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Universidade Federal de Goiás
Folclore

Memória e identidade caminham com as lendas do folclore

Em 22/08/25 12:39. Atualizada em 22/08/25 12:41.

Historiador analisa os desafios da preservação do folclore goiano

Folclore
Lenda da Louca do Morro da Saudade entrou para a cultura popular de Catalão (Imagem: Reprodução)

Anna Paulla Soares
Eduardo Bandeira

O dia 22 de agosto foi instituído pelo Decreto 56.747 de 1965 como a data oficial para reconhecer e celebrar o folclore brasileiro em seus aspectos antropológicos, sociais e artísticos. Desde então, a legislação tem servido como referência para celebrações, pesquisas e estudos que buscam ampliar o conhecimento sobre a cultura popular nacional.

Nesse contexto, o Jornal UFG conversou com Guilherme Talarico, doutor em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás (UFG), para entender como o folclore goiano se insere nesse cenário.

Segundo o especialista, a lei desempenha um papel importante ao incentivar a organização de grupos responsáveis por manter manifestações culturais vivas. Porém, ele alerta que a interferência de interesses externos pode comprometer a espontaneidade dessas expressões.

Para Guilherme, cabe ao poder público criar condições para que a cultura popular se mantenha diante das pressões econômicas e materiais, sem transformá-la em instrumento político ou mercadológico.

As manifestações culturais e folclóricas são construções históricas que adquirem diferentes sentidos ao longo do tempo. O pesquisador exemplifica com o Saci, símbolo de resistência negra, e o Curupira, associado à defesa da natureza em meio à expansão do agronegócio.

Para o historiador, todas as comunidades carregam suas próprias lendas, costumes e tradições, ainda que algumas ganhem mais notoriedade do que outras. Essas narrativas também cumprem funções sociais e educativas, como no caso do Morro de Jaraguá, onde cada visitante deve oferecer castanhas de cajuzinho-do-cerrado durante a subida. Quem desrespeita a tradição, segundo o costume, atrai azar – crença que, na prática, garante a continuidade do plantio da espécie no local.

Os desafios da preservação

Entre os principais obstáculos para a preservação do folclore goiano, Guilherme destaca o avanço do agronegócio como modelo único de desenvolvimento. Embora se apresente como motor econômico, esse processo provoca a degradação da vegetação nativa e do solo, além de enfraquecer práticas tradicionais ligadas ao meio rural, como a Romaria dos Carreiros de Bois e o Giro da Folia de Reis, que enfrentam dificuldades mesmo quando recebem apoio midiático.

Outro desafio é a pouca valorização da comunidade em relação ao potencial educativo dos museus e acervos. O pesquisador cita o Museu Antropológico da UFG como exemplo. "O Museu Antropológico da UFG é mantenedor de uma exposição permanente de representações materiais da cultura goiana e dos povos tradicionais de Goiás, que pode facilmente estar entre as mais significativas do país".

Para ele, o lema "conhecer para preservar; preservar para conhecer" é mais urgente do que nunca e precisa ser constantemente debatido pela academia e pela sociedade.

O futuro nas mãos dos jovens

Quanto ao papel das novas gerações, Guilherme observa que os jovens demonstram respeito pelas tradições, mas muitas vezes as enxergam como algo restrito aos mais velhos. Para garantir continuidade, ele acredita que é preciso incluir a juventude nas manifestações culturais e conscientizá-la de que a preservação depende de sua participação ativa.

Apesar dos desafios impostos pela urbanização acelerada e pela expansão do agronegócio, o historiador destaca que o folclore não é estático. Por estar em constante transformação, encontra sempre novas formas de se adaptar e sobreviver. "As manifestações culturais não são estanques. Elas se renovam constantemente e continuarão existindo, ainda que em maior ou menor medida", conclui.

 

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Fonte: Secom UFG

Categorias: Cultura Arte e Cultura FH Notícia 1