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Universidade Federal de Goiás
Financiamento universidades

Modelo de orçamento pode garantir maior autonomia universitária

Em 09/12/25 13:45. Atualizada em 09/12/25 14:16.

Financiamento insuficiente e mecanismos de restrição trazem sérios desafios a manutenção das instituições

 

Financiamento universidades
Restrições orçamentárias ainda são desafio para as universidades públicas brasileiras | Foto: Carlos Siqueira/Secom UFG

 

Kharen Stecca

As universidades federais brasileiras enfrentam um paradoxo: embora a Constituição Federal de 1988 lhes garanta autonomia de gestão financeira, didático-científica, administrativa e patrimonial, a realidade orçamentária impõe uma série de mecanismos que diminuem essa liberdade fundamental. O grande problema é que isso gera uma insuficiência crônica de recursos para manutenção e desenvolvimento, forçando as instituições a uma busca constante por fontes alternativas de financiamento para despesas básicas, o que compromete a execução plena de suas missões de ensino, pesquisa e extensão. Assim, perde-se tempo com questões que não precisavam ocupar espaços na agenda dos gestores.

Um estudo publicado no Caderno CRH, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), cujo primeiro autor é o professor aposentado da Universidade Federal de Goiás (UFG), Nelson Cardoso do Amaral, especialista no tema da gestão e financiamento universitário, aprofunda essa questão, revelando como a dinâmica do financiamento tem se tornado, na prática, um instrumento de restrição da autonomia universitária.

O artigo analisa a aplicação da proposta produzida pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) em 2013 para tentar reverter esse cenário e garantir a autonomia. É uma minuta de Lei Orgânica das Universidades Públicas Federais, que inclui uma proposta de financiamento permanente. Essa metodologia visa definir o volume de recursos para Outras Despesas Correntes (ODC) e Investimento (INV) anualmente, com base na estrutura orçamentária do ano anterior e atrelada aos gastos com a folha de pagamento dos servidores.

 

COMO FUNCIONA O ORÇAMENTO DAS UNIVERSIDADES HOJE?

As universidades federais possuem hoje seus recursos divididos em Recursos de Pessoal e Encargos Sociais (PES), que constitui a maior parte do orçamento dessas instituições e é responsável pelo pagamento dos servidores e seus direitos trabalhistas; o Orçamento para Despesas Correntes (ODC), que inclui os valores necessários para manutenção da instituição (energia, água, segurança, etc.), também conhecido como custeio; e os recursos de investimento (INV) que resultam em patrimônio da universidade, como a compra de novos equipamentos.

A folha de pagamento está atrelada aos planos de carreira dos servidores, benefícios, etc. Esses valores, embora façam parte do orçamento da instituição, não são passíveis de alteração. Mas os recursos de ODC e INV, apesar de previstos no orçamento no ano anterior, podem ser contingenciados e também revistos sem uma regra clara.

Gráfico 1 – Evolução dos percentuais de PES, ODC e INV em relação ao orçamento total das UFs | Fonte: Siop

 

Proposta Andifes

A proposta da Andifes estabelece que o volume total de recursos para ODC e INV equivaleria a 33,5% dos recursos totais de Pessoal e Encargos Sociais (PES), distribuídos da seguinte forma: 25% de PES para livre distribuição nas UFs; 5% para projetos de pesquisa e extensão; 5% para ações de expansão e melhoria da qualidade; e 0,5% para gratificações de dirigentes.

Essa modelagem, inspirada em padrões de estabilidade de financiamento observados em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), busca proporcionar estabilidade para o financiamento de manutenção e desenvolvimento. Simulações dessa proposta para o período 2000–2024 demonstram que os valores seriam significativamente maiores do que os efetivamente implementados, ressaltando a urgência de uma definição que estabeleça esses recursos como parte intrínseca da autonomia universitária.

 

Leia também: A universidade pública como fator de desenvolvimento nacional

 

Nelson Amaral
Primeiro autor do artigo, professor Nelson Amaral é referência nos estudos sobre financiamento das universidades | Foto: Carlos Siqueira/Secom UFG

 

Estabilidade econômica e política

Para os autores do artigo, o futuro da educação superior pública no Brasil depende do estabelecimento de uma estrutura de financiamento que permita às instituições desenvolver suas atividades com a autonomia constitucionalmente determinada.

O professor Nelson Amaral afirma que é urgente pensar em uma modelagem que possa dar maior estabilidade econômica e política às universidades, como proposto no estudo. Ele explica que as universidades estaduais paulistas, por exemplo, têm seus recursos atrelados à arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS). A proposta analisada no artigo utiliza o atrelamento dos recursos de custeio e investimento à folha de pagamento dos servidores. E há, em sua opinião, vantagens e desvantagens que precisam ser avaliadas.

Ao longo do artigo, os autores analisam cenários reais do orçamento das universidades e também cenários simulados, caso a proposta estivesse vigente desde 2001. O quadro real mostra uma imensa discrepância entre os recursos de pessoal e de custeio e capital dessas instituições (veja gráfico 1), mas na simulação da proposta da Andifes há um cenário de estabilidade e previsibilidade, o que tornaria o trabalho dos gestores mais sobre busca de crescimento do que de busca por recursos para pagar custeios básicos das instituições.

O professor explica que a maior parte dos recursos das universidades é destinado a gastos de pessoal. O atrelamento das despesas de capital e custeio a esse gasto pode trazer uma dificuldade de negociação de aumento de salários, por exemplo, pois esses recursos, hoje desvinculados, estariam atrelados. No entanto, para ele, há uma grande vantagem: ao envolver os recursos de manutenção da instituição na negociação salarial, ganha-se apoio da sociedade e dos estudantes, pois significa também melhoria no orçamento da instituição.

Nos países da OCDE, como explica o professor, embora não haja um atrelamento formal dessas despesas, isso acontece de forma orgânica. "Percebemos que isso flui naturalmente nesses locais, que são mais estáveis que o Brasil. Se somos comparados com essas universidades em rankings, temos também que buscar neles modelos para seguirmos a mesma trajetória, com uma modelagem que realmente traga autonomia", explica.

 

Gráfico 2 financiamento universidades
Gráfico 2 – Evolução dos percentuais de PES e (ODC + INV) no período 2001–2024, aplicando-se a metodologia Andifes de 2013 | Fonte: Simulação com dados do Siop

 

Avaliação

Em maio de 2025 a Andifes realizou um seminário de avaliação do cenário orçamentário e a discussão de modelos que possam nortear a distribuição de recursos entre as universidades. Além de mostrar o atual cenário do orçamento das instituições, o professor Nelson Amaral apresentou os dados avaliados no artigo. O professor explica que diversas sugestões foram levantadas, como a desvinculação da folha de pagamento dos aposentados e dos recursos próprios da instituição nessa modelagem.

No evento, o Ministério da Educação (MEC) também apresentou uma proposta com os dados das matrizes OCC e Pnaes, agregando outros indicadores padronizados, como número de matriculados e concluintes, qualidade dos cursos e localização geográfica. Também foi estudada a viabilidade da criação de um fundo específico para o financiamento das universidades federais, inspirado no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).

Acesse aqui o artigo completo Universidades Federais: autonomia subtraída pelo financiamento?.

 

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Fonte: Secom UFG

Categorias: educação Humanidades FE Destaque