
Novos caminhos para combater a esquistossomose
Maxwell Caixeta investigou os efeitos de nanopartículas sobre o caramujo que hospeda o parasito
Versanna Carvalho
A segunda matéria sobre os trabalhos da Universidade Federal de Goiás (UFG) que receberam menção honrosa no Prêmio Capes de Tese 2025 traz a entrevista com Maxwell Batista Caixeta. Sob orientação do professor Thiago Lopes Barbosa, o pesquisador defendeu a tese Toxicidade de nanopartículas verdes de óxido de cobre ao longo do desenvolvimento de Biomphalaria glabrata (Mollusca: Planorbidae) no Programa de Pós-Graduação em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (PPGBRPH), do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (Iptsp). A tese recebeu a menção honrosa na área de Ciências Biológicas III.

Qual é o significado deste reconhecimento de uma tese para o autor, os orientadores, coorientadores, a unidade acadêmica e a UFG?
Maxwell Caixeta – Esse reconhecimento representa, antes de tudo, uma imensa alegria pessoal. Ver a minha tese ser reconhecida pela Capes, em meio a tantas pesquisas de excelência no Brasil, é a confirmação de que todo o esforço e dedicação valeram a pena. Para mim, é um marco na trajetória acadêmica, um incentivo para seguir pesquisando e acreditando no impacto que a ciência pode ter na vida das pessoas. Para o meu orientador, acredito que seja também um reconhecimento da orientação cuidadosa e comprometida que recebi. Ele foi fundamental em todas as etapas do trabalho, oferecendo suporte, críticas construtivas e, principalmente, acreditando no potencial da pesquisa. No contexto da unidade acadêmica, o Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (Iptsp), e do programa de pós-graduação, o prêmio reforça a qualidade da formação oferecida e mostra que estamos alinhados com os desafios atuais da ciência, da saúde e do meio ambiente. É um motivo de orgulho coletivo, porque uma tese reconhecida em nível nacional não nasce de um esforço isolado, mas de um ambiente que valoriza a pesquisa e o trabalho em equipe. Já para a UFG, esse reconhecimento evidencia o papel central da universidade pública na produção de conhecimento de ponta e na formação de recursos humanos qualificados.
Resumidamente, do que se trata a tese Toxicidade de nanopartículas verdes de óxido de cobre ao longo do desenvolvimento de Biomphalaria glabrata (Mollusca: Planorbidae)?
Maxwell – De forma resumida, minha tese investigou os efeitos de nanopartículas verdes de óxido de cobre, produzidas a partir de uma planta do Cerrado conhecida popularmente como sangra-d'água, sobre o caramujo Biomphalaria glabrata, que é o hospedeiro intermediário do parasito Schistosoma mansoni que causa esquistossomose (barriga d'água), doença tropical negligenciada, que infelizmente ainda é frequente no Brasil e em outros países tropicais da américa, África e Ásia. O objetivo foi avaliar como essas nanopartículas afetam o desenvolvimento dos caramujos em diferentes fases da vida, verificando alterações celulares, no desenvolvimento embrionário e genéticas, além do potencial de controle populacional. A ideia é buscar uma alternativa mais sustentável e eficiente para controlar esse hospedeiro intermediário, e consequentemente a transmissão do parasito que causa a esquistossomose, unindo biotecnologia e biodiversidade brasileira.
De onde veio a ideia para esta tese?
Maxwell – A ideia da tese surgiu a partir do meu mestrado, no qual eu já investigava o potencial de nanopartículas metálicas no controle dos caramujos, sempre com a preocupação de buscar alternativas mais específicas e eficazes do que os moluscicidas atualmente utilizados. No doutorado, demos um passo adiante: incorporamos a chamada síntese verde, que utiliza extratos de plantas para produzir as nanopartículas. Essa abordagem foi escolhida porque permite uma forma mais ecológica de produção, reduzindo ou até evitando a geração de resíduos tóxicos durante o processo. Assim, unimos a busca por eficácia no combate à doença com a preocupação ambiental.
Dentro dos critérios observados no processo seletivo (I. Originalidade do trabalho; II. Relevância para o desenvolvimento científico, e/ou tecnológico/econômico, e/ou político/social, e/ou saúde e bem-estar, e/ou ambiental; III. Robustez e/ou reprodutibilidade da metodologia e análise de dados utilizados na tese; IV. Qualidade da redação, estrutura/organização do texto; V. Grau de inovação e/ou interdisciplinaridade da tese; e VI. Qualidade e impacto(s) de produtos oriundos da tese.), quais acredita que chamaram a atenção dos avaliadores na sua tese?
Maxwell – Acredito que alguns pontos específicos da minha tese tenham chamado mais a atenção dos avaliadores. Em primeiro lugar, a originalidade do trabalho: foi a primeira vez que se estudou de forma tão detalhada o uso de nanopartículas verdes de óxido de cobre, sintetizadas a partir de uma planta do Cerrado, para o controle do caramujo Biomphalaria glabrata. Outro aspecto importante foi a relevância social e ambiental. A esquistossomose ainda é uma doença negligenciada que impacta milhares de pessoas no Brasil e em outros países, e pensar em soluções mais eficazes e, ao mesmo tempo, mais sustentáveis é uma necessidade urgente. Acredito também que a robustez metodológica tenha pesado bastante. A pesquisa envolveu desde revisões sistemáticas e caracterizações físico-químicas em diferentes laboratórios, até experimentos biológicos em várias fases do desenvolvimento do caramujo. Esse conjunto deu consistência aos resultados e garantiu reprodutibilidade. Por fim, destaco o grau de inovação e a interdisciplinaridade. A tese dialoga com áreas como parasitologia, nanotecnologia, ecotoxicologia e saúde pública, além de já ter gerado artigos publicados em periódicos internacionais de impacto, que já acumulam dezenas de citações, mostrando a qualidade e relevância dos produtos derivados.
Leia as entrevistas com os outros pesquisadores reconhecidos no Prêmio Capes de Tese 2025:
Pesquisa identifica lacunas de conhecimento sobre vertebrados terrestres
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Fonte: Secom UFG
Categorias: Prêmio Capes de Tese Ciências Naturais IPTSP Especial Notícia 1