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Universidade Federal de Goiás
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Uma casa para dias difíceis

Em 27/04/17 14:17. Atualizada em 05/05/17 11:19.

Estudantes projetam abrigo temporário com o objetivo de fornecer condições básicas a populações em situação de risco

Abrigo Pivô no deserto

 

Texto: Patrícia da Veiga | Imagens: Divulgação | Foto: Carlos Siqueira

Ocupação urbana desordenada, desigualdade social, disputas por terra, catástrofes ambientais, territórios destruídos por guerras, acidentes industriais: muitos são os fatores que produzem desabrigados e desalojados em todo o mundo. Conforme as Nações Unidas, em 2013, quando do último relatório do Alto Comissariado para os Refugiados (UNHCR), essa era a condição de mais de 50 milhões de pessoas que habitam o planeta. Sensibilizadas, cinco estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Goiás (UFG) criaram uma solução: o Abrigo Pivô, estrutura temporária, de fácil montagem e que pode ser adaptada a qualquer situação de risco.

A ideia foi desenvolvida por Laura Carvalho Santana, Lorena Passos Silva, Priscilla Freire da Silva, Sarah Domingos Batista e Talita Vianna de Assis, em 2016, quando cursaram a disciplina Projeto II, dedicada a construções funcionais e ergonômicas. Na ocasião, elas partiram de uma investigação sobre como vivem as pessoas que perdem suas casas. A conclusão, segundo as estudantes, foi triste. “A situação, na maioria das vezes, é deplorável. São raros os abrigos em que há garantia de dignidade”, definiu Sarah. Sob a orientação dos professores Christine Ramos Mahler e Bráulio Vinicius Ferreira, elas foram desafiadas, então, a desenvolver uma proposta humanizada e, ao mesmo tempo, transportável, confortável, de fácil montagem/desmontagem, estável e constituída por materiais acessíveis quanto ao custo e à disponibilidade.

 

Abrigo Pivô foi projetado por estudantes de Arquitetura e Urbanismo 

Abrigo Pivô foi projetado por estudantes de Arquitetura e Urbanismo

 

O resultado foi um projeto em estilo “vernacular industrializado”, termo definido pelas estudantes para representar a união entre o acolhimento de uma casa de alpendre e a praticidade da montagem em larga escala. Desta forma, os possíveis moradores do Abrigo Pivô teriam facilidade para erguer suas moradias, poderiam adaptá-la às suas necessidades e ainda contariam com uma área externa de integração e descanso, para estender um varal de roupas ou armar uma rede de balanço. “Se as famílias também quiserem, podem construir um cômodo a mais ou dividir a casa de forma diferente”, explicou Talita.

A estrutura do Abrigo Pivô usa placas de fibra de madeira (MDF) que recebem cortes estratégicos para mais de uma opção de encaixe. Essas placas se tornam paredes, colunas e também móveis como mesas, bancos e camas. Janelas e portas têm formato pivotante, se movimentam em posicionamento vertical e com uma única folha conseguem garantir ventilação ao ambiente. Uma lona usada para cobrir a parte superior da casa, juntamente com calhas galvanizadas, contribuiria ainda para a captação da água da chuva, que seria direcionada a um esquema de armazenamento sustentável.

 

modulo basico


As estudantes também pensaram na necessidade dessas moradias temporárias contarem com práticas coletivas. Foram projetadas, assim, plantas referentes a um banheiro coletivo com pias, sanitários e chuveiros; uma escola com capacidade para 24 pessoas; um posto de saúde dividido em quatro consultórios; e um refeitório contendo quatro mesas retangulares de 12 lugares cada.

Um módulo básico do Abrigo Pivô custaria algo em torno de R$ 7 mil e, para adaptar as peças de MDF à função de encaixe, dependeria de uma máquina de corte CNC (Comando Numérico de Controle) no valor aproximado de R$ 10 mil. Tais valores são considerados baixos se comparados ao que se gasta em uma construção convencional. Para as estudantes, o ideal seria que instituições públicas ou privadas fossem responsáveis por esse custo e não os próprios desabrigados. “Temos todos os moldes prontos. Se alguém precisasse do Abrigo Pivô na China, por exemplo, bastaria imprimir o projeto e cortar as placas”, acrescentou Laura.

 

 

modulo refeitóriomodulo educacionalmodulo saúde

 

Menção honrosa

O trabalho conquistou menção honrosa em um prêmio realizado pelo Portal projetar.org, especializado em expor e avaliar trabalhos de estudantes de Arquitetura e Urbanismo. O concurso n° 018 foi exclusivo para abrigos de emergência. Cerca de 150 projetos foram inscritos. Para a professora Christine, é cada vez mais necessário o envolvimento de pesquisadores e profissionais de Arquitetura e Urbanismo e Design de Ambientes com esse tipo de empreendimento. “Abrigos temporários têm sido necessários em função das catástrofes ambientais, cada vez mais recorrentes, como o caso do distrito de Mariana (MG), que em 2015 foi devastado pela lama de rejeitos produzidos pela mineradora. Além disso, problemas sócio-políticos também ocasionam necessidade de fornecer habitação temporária a determinadas comunidades, como é o caso recente da alocação de refugiados em países europeus, em especial na Alemanha”, explicou.

Categorias: pesquisa edição 87 abrigo