
Microplásticos podem facilitar transporte de contaminantes na água
Estudo da UFG avaliou comportamento do herbicida atrazina em ambientes aquáticos
Estudo utilizou raízes de alface, planta que se destaca como bioindicador de toxicidade (Foto: Daniel Dan/Pixabay)
João Vítor Bueno*
Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Goiás (UFG) avaliou os impactos dos microplásticos novos e envelhecidos no meio ambiente, focando na interação desses materiais com a atrazina, um herbicida amplamente utilizado na agricultura. O estudo investigou o potencial das microesferas de polietileno em vetorizar o herbicida atrazina em meio aquoso. Isso significa que os microplásticos podem se ligar a poluentes, como a atrazina, presentes em diferentes ambientes, e, assim, facilitar o transporte desses contaminantes pela água. A partir dos resultados, foi possível classificar os efluentes em tóxicos, moderadamente tóxicos ou altamente tóxicos.
O estudo foi conduzido por Luan Gabriel Xavier de Souza no mestrado em Engenharia Ambiental e Sanitária, sob orientação dos professores Francisco Javier Cuba Teran e Renata Cuba. Na pesquisa, Gabriel avaliou como o envelhecimento dessas partículas pode influenciar na capacidade de absorção de contaminantes, bem como no seu processo de liberação. Essa abordagem foi fundamental para compreender a dinâmica ambiental dos microplásticos ao longo do tempo e seus efeitos sobre a mobilidade e persistência de substâncias tóxicas nos ecossistemas.
Além dos microplásticos, para a pesquisa foram investigadas como as raízes de alface se comportam em contato com os microplásticos associados à atrazina em ambiente aquoso. A planta se destaca como bioindicador de toxicidade devido ao seu ciclo de vida relativamente curto, sensibilidade a pequenas alterações no meio ambiente e seletividade na resposta aos poluentes. Na pesquisa foi observado que os microplásticos envelhecidos sorvidos com atrazina causaram uma inibição na germinação.
Método
Para chegar aos resultados, o pesquisador iniciou a sequência experimental em laboratório com o envelhecimento das microesferas de polietileno em um reator de foto-oxidação (equipamento que simula a ação da luz e do oxigênio). Nesse sistema, os microplásticos permaneceram expostos por um período de 120 dias, sendo revolvidos manualmente a cada sete dias para garantir uma simulação adequada das condições ambientais.
Na segunda etapa do estudo, foram realizados os ensaios para observar como a atrazina se prende (adsorção) e se solta (dessorção) das microesferas de microplásticos novas e envelhecidas. Durante esses ensaios, foram monitorados parâmetros físico-químicos dos meios, como pH e condutividade elétrica, com o objetivo de avaliar possíveis influências sobre os processos de agregação e desagregação da atrazina nas superfícies dos microplásticos.
A determinação da concentração de atrazina nas soluções foi realizada no Laboratório de Cromatografia e Espectrometria de Massas (LaCEM) da UFG. As análises morfológicas das partículas e das raízes de alface foram feitas no Laboratório Multiusuário de Microscopia de Alta Resolução (Labmic), por meio de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV). Por fim, análises complementares foram conduzidas no Centro Regional para o Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (CRTI), permitindo a identificação de alterações químicas entre as partículas novas e as envelhecidas.
Motivações
Segundo o pesquisador, uma das motivações por trás de seu tema foi a contínua poluição por plásticos e suas partículas secundárias, que já são consideradas uma das formas de contaminação mais disseminadas no planeta. A partir da interação constante entre essas matrizes, e aliando esse cenário à intensificação do uso de fertilizantes e defensivos agrícolas no setor agroindustrial, observa-se um aumento da possibilidade de ligação entre contaminantes, como a atrazina, e partículas microplásticas presentes no ambiente.
O pesquisador alerta para a importância da ampliação dos estudos sobre os impactos dessa interação entre microplásticos e substâncias químicas em nossos ecossistemas aquáticos. Com o aumento da poluição e da presença desses materiais nos oceanos e rios, as consequências para a vida aquática podem ser graves, principalmente em ambientes mais eutróficos.
* João Vítor Bueno é estagiário do curso de Jornalismo da FIC/UFG, orientado pela jornalista Kharen Stecca.
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Fonte: Secom UFG
Categorias: agricultura Ciências Naturais EECA Notícia 3