Icone Instagram
Ícone WhatsApp
Icone Linkedin
Icone YouTube
Universidade Federal de Goiás
Painel Econômico desemprego

O mapa do desemprego em Goiás

Em 12/12/25 13:43. Atualizada em 12/12/25 13:43.

Análise por estratos geográficos mostra forte heterogeneidade interna, refletindo estruturas produtivas distintas

Edson Roberto Vieira
Antônio Marcos de Queiroz

Poucas pessoas sabem que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), possui resultados em nível dos chamados Estratos Geográficos. Tais estratos referem-se a agrupamentos de municípios, construídos com base em critérios de homogeneidade territorial e na necessidade de garantir representatividade estatística. Assim, foram definidos 146 recortes em nível nacional, de modo a assegurar que suas pesquisas captem com fidelidade as nuances e desigualdades locais, oferecendo um retrato mais nítido e representativo da diversidade real existente dentro de cada unidade da federação.

No caso de Goiás, o IBGE dividiu seus 246 municípios em seis estratos: (i) o município da capital foi definido como um único estrato, já que, sozinho, possui o segundo maior número de pessoas em idade de trabalhar (1,278 milhão de pessoas). O estrato que reúne o maior número de pessoas em idade de trabalhar é o (ii) Sul de Goiás, que conta com 82 municípios e 1,282 milhão de pessoas em idade de trabalhar. Os outros quatro estratos são o (iii) Centro-Oeste de Goiás, que abrange 79 municípios e 942 mil pessoas em idade de trabalhar; (iv) o Entorno Metropolitano de Goiânia, com 19 municípios e cerca de 1 milhão de pessoas em idade de trabalhar; (v) Integrada de Brasília em Goiás, que também conta com 19 municípios, mas tem o segundo maior número de pessoas em idade de trabalhar (1,126 milhão de pessoas); (vi) e Norte de Goiás, que envolve 46 municípios e 413 mil pessoas em idade de trabalhar.

A análise do mercado de trabalho em cada uma dessas regiões traz à luz resultados interessantes. No segundo trimestre de 2025 (2ºT/2025), a taxa de desocupação do Brasil foi de 5,8% e a de Goiás, de 4,4%. Já as taxas por estrato variaram bastante. A menor foi registrada pelo Entorno Metropolitano de Goiânia, com 2,8%. Essa região funciona como o principal cinturão industrial e logístico do estado, com Aparecida de Goiânia despontando em alimentos, bebidas, farmacêuticos e metalurgia; Senador Canedo também se destaca por abrigar um dos maiores polos de distribuição de combustíveis do país, reforçando a infraestrutura logística; e Trindade, que agrega dinamismo por meio do turismo religioso, movimentando comércio e serviços.

Em seguida, com taxa de desocupação de 3,3%, situou-se o estrato referente a Goiânia, que foi uma das capitais com menor índice do país (atrás apenas de Palmas) no 2ºT/2025. O município da capital concentra o setor terciário mais robusto do estado, destacando-se pela administração pública, serviços avançados, saúde de alta complexidade, educação superior e sistema financeiro. Além disso, abriga um dos maiores polos de moda do Brasil, a Região da 44, que impulsiona o turismo de compras, bem como um dos mercados da construção civil mais aquecidos do Centro-Oeste, sustentado por um dinamismo imobiliário acentuado.

Os estratos Centro-Oeste de Goiás e Sul de Goiás tiveram a mesma taxa de desocupação no 2ºT/2025, de 3,6%, situando-se também abaixo da média estadual. O primeiro desses estratos caracteriza-se por ser uma região de transição marcada por pecuária tradicional e avanço gradual da agricultura modernizada, tendo como polos Iporá e São Luís de Montes Belos. É um importante polo leiteiro do estado, com presença relevante de laticínios e cadeias produtivas locais. Sua base econômica também inclui pecuária de corte e pequenas indústrias, como confecções e cerâmicas, que atendem tanto os centros urbanos quanto a zona rural.

Já o estrato Sul de Goiás destaca-se por seu foco no agronegócio de alta tecnologia em Goiás, liderando a produção de soja, milho e algodão no estado, com destaque para os municípios de Jataí e Rio Verde; a região concentra importantes polos agroindustriais, com frigoríficos de aves e suínos e plantas de esmagamento de soja; seu setor sucroenergético também é relevante, com usinas de etanol e bioenergia que fortalecem a matriz produtiva local.

Os outros dois estratos do estado de Goiás definidos pelo IBGE apresentaram taxas de desocupação superiores à média nacional no período analisado. O Norte de Goiás registrou taxa de 4,5%, possivelmente porque a região apresenta uma economia pouco diversificada e fortemente dependente de setores intensivos em capital, como a mineração (especialmente nos municípios de Alto Horizonte, Minaçu e Niquelândia), a pecuária extensiva (com destaque para Porangatu, São Miguel do Araguaia e Uruaçu) e o turismo (notadamente na Chapada dos Veadeiros), todos caracterizados por menor capacidade de geração de empregos e elevada sazonalidade. Além disso, o território enfrenta níveis elevados de informalidade e limitações estruturais persistentes, entre elas a menor qualificação da força de trabalho e um histórico de isolamento logístico, fatores que reduzem a capacidade de absorção de trabalhadores no mercado formal.

Por fim, o recorte estadual que apresentou a taxa de desocupação mais elevada foi a Integrada de Brasília em Goiás, com taxa de 8,9%. Sua dinâmica econômica é fortemente marcada pelo fluxo pendular de mão de obra: grande parte da população mora nos municípios goianos, mas depende de empregos situados no Distrito Federal. Em períodos de menor geração de vagas no DF ou de maior competição no mercado brasiliense, muitos trabalhadores passam a procurar emprego dentro do território goiano, onde a capacidade de absorção é menor e concentrada em comércio e serviços de baixa produtividade, elevando a desocupação medida. Além disso, a região tem rápido crescimento populacional, alta informalidade, menor diversificação produtiva e infraestrutura urbana frequentemente insuficiente para acompanhar o avanço demográfico, fatores que ampliam a pressão sobre o mercado local e explicam, de forma estrutural, o desemprego mais alto em comparação às demais regiões do estado.

Em síntese, a análise dos estratos geográficos definidos pelo IBGE revela que o mercado de trabalho goiano apresenta forte heterogeneidade interna, refletindo estruturas produtivas distintas, diferentes níveis de urbanização e variados graus de integração econômica. Enquanto regiões industriais, agroindustriais e de serviços consolidados exibem baixas taxas de desocupação sustentadas por maior dinamismo e diversificação setorial, outras áreas enfrentam restrições estruturais que limitam a geração de empregos, como dependência setorial, informalidade e infraestrutura insuficiente.

Esses contrastes mostram que políticas públicas uniformes têm eficácia limitada e reforçam a necessidade de estratégias territoriais capazes de reduzir desigualdades regionais persistentes mesmo em períodos de expansão econômica.

 

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás, n. 186, novembro de 2025.

 

Edson Roberto Vieira e Antônio Marcos de Queiroz são professores da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas (FACE) da UFG.

 

Envie sua sugestão de artigo para o Jornal UFG
Acesse aqui as diretrizes para submissão.

Receba notícias de ciência no seu celular
Siga o Canal do Jornal UFG no WhatsApp e nosso perfil no Instagram.

Política de uso
Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião do Jornal UFG.
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal UFG e do autor.

Fonte: FACE

Categorias: colunistas Humanidades FACE