atualmente essa discussão sobre a visibilidade continua presente, mas com uma dimensão ainda mais audiovisual. "Hoje a visualidade está totalmente associada ao jogo de performance, seja em shows, premiações ou até mesmo nas redes sociais", comenta o professor. A construção da imagem de uma artista se torna um reflexo direto de sua sonoridade, criando uma relação intrínseca entre o visual e o conteúdo musical.

Essa relação entre imagem e música também se reflete na maneira como as campanhas em torno dos álbuns são estruturadas. A combinação dessas camadas – a sonoridade e a estética – é fundamental para a artista se reconectar com seu público, especialmente com a comunidade LGBTQIAPN+, que sempre teve uma relação íntima com a ideia de reinvenção e autenticidade da diva pop.

Para se tornar uma diva pop de sucesso e dialogar com sua audiência, é preciso pensar em uma parte audiovisual que vá além da música. "A proliferação de imagens e a saturação visual, principalmente nas redes sociais, são componentes essenciais. As campanhas de marketing precisam refletir isso. Por exemplo, as imagens nas redes sociais, as campanhas visuais em lançamentos de discos e singles precisam ser pensadas para se destacar nesse cenário saturado de imagens", explica Glauco.

Essas dinâmicas estão conectadas aos fandoms (grupos de fãs) e ao poder que eles têm nas redes sociais. Fãs de artistas como Beyoncé, Gaga e outros criam uma força enorme, organizando movimentos para promover singles e álbuns. As redes sociais ajudam a conectar pessoas que compartilham os mesmos gostos, criando uma base sólida para essas campanhas e ajudando a criar tendências.

 

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Fonte: Secom UFG

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