Nem todas as cascas, caroços e sementes precisam ir para o lixo
Nem todas as cascas, caroços e sementes precisam ir para o lixo
Estudos da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos mostram que resíduos de alimentos podem ser utilizados em novas receitas e como substitutos de ingredientes tradicionais
Texto: Angélica Queiroz | Fotografia: Renata Fleury Curado Roriz
Restos de alimentos servem de base para novas receitas
A grande quantidade de resíduos produzidos pela indústria alimentícia sempre incomodou a professora do curso de Engenharia de Alimentos da UFG, Clarissa Damiani, que se dedica, junto a seus alunos de graduação e pós-graduação, a buscar alternativas para o aproveitamento desses alimentos. As pesquisas comprovam que é possível aproveitar cascas, caroços e sementes de frutas e hortaliças em receitas deliciosas e nutritivas, como doces de casca de jabuticaba e de melancia, granola de cascas desidratadas de banana e maçã e até biscoitos sem glúten produzidos a partir de quirera de arroz e okara.
Pensando em acabar com tal possibilidade, pesquisadores de todo o mundo estudam uma nova técnica de criptografia: a chamada criptografia quântica. Entre eles estão dois professores do Instituto de Física da UFG (IF) que, em parceria com dois pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desenvolveram um protocolo que utiliza a luz para codificar e decodificar mensagens. O sistema, baseado em princípios da Física Quântica, possui um alfabeto com 37 caracteres, 18 vezes mais símbolos que o Protocolo BB84, que é utilizado em bancos suíços, considerados os mais seguros do planeta.
Além do sabor, as pesquisas identificam os nutrientes existentes nos resíduos e analisam a permanência dos mesmos após o processamento, para que agreguem valor nutritivo aos alimentos produzidos e possam, também, servir como opção para substituir ingredientes comuns, adaptando receitas já existentes.
"Temos que parar de jogar alimento no lixo. O que hoje tratamos como lixo pode virar matéria-prima."
Os resíduos de frutas, leguminosas e hortaliças são desprezados pelas indústrias que precisam lidar com o problema ambiental e geralmente pagam alguém para dar fim ao lixo que acaba virando adubo. Isso ocorre num cenário em que é necessário o aumento da produção de alimentos para uma população crescente, sem aumentar o desmatamento. “Falta comida e não tem como aumentar a produção porque falta espaço. Temos que parar de jogar alimento no lixo. O que hoje tratamos como lixo pode virar matéria-prima”, alerta Clarissa Damiani.
Empresários e população precisam comprar a ideia
Clarissa Damiani explica que a redução da produção de resíduos e a utilização econômica dos mesmos, aliada ao desenvolvimento de tecnologias para minimizar as perdas nos processos produtivos, pode contribuir de forma significativa para a economia do país e diminuição dos impactos ambientais. No entanto, ela lembra que, para isso, empresários e população precisam comprar a ideia. “O empresário brasileiro ainda não tem a cultura de procurar produtos na universidade”, lamenta.
As pesquisas coordenadas por Clarissa Damiani já renderam vários trabalhos de iniciação científica, apresentações em congressos e dissertações de mestrado. No entanto, a professora sonha em conseguir mais resultados práticos. “Nós publicamos, mas, infelizmente, os resultados se restringem à teoria. Acredito que, como pesquisadora, tenho a missão de levar a sociedade algo que faça a diferença”, afirma.
Ano Internacional da Luz
Clarissa Damiani espera plantar uma semente para mudar a cultura da população, começando pelos alunos que, no futuro, vão trabalhar nas indústrias. “Há a cultura do desperdício. É preciso mudá-la”.
A professora também tem planos de divulgar os novos produtos desenvolvidos na Escola de Agronomia para as donas de casa. Segundo ela, muita coisa pode ser feita em uma cozinha comum, usando a criatividade. “Às vezes, a pessoa não dispõe da tecnologia que temos na universidade, mas dá para usar o liquidificador como triturador ou o forno convencional para secagem, obtendo produtos advindos de cascas e sementes com qualidade higiênico-sanitária e nutricional adequadas”, exemplifica.
Produtos derivados da jabuticaba agora duram mais tempo
Um dos projetos com aplicabilidade prática foi realizado na cidade de Hidrolândia, famosa por sua produção de jabuticaba. A fruta é perecível e, depois de colhida, possui vida útil de apenas três dias. Quando industrializada, a casca e a semente não eram utilizadas, o que gerava perda de 50% do fruto. Aproveitando o que era descartável, a professora, juntamente com alunos de graduação e pós-graduação, desenvolveram casca cristalizada e em passas, produtos que preservaram os antioxidantes da casca in natura, rica em fibras. O trabalho resultou, ainda, no projeto de extensão “Difusão do Conhecimento para Padronização de Produtos Derivados da Jabuticaba”, uma parceria entre a UFG e as mulheres produtoras de jabuticaba de Hidrolândia.
RECEITAS PARA FAZER EM CASA
Compota de casca de melancia
Materiais e ingredientes: 1 litro de água; 750g de açúcar; cravo da índia a gosto; casca de melancia; boleador; 4 potes de vidro de 250 ml.
Em uma panela, colocar a água e o açúcar para ferver, durante 10 minutos. À parte, com ajuda de um boleador, fazer as bolinhas da parte branca da casca de melancia e colocar nos vidros já limpos e esterilizados (mergulhados em água fervente por 15 minutos e deixados esfriar em bancada limpa), juntamente com o cravo da índia. Em seguida, adicionar a calda quente, deixando um dedo de espaço vazio (ar) e colocar os vidros, somente com a tampa por cima (não fechar) para ferver em água por 10 minutos. A partir de então, fechar os vidros e deixar mais 10 minutos. Após esse tempo, retirar os vidros da água fervente, com cuidado, e deixar esfriar. Consumir após uma semana. Após aberto conservar em geladeira por ate 3 dias.
Doce de casca de abacaxi
Materiais e ingredientes: casca de 1 abacaxi; 1 lata de leite condensado; 1 pacotes de 100g de coco ralado sem açúcar; peneira; 1 colher de sopa de margarina; essência de baunilha a gosto; cravo em pó a gosto; forminhas para brigadeiro.
Em uma panela, cozinhar as cascas de abacaxi em 1 litro de água por 30 minutos. Em seguida, levar tudo ao liquidificador e bater por 5 minutos. Após esse tempo, utilizar a peneira e filtrar. O suco pode ser adoçado a gosto e colocado na geladeira para consumir em ate 3 horas. O resíduo que ficou na peneira será utilizado para fazer o doce. Levar as cascas de abacaxi cozidas para a panela, acrescentar o leite condensado, a margarina, 50g de coco ralado, cravo e essência de baunilha. Mexer até desgrudar do fundo da panela. Em seguida, retirar do fogo, deixar esfriar e fazer bolinhas que devem ser passadas no restante do coco ralado (50g) e colocado nas forminhas. Consumir em até 2 dias.
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Fonte: Ascom/UFG
Categorias: sustentabilidade resíduos de alimentos Escola de Agronomia Lixo