Versanna Carvalho

A divulgação do resultado final do Prêmio Capes de Tese 2025 colocou em evidência três jovens pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), que defenderam suas teses de doutorado no ano de 2024. Jhonny Guedes, Maxwell Batista e João Marcos conversaram com o Jornal UFG, relatando o impacto desse resultado para suas trajetórias acadêmicas e contando um pouco de suas respectivas pesquisas e os diferenciais que os destacaram entre mais de 1,5 mil trabalhos inscritos.

Nesta primeira entrevista, conversamos com Jhonny José Magalhães Guedes. Ele é o autor do trabalho na área de Biodiversidade intitulado Tendências, vieses e oportunidades de pesquisa em biodiversidade de vertebrados terrestres realizado no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução (PPGEcoEvol), orientado pelo professor José Alexandre Felizola Diniz Filho e coorientado por Mário Ribeiro Moura.

Jhonny Guedes é doutor em Ecologia e Evolução pela UFG (Foto: Arquivo Pessoal)

Qual é o significado deste reconhecimento de uma tese para o autor, os orientadores, coorientadores, a unidade acadêmica e a UFG?

Jhonny Guedes – Há alguns meses, quando soube pelo coordenador do PPG em Ecologia e Evolução que minha tese havia sido selecionada para concorrer ao Prêmio Capes de Tese, fiquei extremamente feliz. Afinal, o PPG EcoEvol da UFG possui conceito máximo na Capes, sendo uma referência nacional na área. Receber posteriormente menção honrosa me deixou ainda mais satisfeito, pois demonstra que, mesmo diante das dificuldades de conduzir um doutorado em plena pandemia, todo o esforço e dedicação foram recompensados em dobro. Assim como eu, meus orientadores ficaram muito felizes com a notícia, já que uma tese é, na verdade, um trabalho colaborativo. Meu último capítulo, por exemplo, contou com a colaboração de um egresso do PPG EcoEvol, o Lucas Jardim. De modo geral, esse reconhecimento traz uma grande sensação de dever cumprido. Agradeço imensamente a todos os envolvidos, incluindo a UFG, pela infraestrutura e pelo excelente corpo docente. Pude aprender muito com eles durante o doutorado, e seus ensinamentos foram fundamentais para a implementação de algumas das ideias desenvolvidas na tese.

Resumidamente, do que se trata a tese Tendências, vieses e oportunidades de pesquisa em biodiversidade de vertebrados terrestres?

Jhonny – A biodiversidade do nosso planeta ainda é pouco conhecida. Estima-se, por exemplo, que apenas cerca de 20% das espécies tenham sido descritas pela ciência. Essa e outras lacunas de conhecimento sobre a biodiversidade dificultam os esforços de conservação, comprometem os resultados de pesquisas e limitam nossa compreensão dos processos ecológicos e biogeográficos que sustentam a diversidade de espécies da Terra. Identificar e compreender essas lacunas é, portanto, fundamental para priorizar pesquisas científicas de forma eficaz, otimizar recursos limitados e, em última instância, contribuir tanto para análises de biodiversidade mais robustas quanto para a implementação de estratégias de conservação mais eficientes. Essa foi a linha central da minha tese, na qual buscamos identificar lacunas de conhecimento em vertebrados terrestres, entender os fatores que geram os padrões observados e propor medidas para mitigar o desconhecimento sobre a biodiversidade. Abordar essas lacunas é essencial para avançar na compreensão dos padrões globais da biodiversidade, possibilitando ações de conservação mais bem informadas e a gestão sustentável dos recursos naturais em um planeta em constante transformação.

De onde veio a ideia para esta tese?

Jhonny – A ideia central da tese está pautada nas lacunas de conhecimento sobre a biodiversidade – uma linha de pesquisa que também foi central no trabalho que desenvolvi durante o mestrado e que se alinha aos projetos conduzidos tanto pelo professor José Alexandre (meu orientador no doutorado) quanto pelo professor Mario Moura (meu coorientador). Por isso, definir a temática principal da tese foi algo relativamente natural. Quanto às ideias de cada capítulo, elas foram surgindo gradualmente ao longo do doutorado, fruto de muita leitura e de conversas com meus orientadores. Por curiosidade, o pontapé inicial do primeiro capítulo, que trata dos vieses no esforço de pesquisa sobre espécies de répteis em escala global, surgiu enquanto eu estava em isolamento, após contrair a covid. Para combater o tédio, mergulhei na leitura de diversos artigos e, nesse processo, surgiu a ideia central do estudo. Naquela mesma semana, consegui reunir os dados principais que, posteriormente, deram origem a um artigo publicado na renomada revista Ecography.

Dentro dos critérios observados no processo seletivo (I. Originalidade do trabalho; II. Relevância para o desenvolvimento científico, e/ou tecnológico/econômico, e/ou político/social, e/ou saúde e bem-estar, e/ou ambiental; III. Robustez e/ou reprodutibilidade da metodologia e análise de dados utilizados na tese; IV. Qualidade da redação, estrutura/organização do texto; V. Grau de inovação e/ou interdisciplinaridade da tese; e VI. Qualidade e impacto(s) de produtos oriundos da tese.), quais acredita que chamaram a atenção dos avaliadores na sua tese?

Jhonny – Acredito que minha tese se enquadre plenamente em todos os critérios mencionados. Ela apresenta originalidade tanto nas perguntas levantadas quanto nas abordagens metodológicas utilizadas. Além disso, possui relevância significativa para o avanço científico e ambiental, ao propor formas eficazes de priorizar pesquisas, otimizar recursos limitados e conservar a biodiversidade com base em abordagens fundamentadas em dados. Trata-se de uma tese robusta, com todos os dados e códigos utilizados disponibilizados publicamente, o que aumenta a reprodutibilidade e a transparência da pesquisa desenvolvida. Os três capítulos centrais da tese foram publicados em periódicos científicos de renome na área de biodiversidade (Ecography, Biology Letters e Systematic Biology), evidenciando a qualidade dos trabalhos, a originalidade, a robustez metodológica, a excelência textual e o potencial impacto das pesquisas.