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Universidade Federal de Goiás
Sapo bola (Foto: Sanjay Veiga)

Estudo da UFG analisa propriedade adesiva de secreção do sapo bola

Em 26/04/22 12:23. Atualizada em 26/04/22 12:49.

Trabalho realizado em parceria com Butantan foi divulgado pela revista iScience

Carolina Melo

Foto de capa: Sanjay Veiga

As secreções dos anuros, ordem de animais que incluem os sapos, as rãs e as pererecas, geralmente são associadas à respiração cutânea ou à proteção contra predadores. Mas, uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), em parceria com o Instituto Butantan, com a Universidade São Francisco (USF), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e com a Universidade Estadual Paulista (Unesp), analisou a propriedade bioquímica da secreção liberada pela espécie do Cerrado Dermatonotus muelleri (conhecido como sapo bola ou sapo dominó) durante o seu período de reprodução, que se limita a poucos dias no ano. A capacidade dos machos literalmente colarem as fêmeas durante os eventos reprodutivos só é possível a partir da liberação de uma secreção adesiva, identificada e analisada pelo estudo, que foi divulgado pela revista internacional iScience.

Sapo bola

O diferencial da pesquisa realizada pelo Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG foi a sua abordagem integrativa, que associou os resultados bioquímicos com o comportamento do animal e sua história natural e permitiu resultados mais detalhados sobre a função e a propriedade da secreção. Assim como explica o professor e pesquisador, Fausto Nomura, as espécimes foram coletadas durante os eventos raros de reprodução, chamada de “reprodução explosiva”, o que permitiu fazer a diferenciação entre a secreção produzida por machos e fêmeas, em termos de proteínas presentes e de expressão. “Alguns tipos de proteínas estão presentes somente na secreção de machos e pelo menos um tipo somente na das fêmeas. Como esperado, existe uma grande variedade de proteínas com função no processo de ligação (como proteínas adesivas, caderina, desmocolina) e de lubrificação (mucina), mas também foram identificadas proteínas com propriedades de regulação sexual, o que sugere que a atividade dessas glândulas é controlada pelo ciclo reprodutivo”.

Assim como foi identificado pelo estudo, a variação na disposição das glândulas adesivas não é uniforme entre as espécies e “parece relacionada à variação morfológica”. “Como as diferentes espécies têm formatos de corpos distintos, as glândulas adesivas estão posicionadas de forma a aumentar a eficiência de adesão entre os machos e as fêmeas”, explica Fausto Nomura. O comportamento da espécie também ajudou a entender a distribuição das glândulas. “Os machos, durante o amplexo ou abraço nupcial, utilizam suas pernas para ‘abraçar’ os ovos assim que são liberados pela fêmea. Esse comportamento não seria possível se o macho não estivesse colado na fêmea tanto pela parte anterior quanto posterior do corpo”. 

Potencial para produção de “biocola”

Não são novas as investigações que avaliam secreções adesivas produzidas por animais com potenciais para a produção de “biocolas”, inclusive direcionadas ao ambiente médico. Entretanto, assim como destaca o professor da UFG, Fausto Nomura, “a existência de uma espécie candidata no Cerrado, por si só, já chama a atenção para o desperdício de potencial econômico e de desenvolvimento tecnológico que a sociedade promove quando se enxerga áreas naturais somente do ponto de vista agrícola”. Apesar de reconhecer a importância das atividades agrícolas, o professor chama a atenção para o desmatamento das áreas naturais do bioma, com a expansão da fronteira agrícola, e a consequente perda de “diversas outras riquezas potencialmente econômicas” geradas pela biodiversidade. “Abdicar dessas oportunidades sem nem saber quais são, não é uma estratégia inteligente para uma sociedade”, afirma.

Em relação ao potencial de produção da “biocola”, um aspecto interessante da espécie de anuro D. muelleri é que a sua secreção adesiva também apresenta “moléculas proteolíticas que poderiam funcionar como uma anti-cola”, explica o professor. “Isso permitiria uma maior precisão dos procedimentos cirúrgicos, por exemplo, uma vez que seria possível corrigir reparos mesmo depois que os tecidos estiverem aderidos”. Entretanto, o professor Fausto Nomura é cauteloso em relação a sua efetiva aplicação. “Há um longo caminho entre o potencial de uma substância e o seu desenvolvimento para uma aplicação prática, que requer tempo de estudo e investimento”, lembra.

Fonte: Secom UFG

Categorias: Ciências Naturais destaque ICB