
Goiás tem segundo maior número de migrantes do Brasil
Crescimento econômico e oportunidades de trabalho impulsionam chegada de brasileiros de outras regiões e de estrangeiros
Edson Roberto Vieira
Antônio Marcos de Queiroz
Os resultados do Censo Demográfico de 2022 mostraram que o estado de Goiás se destacou em relação ao tema migração em praticamente todos os quesitos analisados pelo IBGE no seu levantamento.
O Censo Demográfico de 2022 evidenciou que o número de pessoas que viviam fora do seu local de nascimento na data de referência do levantamento, isto é, de migrantes, foi puxado por aquelas que nasceram na região Nordeste do país, da qual saíram mais de 10,4 milhões das 19,2 milhões que viviam fora de sua região, se deslocando fundamentalmente para a região Sudeste. Com isso, o estado de São Paulo foi o que apresentou o maior número de migrantes (8,6 milhões).
A despeito disso, o estado de Goiás também se destacou em nível nacional, apresentando o segundo maior número de migrantes (2 milhões) dentre os outros 25 estados e o Distrito Federal, ficando atrás apenas de São Paulo. Santa Catarina ficou em terceiro lugar nesse ranking (1,76 milhão de migrantes), enquanto os estados do Acre (71 mil), Roraima (174 mil) e Amapá (185 mil) foram os que possuíam o menor número de brasileiros não naturais de seus territórios em 2022.
Apurando-se a diferença entre os brasileiros não naturais da Unidade da Federação (UF) e a população natural da UF, Goiás novamente ocupou a segunda colocação em nível nacional, na medida em que possuía o segundo maior número de pessoas nessa condição em 2022 (1,3 milhão), atrás de São Paulo e à frente de Santa Catarina (1,1 milhão). Os estados da Bahia (-2,4 milhões), Minas Gerais (-1,7 milhão) e Pernambuco (-1,3 milhão) foram os que apresentaram os maiores números negativos nesse quesito, uma vez que tiveram um número maior de pessoas que nasceram em seus territórios vivendo em outras UFs em relação ao número de brasileiros de outras UFs vivendo em seus territórios.
No caso de Goiás, quando se considera a origem dos residentes que não eram naturais do estado, verifica-se que os cinco estados que mais enviaram habitantes para seu território foram, nessa ordem: Distrito Federal (16,7%), Minas Gerais (14,1%), Maranhão (12,9%), Bahia (11,9%) e Tocantins (7,4%). Em sentido contrário, Minas Gerais (13,0%) foi o estado que mais recebeu migrantes goianos, seguido pelo Distrito Federal (12,9%) e por Mato Grosso (11,6%).
Considerando-se apenas o período 2017-2022, o estado que apresentou o maior saldo migratório foi Santa Catarina, com um aumento de sua população em 354 mil pessoas por conta desse fluxo. Mais uma vez, o estado de Goiás ficou em segundo lugar no ranking, adicionando cerca de 187 mil pessoas ao total de sua população (ingresso de 371,3 mil e saída de 184,5 mil pessoas). Em terceiro lugar, ficou Minas Gerais, com um saldo migratório de 106,5 mil pessoas (entrada de 426,2 mil e saída de 319,7 mil).
Na outra ponta, o estado que apresentou o maior saldo migratório negativo no período foi o Rio de Janeiro, que perdeu 165 mil pessoas (entrada de 167,2 mil e saída de 322,5 mil); em seguida, com saldo migratório negativo de 129,2 mil pessoas, ficou o estado do Maranhão (entrada de 130,6 mil e saída de 259,8 mil); e depois o Distrito Federal, cujo saldo migratório foi de -99,5 mil pessoas (entrada de 116,5 mil e saída de 216,2 mil).
Do ponto de vista internacional, o fluxo migratório identificado pelo Censo Demográfico 2022 apontou que houve aumento de 70,3% do número de residentes de outros países no Brasil entre 2010 e 2022, que passou de 592 mil para 1 milhão pessoas nesse período. Esse foi o maior número registrado desde o Censo Demográfico de 1980, quando o IBGE levantou 1,1 milhão de estrangeiros e pessoas naturalizadas vivendo no país. Assim, o Brasil, que apresentava tendência de queda desse contingente desde 1960, teve tal tendência revertida no Censo de 2022.
O destaque aqui ficou por conta do aumento significativo da entrada de venezuelanos, de cerca de 2 mil, entre 2005 e 2010, para 199 mil, entre 2017 e 2022. Esse número contribuiu para alavancar o número de pessoas estrangeiras ou naturalizadas vivendo no Brasil com origem na América Latina e Caribe (329,2 mil) na comparação com os resultados do Censo Demográfico 2010 (72,7 mil). O número de pessoas vindas da África (11,2 mil ante 7,1 mil) e da Oceania (4,5 mil ante 1,9 mil) para o Brasil também aumentou no período 2017-2022 quando confrontado com 2005-2010.
Em sentido contrário, o número de pessoas vindas da América do Norte (32,1 mil ante 54,4 mil), da Ásia (24,1 mil ante 79,6 mil) e da Europa (55,7 mil ante 77,6 mil) caiu no período analisado.
O estado de Goiás possuía cerca de 11 mil migrantes estrangeiros em 2022. A maior parte deles (34,8%) veio da Venezuela, depois dos Estados Unidos (11%) e de Portugal (9,6%). Com menor proporção, situaram-se os migrantes do Reino Unido (5,7%), Espanha (4,5%), Haiti (3,7%), França (2,8%), Bolívia (2,3%) e Japão (2,2%).
A principal razão por detrás da decisão de migrar para outra região do país parece continuar sendo a busca por oportunidades de trabalho e renda. Foi isso que motivou os grandes deslocamentos de pessoas para o Nordeste e para Minas Gerais durante os ciclos da cana-de-açúcar e do ouro no período colonial. Os principais movimentos migratórios observados durante o século 20 em direção à região Sudeste também se relacionam à questão econômica, tendo em vista que o processo de industrialização do país foi capitaneado por essa região. E, mais recentemente, o crescimento do agronegócio na região Centro-Oeste tem motivado a entrada de pessoas de outras regiões do país também em busca de novas oportunidades.
Assim, as evidências sugerem que, no caso de Goiás, o crescimento do saldo migratório positivo está intimamente relacionado a fatores econômicos. Há anos o crescimento econômico médio da economia goiana tem superado o da economia nacional, com reflexos diretos no mercado de trabalho local, que historicamente tem apresentado taxas de desocupação inferiores às nacionais.
Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – N. 181/junho de 2025.
* Edson Roberto Vieira e Antônio Marcos de Queiroz são professores da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas (FACE) da UFG.
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Fonte: FACE
Categorias: colunistas Humanidades Face