
Diagnóstico precoce é aliado no controle da esclerose múltipla
Neurologista do HC-UFG explica o que é a doença, sintomas e o diagnóstico
Parte do tratamento da esclerose múltipla, a psicoterapia trabalha os conflitos do paciente (Fotos: Natália Cruz)
Da Redação, com informações do HC-UFG
No Brasil, estima-se que cerca de 40 mil pessoas convivam com a esclerose múltipla (EM), doença autoimune crônica e degenerativa que afeta o sistema nervoso central. A repórter fotográfica aposentada Maria Francisca Santos descobriu ser parte dessa estatística em 2007, quando foi diagnosticada com EM no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG), gerenciado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
"Em 2005, então com 50 anos, comecei a sentir sintomas estranhos, como perda de visão, dor ocular, e dores fortes nas têmporas", relembra Maria. "As dores dessa natureza sumiam e voltavam. Eu também sentia tonturas perturbadoras. No ano seguinte, fui a um neurologista que solicitou exame de ressonância magnética. Os sintomas desapareceram novamente e eu continuei minha vida como repórter fotográfica. Mas já tinha perdido as forças dos membros inferiores e superiores. Foi quando fui aconselhada a procurar especificamente pela médica Denise Sisterolli Diniz".
Maria foi atendida no Centro de Referência e Investigação em Esclerose Múltipla (Criem) do HC-UFG, referência no diagnóstico e tratamento da patologia. Lá, pacientes regulados pelos serviços de saúde locais do SUS, por meio de encaminhamento médico especializado em neurologia ou presencialmente, são acompanhados diariamente.
Sinais e causas
Segundo a coordenadora do Criem, Denise Sisterolli Diniz, a EM é caracterizada por uma variedade de sintomas que não seguem um padrão: "Os primeiros sinais podem variar muito, pois podem ocorrer em qualquer lugar do sistema nervoso central. Porém, alguns sinais são mais comuns, como sintomas sensitivos, que incluem dormência persistente em alguma parte do corpo, inflamação do nervo óptico e dor ocular com visão embaçada ou visão dupla. Sintomas motores com perda de força e incoordenação em uma parte do corpo também podem ocorrer, assim como os de tontura, caracterizados por sensação rotatória acompanhada de náusea, vômitos e necessidade de repouso".
Ainda de acordo com a neurologista, outros sintomas frequentes são a lentificação cognitiva, perda de memória e atenção, e incontinência urinária e intestinal.
Dados do Atlas da Esclerose Múltipla da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla revelam que há duas vezes mais mulheres do que homens com esclerose múltipla. As razões para essa diferença são desconhecidas, mas aspectos hormonais ou genéticos podem estar envolvidos.
"As causas da EM não estão totalmente compreendidas", assinala Denise. "Sabemos que existem fatores genéticos, apesar de não ser uma doença de caráter hereditário no sentido mendeliano [referência às leis de Mendel, em que a transmissão de pai para filho é previsível e direta]. Mas há uma predisposição genética, sendo a mais conhecida o HLA DQ1501. Além disso, hás os fatores ambientais, como infecções virais prévias, sendo a mais conhecida pelo vírus do Epstein–Barr, deficiência de vitamina D, tabagismo e outros poluentes, flora bacteriana alterada, e a ingestão de comidas muito processadas, como fast food, enlatados e embutidos".
O diagnóstico abrange histórico do indivíduo, avaliação clínica e exames complementares. Exames complementares, como a ressonância magnética e o exame do líquido cefalorraquidiano (LCR), ajudam a identificar alterações no cérebro, na medula espinhal e no fluido que circunda o cérebro e a medula espinhal.
Segundo Denise, novos critérios diagnósticos foram debatidos recentemente durante o último Brazilian Comite of Treatment Research in Multiple Sclerosisl (BCTRIMS), pelo DC da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e pelo European Committe for Treatment Research in Multiple Sclerosis ECTRIMS, em 2024.
Entre as atualizações estão a inclusão do nervo óptico como um possível local de comprometimento da EM e de novos marcadores de imagem.
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Tratamento
Ainda não há prevenção para a EM, mas algumas medidas podem ajudar no controle da doença. O tratamento deve ser contínuo e busca reduzir os surtos, retardar a progressão e aliviar sintomas. Atualmente, existem 14 medicamentos aprovados pela Anvisa para tratamento da doença. São drogas que atuam modificando a resposta imune do organismo e sua progressão a longo prazo.
"Se o diagnóstico for precoce, com o tratamento ideal pode-se ter uma qualidade de vida muito boa e normal. No entanto, se a doença progride sem tratamento, pode haver acúmulo de incapacidade importante. Algumas formas são mais progressivas e com alta atividade inflamatória e, consequentemente, evolução mais incapacitante, apesar do tratamento", pontua a neurologista.
O HC-UFG acompanha cerca de 500 pacientes em dois ambulatórios dedicados à esclerose múltipla. Além do diagnóstico, a instituição oferece um centro de infusões, onde realiza pulsoterapia, com administração de altas dose de metilprednisolona, e a plasmaférese, que é a retirada de substâncias nocivas do organismo, como anticorpos e citocinas, quando a pulsoterapia não é efetiva. A unidade também oferece imunoglobulina intravenosa (IVIG), que, devido às suas propriedades anti-inflamatórias, pode ser benéfica no tratamento de recidivas agudas e na prevenção de novas recidivas.
Maria realiza consultas de três em três meses no hospital, onde recebe solicitações regulares de exames laboratoriais e as ressonâncias magnéticas.
"O acompanhamento que mais aprecio é o da doutora Denise Sisterolli, que não mede esforços para atender todos nós", ressalta a paciente.
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Fonte: HC-UFG