Impactos do tarifaço dos EUA sobre as exportações brasileiras
Até o momento, efeitos mostram-se muito mais segmentados do que agregados
Edson Roberto Vieira
Antônio Marcos de Queiroz
As novas tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, elevadas para 50,0%, entraram em vigor em 6 de agosto de 2025. A análise das informações disponibilizadas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, referentes ao mês de setembro de 2025 – o primeiro com dados completos após o tarifaço –, revela resultados relevantes, tanto em nível nacional quanto regional.
A participação dos EUA no total das exportações estaduais e do Distrito Federal é bastante desigual, apresentando ampla dispersão. Em 2024, o estado no qual os EUA tinham maior peso no total de suas exportações era São Paulo, que enviava para aquele país 33,6% de seus embarques externos. Em seguida, com 18,4%, estava o Rio de Janeiro, e depois Minas Gerais, com 14,4%. No Espírito Santo, a participação dos EUA no total das exportações era de 7,4%. Nos demais estados e no Distrito Federal, essa participação era inferior a 5,0% em 2024, e, em alguns casos – como Amapá, Acre, Distrito Federal e Roraima –, praticamente nula. Em Goiás, os embarques para os EUA representavam cerca de 1,7% do total exportado pelo estado.
Por essa razão, mesmo diante de quedas significativas das exportações para os EUA em setembro de 2025, os impactos sobre o total exportado pelos estados e o Distrito Federal foram bastante distintos. O estado de Minas Gerais apresentou o maior impacto negativo sobre suas exportações totais em função da queda das vendas para os EUA. O impacto foi de -7,3%, resultado de uma redução de 50,5% nas exportações destinadas ao mercado norte-americano e da elevada participação desse país (14,4%) no total das exportações mineiras.
A despeito de as exportações para os EUA representarem parcela relativamente pequena do total exportado, Santa Catarina apresentou o segundo maior impacto negativo (-2,97%), decorrente de uma forte queda (-54,9%) nas vendas ao mercado norte-americano. Sendo o estado com maior participação das exportações para os EUA no total de suas vendas externas, São Paulo teve o terceiro maior impacto negativo (-2,9%), ainda que a queda de suas exportações para aquele mercado (-7,7%) tenha sido bem menor do que as observadas em Minas Gerais e Santa Catarina.
Por outro lado, quatro estados e o Distrito Federal apresentaram aumento das exportações para os EUA em setembro de 2025: Ceará (152,9%), Goiás (20,9%), Roraima (189,2%) e Sergipe (1.552,1%). Como a participação dos EUA no total das exportações desses estados e do Distrito Federal é reduzida, os impactos dessas variações foram positivos, mas de pequena magnitude. No caso de Goiás, por exemplo, o impacto foi de apenas 0,35%.
Em relação aos produtos, ao menos até o momento, aqueles com maior peso no total das exportações brasileiras e que parecem ter sido mais afetados são: o café – produto em que o Brasil responde por 37% do café importado pelos EUA; as carnes bovinas, que representam cerca de 23% das importações norte-americanas do produto; o açúcar orgânico, responsável por aproximadamente 49% do mercado americano; e a madeira e seus derivados, especialmente segmentos como painéis compensados e madeira serrada de pinus, com forte concentração nas regiões Sul e Norte do país e mais de 30% da produção voltada ao mercado dos EUA.
Produtos fortemente dependentes do mercado norte-americano, evidentemente, foram os mais afetados pelo tarifaço. Em 2024, alguns deles tinham 100% de suas exportações destinadas aos EUA, como o filé de garoupa congelado, os aparelhos de tubo de descarga para produção de luz-relâmpago ("flashes eletrônicos") e os tratores especialmente concebidos para arrastar troncos (log skidders), com potência de motor superior a 130 kW.
Do total de 4.739 produtos classificados pela Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) e exportados pelo Brasil para os EUA em 2024, 126 destinavam todas as suas exportações a esse país. Contudo, o impacto agregado da queda nas exportações desses 126 produtos é pouco significativo, uma vez que representavam apenas 0,1% do total das exportações brasileiras naquele ano. Esse também é o caso de outros produtos muito concentrados no mercado norte-americano, mas pouco representativos no total das exportações do país.
Assim, ao menos até o momento, os impactos do tarifaço sobre as exportações brasileiras mostram-se muito mais segmentados do que agregados. Para os produtos com forte concentração no mercado dos EUA, o impacto é expressivo, mas sem afetar significativamente o total das exportações brasileiras. Ademais, produtos de maior relevância nas exportações nacionais, como o café e as carnes, cujas vendas para os EUA caíram de forma acentuada em setembro de 2025 (29,0% e 66,0%, respectivamente), vêm encontrando novos mercados para absorver essa oferta.
No caso da carne bovina, parte relevante da redução das exportações para os EUA foi compensada pelo aumento das vendas para a China, o México, os Emirados Árabes Unidos (e demais países do Oriente Médio), além da abertura de novos mercados, como Filipinas, Vietnã e Singapura. Por sua vez, as exportações de café brasileiro para a Alemanha se intensificaram, e o país assumiu o posto de maior comprador, ultrapassando os Estados Unidos em volume e valor. Houve também crescimento expressivo das exportações brasileiras de café para a China, a Colômbia e o México. Como resultado desse processo, as exportações brasileiras de carne bovina e de café aumentaram em setembro de 2025, em comparação com o mesmo mês de 2024. Na mesma linha, as exportações totais do Brasil cresceram 7,2% na mesma base de comparação.
Evidentemente, os setores mais afetados precisam ser acompanhados com atenção. Identifica-se a existência de diversos clusters locais formados por municípios cujas exportações destinadas aos Estados Unidos superam a média nacional. Nesses casos, é fundamental evitar possíveis efeitos em cascata, que possam provocar retração industrial, redução na circulação de renda e impactos multiplicadores negativos sobre a economia regional.
Por fim, é importante ressaltar que todas essas análises baseiam-se nos primeiros resultados disponíveis das exportações brasileiras após a implementação do tarifaço, tendo como referência o mês de setembro de 2025. À medida que novos dados forem divulgados, as conclusões aqui apresentadas poderão ser revistas e aprimoradas. Seguiremos acompanhando.
Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás, n. 185, outubro de 2025.
Edson Roberto Vieira e Antônio Marcos de Queiroz são professores da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas (FACE) da UFG.
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Fonte: FACE
Categorias: colunistas Humanidades FACE






