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Universidade Federal de Goiás
Carolina Horta

UFG coordena pesquisa global sobre Zika vírus

Em 06/07/16 16:53. Atualizada em 08/07/16 11:19.

Professora da Faculdade de Farmácia da UFG fala sobre projeto OpenZika, em parceria com o World Community Grid

Jornal UFG 80

 

Angélica Queiroz

O vírus Zika foi descoberto em 1947, mas quase ninguém havia ouvido falar dele até o surto que ocorreu no Brasil em 2015, o que fez com que poucas pesquisas fossem produzidas sobre a doença. O pânico aumentou quando começou a ser divulgada a possibilidade de associação da doença com casos de microcefalia em recém-nascidos de mães que tiveram contato com o vírus Zika na gravidez. O vírus está se espalhando rapidamente pelas Américas e já há uma preocupação da Organização Mundial de Saúde de que ele possa chegar também à Europa no próximo verão. Atualmente não existe nenhuma vacina para prevenir a infecção pelo vírus, nem qualquer medicamento antiviral conhecido para tratar pacientes que o contraíram. A UFG, em parceria com o World Community Grid, da IBM, e cientistas de vários países, lançou um estudo que poderá identificar possíveis medicamentos antivirais para combater o vírus Zika. O projeto OpenZika é coordenado pela professora da Faculdade de Farmácia da UFG, Carolina Horta, e possibilita que qualquer pessoa que possua um computador ou dispositivo móvel contribua com o processamento da pesquisa. O Jornal UFG conversou com a pesquisadora sobre as perspectivas desse projeto inovador.

 

Como surgiu essa ideia?

O laboratório onde trabalho, na Faculdade de Farmácia, o Laboratório de Planejamento de Fármacos e Modelagem Molecular (LabMol), tem como principal objetivo o planejamento e desenvolvimento de fármacos, que são os princípios ativos dos medicamentos, principalmente para o tratamento das chamadas doenças negligenciadas. No ano passado, estive em um congresso nos Estados Unidos e conheci Sean Ekins, um pesquisador que tem vasta experiência na indústria farmacêutica e estava trabalhando com a pesquisa de novos fármacos para o vírus Ebola. Conversei com ele sobre a minha vontade de encontrar novos fármacos para tratar a Dengue, que é uma doença endêmica no Brasil e que não temos opção terapêutica de tratamento para pacientes infectados. Em 2015, iniciamos essa pesquisa e, quando a crise global de Zika estourou no Brasil, a ampliamos para buscar novos antivirais contra o vírus Zika, já que o vírus da Dengue e o vírus Zika são da mesma família, primos muito parecidos. A partir daí, o Sean Ekins me apresentou a Alexander Perryman e ambos me apresentaram a World Community Grid, iniciativa filantrópica da IBM, que fornece capacidades massivas em supercomputação, por meio de uma rede de mais de três milhões de computadores e aparelhos móveis dos voluntários.

 

De que forma a parceria entre a UFG e o IBM contribui para essa pesquisa?

Esse projeto vai acelerar os estudos na busca de um novo medicamento antiviral para tratar pacientes que já estejam infectados com o vírus Zika. Normalmente são necessários entre 10 a 15 anos para que um novo medicamento chegue às farmácias, sendo um processo longo e dispendioso. Sem a rede de computadores, a parte da triagem demoraria pelo menos dois ou três anos. Com o World Community Grid, a expectativa é que consigamos reduzir essa etapa para, aproximadamente, seis meses.

 

Quais são as expectativas?

As nossas expectativas são grandes porque trata-se de ciência aberta. Então, a partir do momento que tivermos os resultados, eles serão disponibilizados na internet, possibilitando que qualquer pesquisador ou laboratório no mundo possa contribuir com o trabalho, acelerando seus resultados. A nossa pesquisa visa identificar uma substância que seja potencial como medicamento para o vírus Zika. Vamos utilizar estudos computacionais para buscar, como se fosse em um quebra-cabeças, uma substância química que consiga se encaixar nas proteínas-
chave do vírus Zika e possa interferir no funcionamento dele, bloqueando a sua entrada na célula. Posteriormente, selecionaremos as substâncias mais promissoras e passaremos para os ensaios tradicionais em laboratório, verificando a interação ou a possibilidade de essas substâncias matarem ou inibirem o crescimento do vírus Zika in vitro. Após essas etapas, essas substâncias irão para os estudos em animais de laboratório e, se alguma continuar sendo muito promissora, passa a ser candidata ao fármaco e vai para os estudos de fase clínica, com testes em humanos.

 

Essas substâncias estão cadastradas em um banco de dados?

O projeto irá rastrear compostos de bancos de dados já existentes com uma velocidade infinitamente maior do que em um laboratório tradicional, permitindo a avaliação computacional de mais de 20 milhões de compostos apenas na fase inicial e até 90 milhões de compostos em fases futuras. Assim poderemos fazer uma varredura de quais substâncias são potenciais para tratar o vírus Zika.

 

Como a população pode ajudar nessa pesquisa?

Qualquer pessoa que possua um computador ou um dispositivo móvel pode juntar-se ao projeto OpenZika. Não precisa ter nenhum conhecimento científico, não precisa investir dinheiro, não vai gastar seu tempo, é só instalar o aplicativo que ele faz tudo sozinho. Esse aplicativo, automaticamente, passa a realizar experimentos virtuais sempre que esses aparelhos estiverem inativos. Ele vai utilizar os recursos do seu computador ou celular para fazer os cálculos que precisamos para essas simulações computacionais na busca de um medicamento para o Zika.

 

Quais as principais preocupações com o vírus Zika?

O vírus Zika ficou praticamente desconhecido porque causa uma infecção que é assintomática em 80% dos casos e em quatro ou cinco dias o paciente já melhora. Porém, a grande questão desse surto atual, que começou no Brasil em maio de 2015, é a velocidade com que o vírus está se espalhando pelo mundo. Ele começou aqui no Brasil e em nove meses já estava presente em mais de 50 países, da América do Sul, Central e chegando na América do Norte. Essa velocidade é muito preocupante. Além disso, pesquisadores já demonstraram que essa linhagem de vírus que está aqui no Brasil é geneticamente diferente da linhagem original da África, é uma linhagem mais agressiva. Já foi confirmado experimentalmente também a relação do vírus com casos de má-formações genéticas em bebês e várias complicações neurológicas em adultos. A preocupação agora é com essa nova linhagem do vírus Zika, que veio muito mais agressivo e que não sabemos ainda o que vai causar a longo prazo. Enquanto não temos uma vacina para prevenir a infecção, precisamos acelerar a descoberta de uma medicamento para tratar quem já está infectado, estágio em que a vacina não é mais eficaz.

 

Colabore acessando o site do projeto 

Categorias: entrevista Edição 80