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Universidade Federal de Goiás
Painel Mapa da Fome

O que tirou o Brasil do Mapa da Fome?

Em 01/08/25 09:19. Atualizada em 01/08/25 09:19.

Conquista reflete combinação de crescimento econômico, políticas públicas e programas sociais

Edson Roberto Vieira
Antônio Marcos de Queiroz

O Mapa da Fome é o principal indicador do relatório anual The State of Food Security and Nutrition in the World, elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Esse indicador apura a ocorrência da chamada subalimentação crônica, que se dá quando a ingestão calórica habitual não é suficiente para que uma pessoa mantenha uma vida normal, ativa e saudável. Para elaborá-lo, a FAO utiliza a metodologia Prevalence of Undernourishment (PoU), que, entre outros fatores, preconiza que um país possa ser retirado do Mapa da Fome somente quando a prevalência de subalimentação crônica estiver abaixo de 2,5% de sua população total.

O relatório de 2025 trouxe boas notícias. Apontou que houve redução da população que passa fome no mundo nos anos recentes, impulsionada por avanços ocorridos principalmente no Sudeste Asiático e na América do Sul. No Sudeste Asiático, destacaram-se a Indonésia, Vietnã e Filipinas, que têm apresentado crescimento econômico robusto, desenvolvimento de seus setores agrícolas e aplicado programas de assistência social importantes para a redução da fome – sendo esses programas verificados especialmente na Indonésia. Já na América do Sul, o destaque absoluto da região foi justamente o Brasil, que reduziu a parcela da população em situação de insegurança alimentar para menos de 2,5% em 2025, marcando a sua saída oficial do Mapa da Fome da FAO depois de três anos.

Essa conquista do Brasil certamente tem relação com um cenário econômico mais favorável, mas foi puxada principalmente por mudanças institucionais e políticas públicas direcionadas para o combate à fome implementadas no país recentemente. A queda da inflação, especialmente dos alimentos, e a redução da taxa de desemprego ao longo de 2024 contribuíram para que mais famílias tivessem acesso a uma alimentação mais adequada, na medida em que garantiram haver aumento da renda real dos trabalhadores. Ainda no âmbito econômico, mas envolvendo também a questão ambiental, inserem-se as safras recordes obtidas no país recentemente, as quais, juntamente com a retomada da política de estoques reguladores, ajudaram a manter a oferta de alimentos mais estável e a suavizar as alterações dos preços internos.

Algumas medidas de cunho institucional também contribuíram ativamente para aumentar a segurança alimentar no Brasil. Houve a recriação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) em 2023, que é um órgão colegiado que atua no controle social e na avaliação de políticas de segurança alimentar e nutricional, ligado diretamente ao presidente da república. Nesse mesmo contexto, insere-se o Plano Brasil Sem Fome, que foi lançado em agosto de 2023, visando estabelecer estratégias por parte do governo federal para erradicar a fome no Brasil, integrando 19 ministérios.

Do ponto de vista das políticas públicas, tem-se a retomada da política de valorização do salário mínimo a partir de 2023, que contribuiu efetivamente para elevar o poder de compra da população brasileira, sobretudo de sua parcela mais vulnerável. Também contribuíram para reduzir a insegurança alimentar no Brasil, as ações mais efetivas do governo federal no âmbito do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), que, concomitantemente, estimulam a produção e facilitam o escoamento de alimentos saudáveis, além de concorrerem para gerar emprego e renda nas áreas rurais do país.

Adicionalmente, e talvez a principal política pública que atuou para retirar o Brasil do Mapa da Fome, teve lugar a reestruturação e ampliação do Programa Bolsa Família, promovendo não apenas a garantia de um valor mínimo para as famílias de baixa renda, como também a criação de benefícios complementares focados na primeira infância e em famílias maiores.

Evidentemente, ainda persistem desafios na área de segurança alimentar no Brasil, mesmo com os avanços obtidos. Em termos absolutos, 2,5% da população ainda significam haver cerca de 5 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar crônica no país. E quando se fala em insegurança alimentar moderada (que ocorre ou quando há incerteza sobre a capacidade de obter alimentos e ou quando a qualidade ou a quantidade de alimentos é reduzida), o número é ainda maior, abrangendo um número aproximado de 30 milhões de pessoas.

O país precisa, portanto, continuar trilhando os caminhos para avançar ainda mais na superação da insegurança alimentar. Os próprios exemplos do Brasil, mas também o da Indonésia, mostram que políticas públicas direcionadas são fundamentais para obter sucesso no combate à fome.

 

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás, n. 182, julho de 2025.

 

Edson Roberto Vieira e Antônio Marcos de Queiroz são professores da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas (FACE) da UFG.

 

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Fonte: FACE

Categorias: colunistas Humanidades FACE