Mapear para restaurar: o Cerrado no centro do clima e da vida
O bioma que nasce água e sustenta o equilíbrio do país pede protagonismo na agenda climática
Elaine Barbosa da Silva
O Cerrado ocupa o coração do território brasileiro e abriga as nascentes que alimentam as principais bacias hidrográficas do país. É o bioma que conecta e influencia quase todos os outros: Amazônia, Caatinga, Pantanal e Mata Atlântica. Cuidar do Cerrado é cuidar da base hídrica e ecológica que mantém o Brasil vivo.
Porém, o bioma central enfrenta um processo acelerado de transformação. De acordo com dados do MapBiomas, mais de 50% da vegetação nativa do Cerrado goiano já foi convertida pela expansão agropecuária e urbana. Essa perda não é apenas da vegetação, é um alerta sobre a segurança hídrica e climática do país.
Diante dessa urgência, o Atlas dos Remanescentes de Vegetação do Estado de Goiás representa um marco para a gestão ambiental. A iniciativa, idealizada pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad) e executada pelo Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig/UFG), utiliza sensoriamento remoto, inspeção visual, validações em campo e aprendizado de máquina para mapear, com precisão inédita, os fragmentos de vegetação nativa que ainda resistem no território goiano.
Resultados parciais revelam padrões importantes. Nas bacias do Meia Ponte, dos Bois e do Médio Tocantins–Paranã, o mapeamento identificou a fragmentação das áreas florestais e úmidas, mas também núcleos de vegetação conservada com potencial para conexão ecológica.
O Atlas vai além de quantificar o que resta. Ele vai auxiliar na compreensão da qualidade, da conectividade e do potencial de recuperação dos remanescentes. Essas informações são essenciais para orientar políticas públicas de conservação, restauração e uso sustentável da terra. O Atlas reflete a ciência oferecendo a base técnica para decisões ambientais mais justas e eficazes.
Em diversos estudos sobre a ocupação e os impactos socioambientais no Cerrado, observa-se que a ausência de informações detalhadas é uma das principais barreiras à conservação. O Atlas representa uma resposta concreta de mapear e orientar a restauração e, assim, transformar dados em ação e colocar o Cerrado goiano no centro das estratégias de sustentabilidade nacional.
O detalhamento espacial produzido pelo Atlas permite enxergar o Cerrado Goiano para além de números e estatísticas. Cada remanescente mapeado representa uma oportunidade de reconexão entre paisagens e de planejamento sustentável do território. Reconhecer o Cerrado como bioma estruturante é reconhecer que a gestão ambiental depende, antes de tudo, de conhecimento preciso. Mapear é o primeiro passo para restaurar, e restaurar é garantir o futuro do Brasil.
Elaine Barbosa da Silva é professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) e coordenadora do Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento (Lapig).
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Fonte: Lapig
Categorias: artigo Ciências Naturais Lapig






