
IA no cinema: aliada, vilã ou só uma metáfora?
Tema constantemente abordado em filmes de ficção científica está cada vez mais próximo da realidade
Eduardo Bandeira
"Nunca criarás uma máquina que pense tal como o ser humano". Essa é uma das leis que regem a sociedade futurista dos filmes da série Duna, dirigida por Denis Villeneuve, num universo onde a humanidade já enfrentou – e venceu – uma guerra contra as inteligências artificiais.
Para o jornalista João Pedro Santos Ferreira, egresso da Universidade Federal de Goiás (UFG) e que mantém um canal sobre cinema no YouTube, a inteligência artificial é um tema inseparável da ficção científica, mas que nem sempre aparece como protagonista. "Ela pode ser só um ponto de partida, um recurso narrativo para tratar de questões mais complexas", explica.
Historicamente, a IA foi retratada como inimiga nos filmes de ficção, algo que João atribui à própria origem do gênero. Clássicos como O Exterminador do Futuro reforçaram essa visão. Ainda assim, ele lembra que nem todos seguiram essa linha. Em Eu, Robô (2004), por exemplo, a IA ocupa um lugar mais ambíguo, podendo ser lida como uma figura anti-heroica.
Com o tempo, essas representações foram ganhando novas camadas. João aponta Black Mirror como um exemplo atual dessa evolução. Para ele, a série conseguiu captar angústias contemporâneas ligadas ao uso excessivo da tecnologia. "A escolha de focar nas consequências sociais da inovação tecnológica deu à série uma identidade própria", avalia.
Um dos episódios mais comentados da última temporada, Joan é Péssima, mostra uma IA que recria digitalmente a vida de pessoas comuns para exibi-la em um streaming fictício. Para João, esse tipo de trama continua relevante, principalmente com o lançamento de novos episódios que retomam o debate sobre os limites do uso da tecnologia.
Esse interesse recorrente pela IA, segundo ele, também reflete uma preocupação crescente com sua regulamentação. "A ficção tem servido como alerta para os riscos dessa tecnologia, e tudo indica que isso deve continuar", afirma o jornalista.
Eu, Robô (2004) retrata a tecnologia ganhando vida própria (Imagem: Reprodução)
Aliada ou vilã?
Mas nem tudo é distopia. Algumas produções recentes apresentam a IA como aliada – para o bem ou para o mal. É o caso de Acompanhante Perfeita (2025), em que um grupo de jovens programa uma robô chamada Iris para cometer um assassinato e encobrir um roubo.
Essa virada na representação já podia ser percebida em O Exterminador do Futuro 2 (1991), como lembra João. No filme, o mesmo modelo T-800 interpretado por Arnold Schwarzenegger, que antes era vilão, agora aparece como protetor. "Foi uma mudança de chave", aponta.
Ainda assim, o jornalista defende que a IA funciona melhor quando não assume o papel principal. "Ela deve estar a serviço da narrativa. Quando usada sem critério, pode até atrapalhar o desenvolvimento da história", observa. Em Duna, por exemplo, a presença da IA é discreta. "O foco está em temas como política, religião e poder. Isso torna o universo mais denso".
Para o jornalista, o segredo está no equilíbrio. "A inteligência artificial pode enriquecer a ficção científica, desde que tenha um papel claro. O risco é ela virar uma muleta narrativa. Quando bem dosada, pode provocar reflexões profundas sobre o que nos torna humanos".
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