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Universidade Federal de Goiás
Mosquito malária

Mosquitos da malária estão mais resistentes a inseticidas, revela pesquisa

Em 11/12/25 15:42. Atualizada em 11/12/25 15:43.

Estudo com participação da UFG e realizado em Moçambique também identificou principais focos das larvas

 

Mosquito malária
Anopheles funestus, um dos vetoras da malária em Moçambique, é alvo de ações de controle | Foto: James Gathany/University of Notre Dame

 

Da Redação

Um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e moçambicanos no distrito de Machaze, província de Manica, em Moçambique, identificou altos níveis de resistência dos mosquitos vetores da malária a inseticidas piretroides amplamente utilizados no controle da doença. Inseticidas piretroides são compostos sintéticos derivados das piretrinas naturais (substâncias extraídas de flores), que agem no sistema nervoso dos insetos, causando paralisia e morte.

Publicado na Revista Sociedade Científica, o trabalho avaliou a densidade dos vetores e sua suscetibilidade a seis inseticidas. Os dados mostram que, enquanto alguns compostos mantêm eficácia, a resistência a outros pode estar comprometendo os esforços de controle e colocando milhares de pessoas em risco. Entre os autores do artigo está o estudante de pós-graduação em Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Federal de Goiás (UFG) Bernardo João Francisco Companhia.

A malária é uma doença infecciosa causada por parasitas do gênero Plasmodium, transmitida pela picada de mosquitos Anopheles (conhecido como mosquito-prego), que provoca febre, calafrios e anemia, e pode ser grave se não tratada.

Coleta

Distrito Machaze
Distrito de Machaze, em Moçambique | Imagem: Reprodução

Os pesquisadores concentraram-se em duas localidades do distrito, Bassane e Chitobe, para fornecer um diagnóstico localizado e baseado em evidências que pode orientar ações mais eficazes. A equipe coletou mosquitos adultos utilizando três métodos diferentes: pulverização intradomiciliar (método Flit), armadilhas luminosas CDC e armadilhas de cova. Paralelamente, foram amostradas larvas em potenciais criadouros, que foram criadas em laboratório até a fase adulta para os testes de suscetibilidade, seguindo os protocolos padronizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Os resultados apontaram para uma disparidade significativa na densidade de vetores entre as duas localidades investigadas. Bassane apresentou uma densidade muito maior, com 2,4 mosquitos fêmeas de Anopheles spp. por compartimento amostrado, contra apenas 0,9 em Chitobe. A análise por pessoa também mostrou risco mais elevado em Bassane, com 0,8 mosquito por pessoa, frente a 0,3 em Chitobe.

As cisternas caseiras foram identificadas como os principais focos de proliferação larval, com uma densidade de 1,4 larvas por concha e responsáveis por 60% do total de larvas encontradas. A drenagem de água de fontanário (água proveniente de nascente) também contribuiu significativamente (38,8%), enquanto criadouros temporários, como pisadas de animais, tiveram menor impacto.

Resistência a inseticidas

O cerne do estudo e seu achado mais preocupante reside nos testes de suscetibilidade. Foram expostos cerca de 520 mosquitos a seis inseticidas de diferentes classes. Chlorfenapyr, Pirimiphos-Methyl, Bendiocarb e DDT mostraram excelente desempenho (acima de 99%), indicando que os mosquitos da região ainda são suscetíveis a esses produtos.

Em contraste, os inseticidas piretroides, que são amplamente usados em redes mosquiteiras e pulverizações, apresentaram baixa eficácia: Alfacypermetrina (79%) e Deltametrina (71%). Taxas de mortalidade abaixo de 90% são consideradas indicativas de resistência pela OMS.

"A resistência a piretroides tem sido amplamente relatada em outras regiões, frequentemente associada a mecanismos genéticos como a mutação KDR", comentam os autores, referindo-se à knockdown resistance, que reduz a sensibilidade do inseto ao inseticida. O achado sugere que o uso contínuo e intensivo dessa classe de inseticida pode estar perdendo efetividade em Machaze, exigindo uma revisão urgente das estratégias de controle.

Alto risco

Com base nos dados coletados, a pesquisa conclui que a localidade de Bassane apresenta um risco significativamente maior de transmissão da malária, impulsionado pela maior densidade vetorial e pela presença de criadouros domésticos prolíficos, como cisternas mal higienizadas.

Para enfrentar esse cenário, os cientistas recomendam reduzir a dependência de piretroides e incorporar ou reintroduzir compostos que ainda apresentam alta eficácia, como Chlorfenapyr, Bendiocarb e, com monitoramento rigoroso, o DDT. Intervenções focadas no saneamento doméstico, como a correta cobertura ou tratamento de cisternas caseiras e a melhoria da drenagem de águas paradas também são essenciais para reduzir os criadouros próximos às habitações.

O estudo evidencia ainda a necessidade de ampliar e tornar regular a vigilância entomológica na província, superando limitações de recursos e cobertura para detectar precocemente mudanças na resistência e densidade dos vetores.

 

INCIDÊNCIA DA MALÁRIA EM MOÇAMBIQUE

A malária permanece um dos maiores desafios de saúde pública em Moçambique. Apesar de uma ligeira redução nos casos reportados entre 2020 e 2021, a doença ainda é a principal causa de procura por serviços de saúde no país. Na província de Manica, onde se localiza o distrito de Machaze, quase 40% das pessoas que buscaram atendimento em 2021 foram testadas para malária, com uma taxa de positividade de 43%. No entanto, dados mais recentes do Programa Nacional de Controlo da Malária indicam um aumento alarmante de cerca de 91% nos casos notificados entre 2022 e 2023, sinalizando uma possível reversão nos ganhos obtidos.

 

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Fonte: Secom UFG

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