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Universidade Federal de Goiás
Jornal UFG 80

Metodologia inova formação em Medicina

Em 06/07/16 17:49. Atualizada em 08/07/16 10:24.

Integração dos conhecimentos e mais contato com a realidade do SUS estão entre as mudanças propostas

Jornal UFG 80

 

Renato Rodrigues e Kharen Stecca

Desde a publicação da Lei que institui o Programa Mais Médicos (nº 12.871, 22/10/2013), foram criados novos cursos de Medicina no país, dentre eles, na UFG, o da Regional Jataí e a previsão para a criação na Regional Catalão, que aguarda a publicação da autorização no Diário Oficial. Uma das condições para criação desses cursos é o uso de metodologias ativas. Já os cursos existentes têm um prazo até 2018 para se adequarem às novas diretrizes curriculares nacionais (DCNs) para os cursos de Medicina, de junho de 2014.

Um dos métodos utilizados, em especial na Regional Catalão onde o curso está ainda em fase de implantação, é o Aprendizado Baseado em Problemas (Problem-Based Learning – PBL), que trabalha com problemas propostos dentro dos temas ensinados. “A intenção é trabalhar o conhecimento de forma integrada”, afirma a Assessora da Reitoria e responsável pela implantação dos novos cursos de Medicina, Sandramara Matias Chaves. Os currículos disciplinares são substituídos pelos eixos temáticos ou módulos e a ideia é englobar outros conhecimentos, como Sociologia e Filosofia, na formação dos médicos, com o professor assumindo a postura de tutor.

Os próprios professores constroem no PBL casos clínicos baseados nos objetivos e conhecimentos previstos para cada período. “O futuro médico precisa entender o processo saúde/doença contextualizado, não apenas estudar a doença de forma isolada”, ressalta Sandramara Chaves. Na metodologia da problematização, as discussões são desenvolvidas a partir de casos reais vivenciados pelos estudantes nos cenários de prática. Esse também é outro diferencial previsto nas DCNs e favorecido pelas metodologias ativas: os estudantes começam a ter contato com a realidade da sua profissão desde o início do curso, na rede de atenção básica, vivenciando e aprendendo com a realidade do Sistema Único de Saúde (SUS).

Outra metodologia ativa que vem ganhando espaço nos cursos de Medicina é a Aprendizagem Baseada em Equipes (Team Based Learning - TBL), uma das metodologias utilizada no curso de Medicina da Regional Goiânia. Segundo a coordenadora do curso, Maria Auxiliadora Carmo Moreira, o curso coloca em prática a problematização com utilização de casos clínicos, mas o PBL é de mais difícil implantação em cursos antigos, porque direciona toda a organização curricular, o que exigiria uma reforma radical. Em Jataí, segundo o coordenador Ewerson Jacobini, o PBL e a tutoria também estão presentes, mas o currículo utiliza todas as formas de metodologias que promovem o aprendizado colaborativo (TBL).

No TBL o conhecimento é construído em grupos de aprendizagem, estimulando o desenvolvimento de diferentes habilidades requeridas do médico ao exercer a sua profissão e contribuindo para a formação do médico generalista, em acordo com o previsto nas novas diretrizes curriculares. O pressuposto é de que esse profissional não seja formado estritamente voltado para as questões biológicas, mas que sejam consideradas as diferentes dimensões que envolvem o processo saúde/doença, como as questões sociológicas, psicológicas, econômicas e sociais, que influenciam e muitas vezes determinam esse processo. Isso significa compreender o ser humano na sua totalidade, buscando uma visão mais coerente em relação as necessidades de saúde da população.

O Pró-reitor de Graduação da UFG, Luiz Mello, explica que o desafio atual é repensar a sala de aula não só na Medicina, mas em todos os cursos. “Tanto o professor quanto o estudante precisam mudar a perspectiva de que o conhecimento vem apenas do professor. O mundo mudou e o modelo de aula tradicional expositiva já não é mais possível. O professor é fundamental, mas outros sujeitos precisam entrar na formação do estudante”, afirma o Pró-reitor.

A principal intenção com a mudança é qualificar o médico para lidar com a realidade da rede pública de saúde, sem perder de vista a qualidade da formação. Os cursos já existentes devem se adequar até 2018, reformulando os seus projetos pedagógicos. Entre as mudanças, 30% da carga horária do internato médico será desenvolvida na rede de serviços básicos de atendimento do SUS e 70% envolve outras áreas da formação médica. O Programa Mais Médicos informa em sua página que 80% dos problemas de saúde do cidadão são solucionados na Saúde Básica, o que justifica o foco na formação.

 

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Vantagens e desvantagens

Segundo a coordenadora do curso de Medicina em Goiânia, Maria Auxiliadora Moreira, desde as mudanças curriculares de 2003, as metodologias ativas vêm sendo implantadas, mas ganharam mais ênfase nas modificações propostas a partir das Diretrizes de 2014. Segundo ela, a utilização do método apresenta inúmeras vantagens, que passam a ter uma participação ativa no processo ensino-aprendizagem. No entanto, a coordenadora ressalta que a demanda de trabalho do professor é muito maior. “Elaborar um seminário em TBL é bem mais complicado do que uma aula expositiva, o que gera um pouco de resistência por parte de alguns professores”, exemplifica. Para vencer essa dificuldade, desde o início da implementação das novas metodologias, os professores vem recebendo treinamentos em oficinas de capacitação, o que, segundo Maria Auxiliadora, os tem motivado, na medida em que passam a conhecer melhor o método.

O coordenador do curso na Regional Jataí, Ewerson Jacobini, também ressalta que houve problemas iniciais por desconhecimento das próprias metodologias. “A grande maioria dos professores foram graduados na metodologia antiga. Para solucionar a questão fazemos um intensivo trabalho de atualização e aprendizado dessas metodologias, com atores importantes nesse contexto, oriundos de outras universidades”. Ewerton Jacobini também aponta dificuldades para os alunos que, segundo ele, estranham a nova forma de aprendizagem, devido a maneira como chegam à graduação. “Tanto o Ensino Médio como o cursinho são ministrados em metodologias antigas, centradas no professor. De repente, os alunos são imbuídos a uma nova maneira de pensar e agir, trazendo grandes preocupações. Mas com o passar do tempo começam a perceber a diferença de serem os atores principais ao invés de apenas expectadores do conhecimento que determinado professor tem”, explica.

Na Regional Catalão o curso de Medicina ainda está com seu projeto pedagógico em fase de elaboração. O Chefe da Unidade Acadêmica Especial de Biotecnologia, a qual o curso será vinculado, Geraldo Sadoyama, ressalta que a comissão para implementação do curso, da qual ele é membro, é composta por docentes que têm experiência com metodologias ativas e profissionais médicos que realizaram o curso de graduação de Medicina dentro dessas metodologias. Segundo ele existem escolas médicas de renome internacional como Harward, Mac Master, New York University, Maastrich que já adotam, há algumas década,s as metodologias ativas de ensino. “Não se trata de algo experimental. mas de uma adequação ao novo perfil de aluno. O jovem desta geração é bastante crítico, pró-ativo, interativo e autodidata, então estamos também adequando a universidade às expectativas da geração da conectividade que o mundo globalizado exige e solicita”.

Categorias: Universidade Edição 80