
Documentário revela bastidores de expedição científica ao Rio Araguaia
Filme mostra a atuação de pesquisadores e o envolvimento de moradores na produção de conhecimento ambiental
Equipe de audiovisual acompanhou uma das expedições para registrar as atividades e coletar depoimentos (Foto: Divulgação Araguaia Vivo)
Jayme Leno
Dois projetos de pesquisa que têm como foco o Rio Araguaia resultaram em um documentário que mostra os bastidores das expedições científicas realizadas na bacia hidrográfica Araguaia-Tocantins. Filmado durante a jornada de fevereiro de 2025 – período de cheia e maior navegabilidade do rio –, Expedição Araguaia acompanha a equipe, intercalando falas de especialistas com depoimentos de moradores ribeirinhos, evidenciando a conexão entre produção científica e saber popular.
No trajeto de quase 3 mil quilômetros pelo leito do Araguaia e seus afluentes, foram coletadas informações sobre biodiversidade, qualidade da água e aspectos socioambientais. A iniciativa integra dois projetos de longo prazo, o Araguaia Vivo e o PPBio Araguaia, que têm como coordenadora-geral a professora Mariana Telles, da Universidade Federal de Goiás (UFG) e da PUC Goiás. O professor da UFG José Alexandre Diniz Filho é o responsável pela coordenação científica do Araguaia Vivo e coordena um subprojeto do PPBio Araguaia. "Levamos uma equipe do audiovisual para registrar as atividades de campo e também a relação com as comunidades locais, especialmente em Luiz Alves e Aruanã, onde já desenvolvemos ações de educação ambiental, turismo e pesca", explica a pesquisadora.
A obra, primeira produzida durante o estudo, foi dirigida pela professora Thais Rodrigues, da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Lançado no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) de 2025, na Cidade de Goiás, o documentário teve ampla repercussão. "Foi a única exibição do festival com a sala completamente lotada, com pessoas do lado de fora tentando entrar", relembra Mariana. Após ser disponibilizado no canal do projeto no YouTube, o vídeo ultrapassou 21 mil visualizações em duas semanas. A equipe agora prepara versões legendadas em inglês e espanhol.
Assista aqui ao documentário:
Do campo às telas
Organizar uma expedição dessa dimensão exige planejamento antecipado, com atenção especial à logística, segurança e infraestrutura de coleta. A coordenação dessa etapa é conduzida pelo egresso da UFG Ludgero Vieira, professor da Universidade de Brasília (UnB), que há mais de 15 anos, desde o seu doutorado, estuda o Rio Araguaia e atua como vice-coordenador do projeto Araguaia Vivo e coordenador de um subprojeto do PPBio Araguaia.
A expectativa dos pesquisadores é realizar uma nova jornada em fevereiro de 2026. "A bacia do Araguaia está entre as grandes que ainda são pouco conhecidas no país. Cada dado obtido ali representa um avanço importante para a ciência e para a preservação dos nossos biomas", reforça Mariana.
O documentário foi pensado como uma estratégia para ampliar a divulgação científica. "Muita gente aqui no Cerrado conhece mais sobre a Amazônia do que sobre o lugar onde vive. O filme busca também despertar esse olhar". A proposta é tornar a pesquisa mais acessível, aproximando o público do trabalho dos pesquisadores em campo. "Queríamos mostrar como o rio é percebido tanto por quem o estuda quanto por quem vive nele. São visões diferentes que se complementam", afirma Mariana.
Na avaliação de José Alexandre, a produção audiovisual fortalece a visibilidade dos projetos e valoriza o papel das comunidades ribeirinhas. "É impressionante o engajamento nas redes sociais, considerando que é uma iniciativa científica. Os perfis dos projetos nas redes sociais [@araguaivivo e @ppbio.araguaia] reúnem milhares de seguidores, muitos da própria região, acompanhando de perto as ações", relata.
Um dos exemplos dessa integração é o envolvimento dos guias de pesca de Aruanã, que colaboraram nas coletas e participaram da análise dos dados sobre a pesca. Essa troca é reforçada por encontros de devolutiva promovidos pelos pesquisadores. "Eles trazem sugestões, ajudam a aprimorar os métodos e compartilham conhecimentos que só quem vive no território possui. Isso é ciência cidadã: quando a comunidade também constrói o saber", afirma José Alexandre.
Pesquisadora coleta material no Rio Araguaia (Foto: Divulgação Araguaia Vivo)
Novos olhares
A produção apresenta a diversidade de áreas envolvidas nas expedições. Botânica, zoologia, hidrologia, educação ambiental, geoprocessamento e sensoriamento remoto são algumas das frentes de trabalho. "É uma ação interinstitucional e multidisciplinar. Trata-se da maior iniciativa científica já realizada no Araguaia nesse formato", destaca José Alexandre.
As equipes percorrem riachos, estudam organismos terrestres e testam tecnologias como o DNA ambiental – que permite detectar a biodiversidade presente em amostras de água – e a inteligência artificial para identificar micro-organismos. Uma das descobertas mais relevantes até agora foi a identificação de uma nova espécie de Copaifera araguaiensis, planta típica do Cerrado, logo nas primeiras coletas.
O projeto Araguaia Vivo é executado pela Tropical Water Research Alliance (TWRA) e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg). O projeto PPBio Araguaia é executado pela PUC Goiás e financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os projetos reúnem mais de 200 pesquisadores de instituições como UFG, UEG, PUC Goiás, UnB, IF Goiano, Unievangélica, IFG, Unicamp entre outras.
Para José Alexandre, a articulação entre diferentes instituições e áreas do conhecimento é um diferencial. "Cada equipe contribui com sua especialidade. E todas têm um objetivo comum: produzir conhecimento para orientar ações de conservação e uso sustentável no Araguaia".
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Fonte: Secom UFG
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